
Amizade e ingratidão
Há mais crucificadores do que solidários na via de redenção
“Se somente amardes os que vos amam, que mérito
se vos reconhecerá, uma vez que as pessoas de má
vida também amam os que as amam?”
– Jesus. (Lc., 6:32 e 36).
Nós, Espíritas, sabemos que pela destinação da Terra, devemos esperar topar aí com homens maus e perversos; que as maldades e espinhos morais com os quais nos defrontamos fazem parte do cortejo de vicissitudes que devemos enfrentar e vencer. São, sem dúvida, extremamente desagradáveis, mas, às vezes é o remédio amargo que proporciona a cura. Daí a consciência de que ripostar com ódio e rancor seria aviltamento que nos rebaixaria à estatura do ofensor. Afinal, não podemos nos queixar das provas e nem de quem lhes serve de instrumento, e sim, agradecer à mão que nos enseja a demonstração da paciência e resignação.
Examinemos a resposta dada à seguinte indagação feita por Kardec a um Espírito (1): “que se deve pensar dos que, recebendo a ingratidão em paga dos benefícios que fizeram, deixam de praticar o bem para não topar com os ingratos?”
Resposta: “nesses, há mais egoísmo do que caridade, visto que fazer o bem apenas para receber demonstrações de reconhecimento, é não o fazer com desinteresse, e o bem, feito desinteressadamente, é o único agradável a Deus. Há também o orgulho, porquanto os que assim procedem se comprazem na humildade com que o beneficiado lhe vem depor aos pés o testemunho do seu reconhecimento. Aquele que procura na Terra, recompensa ao bem que pratica não a receberá no Céu. Deus, portanto, terá em apreço aquele que não a busca no mundo.
Deveis sempre ajudar os fracos, embora sabendo de antemão que os a quem fizerdes o bem não vo-lo agradecerão. Ficai certos de que, se aquele a quem prestais um serviço o esquece, Deus o levará mais em conta do que se com a sua gratidão o beneficiado vo-lo houvesse pago. Se Deus permite por vezes sejais pagos com a ingratidão, é para experimentar a vossa perseverança em praticar o bem”.
Eis o conselho de Joanna de Ângelis para casos tais (2): “não te desalentes!… O mundo é impermanente. O afeto de hoje torna-se o adversário de amanhã. As mãos que perfumas e beijas, serão, talvez, as que te esbofetearão, carregadas de urze. Há mais crucificadores do que solidários na via de redenção…
Esquecem-se os homens do bem recebido, transformando-se em cobradores cruéis, sem possuírem qualquer crédito. Talvez o teu amigo te inveje a paz, a irrestrita confiança em Deus, e, por isso, quer perturbar-te.
Recorda que foi um amigo quem traiu e acusou Jesus; outro amigo negou-O três vezes consecutivas e os demais amigos fugiram d`Ele. Quase todos O abandonaram e O censuraram, tributando-Lhe a responsabilidade pelo medo e pelas dores que passaram a experimentar. Todavia, Ele não os censurou, não os abandonou e voltou a buscá-los, inspirá-los e conduzi-los de volta ao Reino de Deus, por amá-los em demasia.
Assim, não te permitas afligir, nem perturbar pelas acusações do teu amigo, que está enfermo e não sabe, porque a ingratidão, a impiedade e a indiferença são psicopatologias muito graves no organismo social e humano dos nossos dias”.
Todos esses argumentos são suficientemente fortes para nos fazer seguir à risca essas palavras de Jesus: “sede, pois, cheios de misericórdia, como cheio de misericórdia é o vosso Deus.”
Rogério Coelho
Referências:
(1) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. XIII, item 9.
(2) FRANCO, Divaldo. Momentos de Felicidade. Salvador: LEAL, 1991, cap. 6.
Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://www.ucg.org/beyond-today/blogs/this-is-the-way/ingratitude>. Acesso em: 04FEV2020.
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