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Discussão ao celular

junho 16, 2017

Teresinha já estava estressada quando pegou o celular para escrever no grupo de mensagens do trabalho:

– Pessoal, não aguento mais este chefe. Quase pedi demissão hoje. Ele nem liga para nós.

Pedro entrou na conversa e respondeu:

– Relaxa, Teresinha, ele é assim mesmo.

– É sempre a mesma coisa – retrucou a funcionária –, ele passa o dia todo sem fazer nada. No final do dia, na hora de ir embora, é que ele nos chama para nos dar um monte de tarefas.

Percebendo a indignação da colega, Pedro começa um diálogo no intuito de amenizar não só os ânimos dela como também dos outros amigos da empresa.

Depois de ambos teclarem muitas vezes no celular e quando tudo aparentava estar apaziguado, Juarez lança a seguinte pérola no grupo:

– Tem gente que adora um show, mas não sai da sala do chefe…

Pronto. A confusão estava instalada.

Juca entra em defesa de Teresinha. Juarez refuta. Pedro critica Juarez. Anália defende o amigo. Marcos decide ser o moderador. Patrícia diz que ele não tem moral para isso. Lúcio sai do grupo. Miguel diz que não aguenta mais. Sofia publica uma foto ofensiva. Carlos diz que Amélia é igual à Teresinha… O palavrório só termina quando o chefe manda chamar todo mundo no auditório.

– Pessoal, assim não dá. Desse jeito a nossa empresa não vai para frente. Foi só eu sair de minha sala para tomar um cafezinho e vejo todo mundo grudado no celular!

 *     *     *

Embora tenhamos atingido um nível de desenvolvimento tecnológico notável no decorrer de séculos, capaz de resolver intelectualmente problemas cada vez mais complexos em todos os campos da sociedade, ainda perdemos muito tempo com questões simples que poderiam ser resolvidas por meio da observância da conduta moral.

Benevolência, indulgência e perdão sintetizam o verdadeiro sentido da caridade conforme resposta dada pelos Espíritos a Allan Kardec na questão 886 de O Livro dos Espíritos (1). Três palavras que representam um dos mais sublimes ensinamentos que Deus deu ao mundo (2) e que devemos buscar aplicar em todas as situações de nossa vida. Não só nos momentos em que nos voltamos ao trabalho do bem, de maneira deliberada. Mas também, nas pequenas situações em que nosso amor aos irmãos é colocado à prova, sem nos darmos conta.

Uma pequena conversa, um simples gesto, um olhar, um ato de gentileza, um abraço sincero podem ser suficientes para esclarecer, levar conforto, esperança e amor àqueles que cruzam o nosso caminho em momentos de dificuldade. Mas nem sempre estamos presentes.

Hoje, os diversos recursos tecnológicos de que dispomos concedem uma nova dimensão aos processos de comunicação. A distância não é mais um impeditivo para ver ou falar com alguém com extrema rapidez e facilidade. Mas o que parece nos facilitar, em verdade, deve ser motivo para uma maior vigilância de nossa parte.

Longe do contato visual, circunscritos pelos nossos problemas e atados às paixões egoísticas sustentadas nas manifestações defensivas do ego, muitos de nós ainda declinamos ao ímpeto de reagir, criticar, atacar sem a necessária prudência no uso das palavras. Assim, criam-se contentas desagradáveis onde o exercício da caridade em sua expressão mais simples cai no esquecimento.  

Independente de onde e como estivermos, busquemos evitar discursões gratuitas, a crítica, exaltar defeitos alheios; procuremos respeitar a opinião dos irmãos, desculpar sinceramente, trabalhar pelo bem de todos, servir, ser alegre, justo e agradecido, sem impor o nosso ponto de vista; lembrando sempre de que o mundo não foi feito apenas para nós. A observância destes Princípios Redentores, apresentados pelo Espírito André Luiz no livro Agenda Cristã já nos levará a um caminho edificante na prática da caridade e ao nosso próprio aprimoramento moral. (3)

Voltando a discussão ao celular, se nossas colocações não forem uteis e construtivas ao próximo, guardemos no silêncio das palavras a sabedoria de ouvir.

Márcio Martins da Silva Costa.

Referências:
(1) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Questão 886;
(2) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XI – Amar ao próximo como a si mesmo, item 14;
(3) Luiz, André (Espírito). Agenda Cristã, psicografado por Francisco Cândido Xavier. Cap. 2 – Princípios Redentores.

Márcio Costa
Márcio Costa

Membro do Conselho Editorial da Agenda Espírita Brasil e colaborador do Centro Espírita Seara de Luz, em São José dos Campos - SP, atua na divulgação da Doutrina Espírita escrevendo textos e realizando palestras.

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