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A caridade da língua

dezembro 1, 2018

De uma mesma boca procede bênção e maldição
“(…) Se não tiver caridade, nada sou…” Paulo (I Cor., 13:2)

Escrevendo aos tessalonicenses¹, Paulo, o nobre apóstolo dos Gentios deixou claro que àquela altura dos acontecimentos e da compreensão que todos já possuíam das instruções neotestamentárias, não haveria mais necessidade de alertá-los “quanto à caridade fraternal que deveria vigorar entre eles, visto que já estavam instruídos por Deus que deveriam amar-se uns aos outros”. Na rubrica “caridade fraternal” inclui-se também a caridade da língua. Sobre isso escreveu o apóstolo Tiago² :

“todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo. Ora, nós pomos freio na boca dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo. Vede também as naus que, sendo tão grandes, e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade daquele que as governa. Assim também a língua é um pequeno membro, e gloria-se de grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia. A língua também é um fogo; como mundo de iniquidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da Natureza, e é inflamada pelo inferno. Com a língua bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens. De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim. Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa?”.

Kardec nos oferece um exemplo da caridade da língua³ :

“(…) havia umas irmãs que se encontravam, desde alguns anos, vítimas de depredações muito desagradáveis: suas roupas eram, incessantemente, espalhadas por todos os cantos da casa e até pelos telhados, cortadas, rasgadas e crivadas de buracos, por mais cuidado que tivessem em guardá-las. A primeira ideia que lhes veio foi, naturalmente, a de que estavam às voltas com brincalhões de mau gosto. Porém, a persistência e as precauções que tomavam lhes tiraram essa ideia. Só muito tempo depois, por algumas indicações, acharam que deviam procurar-nos, para saberem a causa de tais depredações e lhes darem remédio, se fosse possível. Sobre a causa não havia dúvida; o remédio era mais difícil. O Espírito que se manifestava por semelhantes atos era evidentemente malfazejo. Evocado, mostrou-se de grande perversidade e inacessível a qualquer sentimento bom. A prece, no entanto, pareceu exercer sobre ele uma influência salutar. Mas, após algum tempo de interrupção, recomeçaram as depredações”.

Eis o conselho que a propósito nos deu um Espírito superior:

“(…) o que essas senhoras têm de melhor a fazer é descer ao fundo de suas consciências, para se confessarem a si mesmas e verificarem se sempre praticaram o amor do próximo e a caridade. Não falo da caridade que consiste em dar e distribuir, mas da caridade da língua; pois, infelizmente, elas não sabem conter as suas e não demonstram, por atos de piedade, o desejo que têm de se livrarem daquele que as atormenta. Gostam muito de maldizer do próximo e o Espírito que as obsidia toma sua desforra, porquanto, em vida, foi para elas um burro de carga. Pesquisem na memória e logo descobrirão quem ele é. Entretanto, se conseguirem melhorar-se, seus anjos guardiães se aproximarão e a simples presença deles bastará para afastar o mau Espírito, que não se agarrou a uma delas em particular, senão porque o seu anjo guardião teve que se afastar, por efeito de atos repreensíveis, ou maus pensamentos. O que precisam é fazer preces fervorosas pelos que sofrem, principalmente, praticar as virtudes impostas por Deus a cada um, de acordo com a sua condição”.

Como ponderássemos que essas palavras pareciam um tanto severas e que talvez fosse conveniente adoçá-las, para serem transmitidas, o Espírito acrescentou: “deves dizer o que digo e como digo, porque as pessoas de quem se trata têm o hábito de supor que nenhum mal fazem com a língua, quando o fazem muitíssimo. Por isso, preciso é ferir-lhes o Espírito, de maneira que lhes sirva de advertência séria”.

Ressalta do que fica dito um ensinamento de grande alcance: que as imperfeições morais dão azo à ação dos Espíritos obsessores e que o mais seguro meio de a pessoa se livrar deles é atrair os bons pela prática do bem.

Eis, para nosso proveito, uma importante carta de Paulo dirigida aos colossenses : “(…) revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E sobre tudo isso, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição”.

Rogério Coelho

Nota do Autor:
(1)Tessalonicenses, 4:9;
(2) 3:2 a 12;
(3) KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio: FEB, 2003, cap. XXIII, item 252 – 2ª parte;
(4) Colossences., 3:12 a 14.

Rogério Coelho
Rogério Coelho

Rogério Coelho nasceu na cidade de Manhuaçu, Zona da Mata do Estado de Minas Gerais onde reside atualmente. Filho de Custódio de Souza Coelho e Angelina Coelho. Formado em Jornalismo pela Faculdade de Minas da cidade de Muriaé – MG, é funcionário aposentado do Banco do Brasil. Converteu-se ao Espiritismo em outubro de 1978, marcando, desde então, sua presença em vários periódicos espíritas. Já realizou seminários e conferências em várias cidades brasileiras. Participou do Congresso Espírita Mundial em Portugal com a tese: “III Milênio, Finalmente a Fronteira”, e no II Congresso Espírita Espanhol em Madrid, com o trabalho: “Materialistas e Incrédulos, como Abordá-los?” Participou da fundação de várias casas Espíritas na Zona da Mata Mineira.

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