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O que as pessoas não gostam de ouvir quando um afeto morre?

junho 19, 2018

Faz algum tempo que trabalho no tema referente a morte de entes queridos e como podemos ou devemos lidar com esta “perda”. Embora o espírita saiba que a vida prossegue além túmulo, impossível não ficar triste com a perda da convivência com o ente que se foi e a preocupação com o seu estado de ânimo do outro lado da vida, se estará bem, tranquilo, em paz. Tentar ocultar esta ideia da tristeza é, ao menos, em meu entendimento, um grave equívoco. A fé na imortalidade da alma não elimina a tristeza pela partida de nosso afeto. Esta fé, ou melhor, esta certeza na sobrevivência da alma ameniza a dor, mas, jamais a elimina.

Tive, inclusive, a oportunidade de escrever uma obra – Pérolas Devolvidas, publicada pela Editora CEAC, 2015 – no tocante a este delicado assunto.

Desde então prossigo trabalhando na temática.

Um dia desses pedi para que os amigos da rede social escrevessem o que não gostariam de ouvir quando um ente querido partisse para o outro lado da vida. Cinquenta e oito amigos deixaram suas visões acerca do que não gostariam de ouvir quando um ente querido partisse e, a partir de seus comentários pude colher algumas interessantes informações que, agora, compartilho.

Frases feitas, de efeito, tais como – Ele descansou! Virou uma estrelinha! Está melhor do que nós! – quase que 100% dos que responderam desaprovam. Uma parcela de 14% informou que se sente bem apenas com um abraço, sem necessidade de palavras. Uma palavra que soa mal, ao menos para os que responderam, é – “pêsames” – cerca de 10% disseram que não apreciam ouvir esta palavra.

Eu jamais imaginara que receber “meus pêsames” poderia causar algum mal estar. Algumas pessoas disseram que a palavra não tem uma sonoridade bacana.

Um outro ponto importante registrado é o do julgamento em face de pertencer a esta ou aquela religião. Observei que as pessoas necessitam sofrer e chorar, vivenciar aquele momento de tristeza de forma plena, sem terem de passar por comentários inquisidores do tipo: Você é espírita, sabe que ninguém morre, portanto, nada de choro. Outro comentário na mesma linha é: Seja forte!

Aliás, esses julgamentos merecem um capítulo à parte. É de uma enorme crueldade alguém tentar impedir que o outro “curta” sua tristeza e vivencie seu luto. Evocar a religião, no caso aqui o Espiritismo, é colocar o espírita como uma máquina que não pode sentir, chorar, estristecer-se. Frases assim mostram um total desconhecimento do próprio Espiritismo.

Parece-me que, em casos de partida de entes queridos, o mais interessante e que produz resultados mais eficazes é o velho abraço e a simples presença física. Ambos são acolhedores, falam de alma para alma.

Conselhos e frases prontas são dispensáveis e causam mais desconforto e constrangimento em quem passa pelo delicado momento da partida do ente amado. Mais prudente evitá-los a fim de não cometer as chamadas “gafes”.

Fica o registro, de modo a oferecer-nos uma pálida visão de como poderemos agir diante de um momento solene e delicado como o da partida de afetos de nossos afetos.

Wellington Balbo

Wellington Balbo
Wellington Balbo

Professor universitário, Bacharel em Administração de Empresas e licenciado em Matemática, Escritor e Palestrante Espírita com seis livros publicados: Lições da História Humana; Reflexões sobre o mundo contemporâneo; Espiritismo atual e educador; Memórias do Holocausto (participação especial); Arena de Conflitos (em parceria com Orson Peter Carrara); Quem semeia ventos... (em parceria com Arlindo Rodrigues).

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