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A segunda milha

março 29, 2019

Seremos servos inúteis se fizermos só o que preceitua a obrigação

 “A abnegação traduz-se em todo trabalho
 que extrapola os limites dos deveres”.
– Emmanuel

 

Os povos dominados pelos romanos, ao tempo de Jesus, sofriam toda sorte de humilhações. Existia àquele tempo inúmeras leis injustas e parciais e, dentre essas, uma que obrigava toda e qualquer criatura dominada a colocar-se à disposição do cidadão romano que lhe requisitasse os préstimos, e, por força dessa “lei”, estavam obrigados a carregar um volume qualquer, desde que solicitados a isso, e deveriam fazê-lo por uma milha. Desnecessário comentar quanta irritação isso causava, além da humilhação…

Aí vem Jesus e diz (1): “e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas”.

Com tal assertiva, Jesus nos convida a desarmarmo-nos ante toda situação desagradável na vida de relação, expandindo a fronteira da boa vontade terreno adentro da área da abnegação.

Os Espíritos Amigos falam sempre que quanto mais elevarmos nosso pensamento acima da craveira material, tanto menos nos magoarão as coisas da Terra, e vão mais longe afirmando: “se o homem cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo”.  

O que não se dirá do homem que, extrapolando a fronteira do simples e mero dever, avança – solícito –  nos ilimitados campos da abnegação?!

Precisamos meditar longa e profundamente nas seguintes palavras de Lucas, quando faz referência aos servos inúteis (2): “(…) assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos foi mandado, dizei: somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer”.

Não falece dúvida alguma de que Lucas está realçando a abnegação, isto é, fazer não apenas o que nos compete pela força do dever, mas, ir além deste.

Em se falando de abnegação, não podemos olvidar a meiga e frágil figura de Francisco Cândido Xavier, cuja vida desenrolou-se toda, perseverantemente, nos terrenos sáfaros e ásperos da abnegação.

Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce e D. Zilda Arns (para citar apenas três criaturas do nosso tempo além fronteiras da Doutrina Espírita), se trabalhassem apenas nos limites do âmbito do dever, poderiam ficar confortavelmente instaladas no isolamento do claustro, ou  no consultório, sem perigos de contaminações de toda espécie do mundo cá de fora. Entanto, a vida delas não é segredo para ninguém: transformaram-nas em um constante poema de amor ao próximo e a Jesus.

Frei Damião, esse Espírito de escol, já poderia ter-se aposentado há anos, no entanto, após uma hospitalização por causa de uma afonia que seu defeito físico agravava, tão logo recuperou um fiapinho da fala, já estava trabalhando nas suas atividades, junto aos demais enfermos e, com respiração entrecortada, e uma voz quase sumida, dizia a todo o momento: “louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo”.

É comovente a fibra dessas criaturas abnegadas! Eles estão muitíssimo acima da humanidade, não pensam em si próprios por já estarem curados da chaga do egoísmo: pensam primeiro nos outros, antes de pensar em si.

A abnegação que exala forte dos ensinamentos de Jesus, é a estrada florida e ao mesmo tempo dolorosa do sacrifício de si mesmo, cuja rota segura aponta para os altos Planos Maiores da Vida.

É por isso que o Espírito de Verdade nos aconselha a tomar por divisa estas duas palavras: devotamento e abnegação. Isto porque – segundo os Benfeitores Espirituais, essas duas palavras resumem todos os deveres que a Caridade e a Humildade impõem.

O sentimento do dever cumprido forrar-nos-á aos desfalecimentos porque os golpes desferidos pelas vicissitudes não nos farão descoroçoar.

Compreendamos, então, que ao invés de clamarmos contra nossas dores, contra as injustiças, contra os sofrimentos morais que neste mundo nos cabem de partilha, devemos, antes, ter na abnegação e no devotamento a prece contínua que será a alavanca de nossa alforria espiritual.

Rogério Coelho

Referências:
(1) Mateus 5:41; e
(2) Lucas 17:10.

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <http://centrobezerrademenezes.blogspot.com/2012/06/devotamento-e-abnegacao-meus-queridos.html>. Acesso em: 28MAR19.

Rogério Coelho
Rogério Coelho

Rogério Coelho nasceu na cidade de Manhuaçu, Zona da Mata do Estado de Minas Gerais onde reside atualmente. Filho de Custódio de Souza Coelho e Angelina Coelho. Formado em Jornalismo pela Faculdade de Minas da cidade de Muriaé – MG, é funcionário aposentado do Banco do Brasil. Converteu-se ao Espiritismo em outubro de 1978, marcando, desde então, sua presença em vários periódicos espíritas. Já realizou seminários e conferências em várias cidades brasileiras. Participou do Congresso Espírita Mundial em Portugal com a tese: “III Milênio, Finalmente a Fronteira”, e no II Congresso Espírita Espanhol em Madrid, com o trabalho: “Materialistas e Incrédulos, como Abordá-los?” Participou da fundação de várias casas Espíritas na Zona da Mata Mineira.

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