A Dor é Inevitável, o Sofrimento é Opcional

Fernando Rossit
10/07/2017
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Uma amiga deu um depoimento muito elucidativo de como a dor e o sofrimento são coisas bem diferentes.

Relatou que por ocasião do Plano Real (1994), ela e o marido possuíam uma construtora. Os negócios estavam indo de vento em popa e, da noite para o dia, eles perderam tudo e ficaram devendo milhares de reais para fornecedores e funcionários. A empresa quebrou.

Eles tinham duas opções: se desesperarem, se revoltarem ou encararem o problema de frente e buscarem a melhor solução.

Optaram por aproveitar a dor e transformá-la em ferramenta de crescimento. Passaram por inúmeras dificuldades, privações, mas não se desesperaram. Reuniram forças e deram a volta por cima.

Uma porta se fecha, muitas outras se abrem. Vida é oportunidade.

Uma outra amiga me revelou que tem dois irmãos separados.

O primeiro, seis meses após a separação, conseguiu se reerguer e voltou a ser o que era antes. Deu a volta por cima.

O outro, diante da dor da separação, optou pelo sofrimento e após 17 anos do ocorrido ainda se encontra deprimido.

A pior das mortes é o que morre dentro de nós enquanto vivemos. Tornou-se um morto vivo, um autômato, um zumbi. Morreu por dentro, não sente mais vontade de viver e aguarda o fim “definitivo”.

Imagine um casal que se separou depois de alguns anos juntos. Imagine que um deles sente uma dor terrível no início. É normal? Sim, a dor da separação é natural, é esperada. A dor, vem e vai, ela tem um movimento fluido, ela passa.  Depois de alguns anos, se essa “dor” ainda persiste, na verdade não é mais dor, é “sofrimento”, ou seja, uma dor “arrastada”.

Conheci um casal que perdeu um filho num acidente. Até hoje não se recuperaram. Sofrem dia e noite, num tormento sem fim. Revoltaram-se, não aceitam a perda e se colocaram na condição de vítimas da vida.

Outro casal que passou pela mesma perda decidiu ajudar crianças órfãs e pobres. Encontraram na renovação espiritual o suporte para viver com alegria.

As perdas, todas elas, umas mais outras menos, costumam nos trazer grandes sofrimentos, mas não irremediáveis.

Dor e sofrimento são coisas diferentes.

A dor faz parte da vida, não há como evitá-la. O sofrimento, não. O sofrimento pode ser diminuído e até evitado. Vai depender de nós.

Existem maneiras de atenuarmos e evitarmos o sofrimento, trabalhando com nossos pensamentos e emoções.

O sofrimento é como se fosse uma dor crônica, não tratada, não cuidada, negligenciada.

A dor física anuncia que algo em nós não vai bem e precisa ser tratado.

A dor não é castigo: é contingência inerente à vida, cuja atuação enobrece o espírito.

A simples reflexão sobre a dor e o sofrimento basta para evidenciar que eles têm uma razão de ser muito profunda:

“A dor é um alerta da natureza, que anuncia algum mal que está nos atingindo e que precisamos enfrentar. Se não fosse a dor sucumbiríamos a muitas doenças sem sequer nos dar conta do perigo.”

“O sofrimento é inerente ao estado de imperfeição, mas atenua-se com o progresso e desaparece quando o Espírito vence a matéria”. “O sofrimento é um meio poderoso de educação para as Almas, pois desenvolve a sensibilidade, que já é, por si mesma, um acréscimo de vida”.

“O sofrimento é o misterioso operário que trabalha nas profundezas de nossa alma, e trabalha por nossa elevação”. “Em todo o universo o sofrimento é sobretudo um meio educativo e purificador”. “O primeiro juiz enviado por Deus é o sofrimento, que procura despertar a consciência adormecida”. “É apelo à ascensão. Sem ele seria difícil acordar a consciência para a realidade superior. Aguilhão benéfico, o sofrimento evita-nos a precipitação nos despenhadeiros do mal, auxilia-nos a prosseguir entre as margens do caminho, mantendo-nos a correção necessária ao êxito do plano redentor”. (Equipe FEB, 1995)

Allan Kardec, no cap. VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz-nos que todos os sofrimentos, misérias, decepções, dores físicas, perda de entes queridos encontram sua consolação na fé no futuro, na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Naquele que não crê na vida futura as aflições se abatem com todo o seu peso, e nenhuma esperança vem suavizar-lhe a amargura. O jugo será leve desde que obedeçamos à lei. Mas, que lei? A lei áurea deixada por Jesus: “Fazer aos outros o que gostaríamos que nos fosse feito”. Praticando-a, vamos atualizando as nossas potencialidades de justiça, amor e caridade, primeiramente com relação a Deus e, secundariamente, com relação a nós mesmos e ao nosso próximo.

Fernando Rossit

Referências:
(1) ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967/; e
(2) KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984/ IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo: Paulinas, 1983/ EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995/ http://www.ceismael.com.br/ http://grazielabergamini.com.br.

Nota do Editor:
Imagem ilustrativa e em destaque do filme “a Vida é Bela” (Itália, 1997), disponível em <http://www.guiadelocio.com/a-fondo/10-padres-de-cine/guido-en-la-vida-es-bella-1997>.
Acesso em 10JUL2017.

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