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Desejos

março 28, 2018

A palavra desejo lembra vontade, que inclusive é uma de suas definições. É a vontade de possuir algo, de alcançar um objetivo, de ir ou estar em algum lugar, de desfrutar de algum benefício, posição, cargo, título ou até um apetite alimentar ou mesmo uma atração sexual. Digamos, em síntese, que se trata de uma aspiração humana. A própria conjugação do verbo indica: ter vontade, sentir desejo, dentre outras definições.

Entre o desejo e a conquista – seja do que for – há um espaço enorme que envolve providências, conveniências, precipitação, capacidade, utilidade, possibilidade e outros tantos desdobramentos que não são difíceis de imaginar ou elencar.

É quando entra a disciplina de um propósito sempre esquecido: a educação do desejo.

Afinal, como discipliná-lo correta e coerentemente? Como transformar esse sentimento de querer numa fonte de alegrias para si mesmo e para muitos? As situações são variadas, claras, individuais e coletivas.

A educação, por sua vez, mais que instrução que se adquire, está na moralização dos próprios hábitos e comportamentos, que redundam em polidez, fraternidade, moralidade e intenso esforço em melhorar a si mesmo e, simultaneamente, beneficiar aqueles que estão à nossa volta, em qualquer momento ou situação.

Exatamente pela ausência dessa educação do querer, que temos vivido o caos social da indisciplina e do desrespeito às mais elementares noções de civilidade e cidadania. Fruto, sem dúvida, da ausência de construção sólida desde a infância do querer educado. Tarefa dos educadores, mas não restrita a eles, pois que se inicia com os pais e amplia-se para os adultos em geral. Guardemos todos, o dever de transmitir às crianças os bons exemplos de civilidade, de desejos educados e disciplinados.

O desejo simplesmente liberado, sem refletir sobre consequências e desdobramentos, sem respeito à presença ou interesses alheios, tem sido um dos fatores de violência na vida social.

Se pensarmos bem, as agressões – inclusive as econômicas e sexuais – são resultantes dos desejos desenfreados, alheios ao respeito que devemos uns aos outros e mesmo à indiferença aos sentimentos de outras pessoas. É o desejo desordenado, comparável à direção de um veículo sem freios ou à montaria de um animal desesperado que não controla os caminhos que vai atravessando.

É mesmo o descontrole das emoções convertidas nos desejos, que aguarda a correção da educação. Isso lembra as paixões.

A paixão não é um mal em si mesma pois que da própria natureza humana. Mas, ela, a paixão, está no excesso acrescentado à vontade. E podemos acrescentar o abuso que dela se faz, a causa do mal.

Voltemos à questão do desejo educado. Afinal, as paixões são como um cavalo que é útil quando se está dominado, e que é perigoso quando ele é que domina. Reconhece-se pois, que uma paixão torna-se perniciosa a partir do momento em que não podemos governá-la e que ela tem por resultado um prejuízo qualquer para vós ou para outrem.

Podemos notar, com facilidade, a questão, pois, da vontade, do desejo e do controle sobre ele. Quando descontrolado torna-se um mal.

Uma paixão por uma invenção, por exemplo, dominada pela disciplina, pelos estudos e pesquisas, que elimina o fanatismo e nutre o ideal a que destina, é extraordinária no alcance do objetivo.

Por outro lado, o desejo descontrolado, por exemplo, de uma atração sexual e, portanto, sem domínio que gera o raciocínio, pode gerar traumas e tragédias, sofrimento e lágrimas.

É a educação do desejo! Saber desejar, direcionar a vontade.

A causa maior, contudo, da presença de um desejo descontrolado está, todavia, no egoísmo. Claro que a precipitação, o não amadurecimento, o não equilíbrio emocional apresentam-se como ingredientes de expressão, afinal do egoísmo deriva todo o mal. Sim, se pararmos mesmo para pensar num desejo descontrolado, em qualquer área, que gera sofrimentos, no fundo está o egoísmo do interesse pessoal. No fundo está o desrespeito para com o sentimento alheio.

Orson Peter Carrara

Orson Peter Carrara
Orson Peter Carrara

Expositor espírita, tem percorrido muitas cidades do Estado de São Paulo e já esteve na maioria dos estados do país, por várias vezes, para tarefas de divulgação espírita. Articulista da imprensa espírita, tem colaborado com diversos órgãos da imprensa espírita, entre revistas, sites e jornais do país, além de boletins regionais, no país e no exterior. Autor de treze livros, seus textos caracterizam-se pela objetividade e linguagem acessível a qualquer leitor, estando disponibilizados em vários sites de divulgação espírita.

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