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Sentindo o outro

fevereiro 22, 2018

Perto do centro espírita onde trabalhamos, há um mendigo desequilibrado que sempre perambula ali por perto e seguidamente os trabalhadores da casa o assistem, dentro das possibilidades. Ele é usuário de drogas, tem problemas mentais e foge do hospital onde faz tratamento e acaba nas ruas gritando e perturbando as pessoas. Mas, um dia destes, nos falaram que um transeunte estava sentindo-se mal e o nosso desequilibrado mendigo foi o primeiro a verificar o estado do homem, apiedar-se e oferecer-lhe sua ajuda. Muitos devem ter passado apressado sem nem olhar para o homem, mas a alma de alguém que entende bem o que é passar mal nas ruas tocou-se e foi socorrer do jeito que sabia.

A questão aqui é notar o outro. Colocar-se no lugar das pessoas. Sentir na nossa pele o que o outro está sentindo e ajudá-lo como pudermos.

Estamos aqui neste planeta aprendendo a ter sentimentos bons, para isso, precisamos notar as pessoas, estar presente de corpo e alma quando entramos em contato com alguém. Não será estando sempre imersos em nós mesmos que iremos notar a dor do outro. Hoje, basta andar na rua e observar como as pessoas andam sem nem notar umas as outras, como se fossem robôs com um objetivo a atingir, com viseiras psicológicas, não prestando a atenção a ninguém.

Não é à toa que a Espiritualidade Maior tem enviado emissários nos ensinando diferentes práticas de meditação.  São atividades que nos estimulam a focar a mente no presente, acessando Deus dentro de nós. O artista que pinta um quadro está focado somente na ação de criar, que faz suas mãos agirem e o tempo para, pois ele entregou-se totalmente àquela criação. Qualquer coisa que façamos com amor nos dá a impressão que o tempo para, porque nossa mente mistura-se com ação pura. É uma transmissão direta da alma.

O professor que ama o que faz, quando ministra sua aula o tempo para, então a sua aula passa muito rápido e os alunos ficam tristes quando termina. Vejamos o exemplo deste professor e diretor Diego Mahfouz da escola municipal Darcy Ribeiro de uma região carente de Rio Preto, que era conhecida pelo estado de abandono e depredação, onde os alunos eram extremamente indisciplinados e drogas eram vendidas na porta da escola. Ao chegar lá, ele escutou os apelos dos alunos e movimentando a  força criativa de sua alma, transformou a escola num modelo, onde não só a evasão escolar zerou, como os alunos hoje participam com gosto das aulas e das atividades, envolvendo toda a comunidade. Este professor está entre os dez finalistas do Global Teacher Prize, o mais importante prêmio educacional do mundo. Tudo porque não ficou indiferente, apiedou-se daqueles jovens e agiu com amor, dedicação e fé naqueles que para os olhos da sociedade eram perdidos. Sua luz transformou toda a comunidade ao redor.

O coração de Diego conquistou os alunos a muito custo, primeiramente foi muito hostilizado por eles, mas não deixou de acreditar, tratando-os com muito respeito e carinho.  Como disse o autor de O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry, somos responsáveis por quem cativamos, pois criamos laços de afeição. Diego abraçou de corpo e alma a escola, tomando conhecimento profundo da carência daqueles jovens e mudou tudo, o que nenhum outro diretor havia conseguido, porque O essencial é invisível aos olhos, só ao coração, mais uma verdade no livro de Antoine constatada em nossa vida real.

Quem enxerga o outro e apieda-se, escutou a voz de Deus dentro de si.

A piedade é o sentimento que mais faz os homens progredirem, pois ao dominar o orgulho e o egoísmo prepara a alma para ser humilde, fazer o bem e amar o próximo. A piedade faz com que vocês se comovam profundamente com o sofrimento alheio e estendam as mãos caridosas para auxiliar, enquanto derramam lágrimas de compaixão. Jamais escondam do coração essa emoção celeste; não façam como esses egoístas endurecidos que se afastam dos aflitos, porque a visão de suas misérias perturbaria por instantes a sua alegre existência. Tenham medo de ficar indiferentes quando puderem ser úteis. A tranquilidade conseguida com a indiferença, em relação à miséria alheia, é semelhante à tranquilidade do Mar Morto, que esconde, no fundo de suas águas, o lodo apodrecido e a corrupção. (Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 13:17, A Piedade)

Maria Lúcia Garbini Gonçalves

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque adaptada da disponível em <http://crocantinhassuperpoderosas.blogspot.com.br/2011/08/mendigo-de-rua-maltratado-em-sao-jose.html>. Acesso em: 22FEV2018.

Maria Lúcia Garbini Gonçalves
Maria Lúcia Garbini Gonçalves

Tradutora, mora em Porto Alegre/RS, estudante da Doutrina Espírita, trabalha no Grupo Espírita Francisco Xavier como médium.

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