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Um reino interior 

agosto 25, 2020

O jovem carpinteiro fundou um Reino. O maior e mais poderoso dos reinos, embora fosse pobre de valores materiais, pois aí está a diferença dos demais reinos. Todos sugerem acúmulo de bens. Este, porém, é um reino de valores interiores, protegidos contra todos os possíveis danos que possam destruí-lo. Quem o constrói dentro de si constrói para sempre. 

Apresentando-se na Sinagoga, perante seu povo, declarou Ter vindo em nome do Pai para anunciar e implantar o Reino de Deus no coração dos homens. Comparou este Reino ao grão de mostarda, ao fermento, a um tesouro escondido, a uma pérola, a uma rede para peixes e ao trigo que cresce no meio do joio… Seu Reino fundamenta-se em três alicerces: Deus, Amor e Justiça. Ora, se já compreendemos que Deus é Amor conforme ensinou o evangelista, vamos estudar seu desdobramento: amor e justiça. 

Em O Livro dos Espíritos, questão 875, pode-se buscar a definição de justiça – que deixo ao leitor pesquisar. Já em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XI e em seus desdobramentos e subtítulos, poderemos encontrar o que é o amor, seus efeitos, seu uso e sua prática. 

Para o estudioso mais atento, há comentários muito edificantes de Emmanuel em seus livros Caminho, Verdade e Vida (capítulo 107) e Vinha de Luz (capítulo 177) e ainda a resposta à questão 673 de O Livro dos Espíritos, embora não se refira ao assunto, traz comentário importante sobre esta postura para implantação do Reino de Deus nos corações. 

A questão toda, como apresenta Neio Lúcio no livro Jesus no Lar, capítulo 36, é que se cada um estivesse vigilante da própria tarefa, não colheriam as sombras do fracasso. O mais intricado problema do mundo é o de cada homem cuidar dos próprios negócios, sem intrometer-se nas atividades alheias. Enquanto cogitamos de responsabilidades que competem aos outros, as nossas viverão esquecidas. 

É que o Reino de Deus é uma construção interior, com valores reais das virtudes que precisam ser conquistadas a custo do esforço próprio. E isto exige coragem, determinação, perseverança. 

Desde já precisamos nos apressar em desligar o criticador e parar com os hábitos da achologia, onde muitos acham isto ou aquilo, mas consideram ser dever do outro fazer. Achamos, damos opiniões e palpites, mas deixamos de fazer o que nos compete. O Reino de Deus se inicia no coração do homem, com os valores da bondade e da fraternidade. Quando destruímos uma ideia ou temos uma postura pessimista, estamos criando o reino da descrença, da crítica e por aí afora. 

Para alcançar o Reino de Deus no coração, quatro condições são essenciais: a) libertação pelo auto-conhecimento; b) humildade para perceber nossas imperfeições; c) persistência no bem; d) crescimento espiritual. Todos conquistas do esforço próprio, que exigem no mínimo iniciativa que deve ser acompanhada pela perseverança. 

Em seu livro, Parábolas e Ensinos de Jesus, Cairbar Schutel comenta no capítulo “A palavra de vida eterna, que a imortalidade é a luz da vida; ela é a alma da nossa alma; a esperança da nossa fé; e a mãe do nosso amor. Sem imortalidade não pode haver alma, sem alma não há esperança, fé, amor; e sem esperança, fé e amor tudo desaparece de nossas vistas: família, sociedade, religião, Deus! 

A imortalidade é a base, o alicerce, a rocha viva… E recomenda: Urge, pois, que busquemos, primeiramente, a imortalidade, para crermos firmemente na palavra de Jesus. Urge que estudemos a imortalidade, que conversemos com a imortalidade, que ouçamos a imortalidade com seus substanciosos ensinos, a fim de, firmes e resolutos, orientarmos a nossa vida, regularmos os nossos atos na senda religiosa que nos foi traçada. 

Sem aprofundamento percebe-se com clareza os efeitos da incredulidade no mundo, ou até da ausência de interesse na busca de informações e estudos sobre a questão. Aí estão os difíceis quadros sociais a desafiar o homem. E mais interessante que este implantar do Reino dos Céus no coração, como propôs Jesus modifica o ambiente, as circunstâncias ao redor, favorecendo a todos com a harmonia e paz que lhe é próprio. 

A própria vivência interior deste Reino, ajuda a modificar o panorama exterior. Já imaginou o leitor quando cada habitante do planeta esforçar-se por esta vivência? Teremos o mundo modificado, como desejamos. 

Fácil? Não! Individualmente já é um grande desafio, imagine coletivamente falando, com a diversidade de estágios evolutivos que vivemos. Mas é a única alternativa para a construção da paz interior e social, que tanto almejamos. 

 

Orson Peter Carrara 

Orson Peter Carrara
Orson Peter Carrara

Expositor espírita, tem percorrido muitas cidades do Estado de São Paulo e já esteve na maioria dos estados do país, por várias vezes, para tarefas de divulgação espírita. Articulista da imprensa espírita, tem colaborado com diversos órgãos da imprensa espírita, entre revistas, sites e jornais do país, além de boletins regionais, no país e no exterior. Autor de treze livros, seus textos caracterizam-se pela objetividade e linguagem acessível a qualquer leitor, estando disponibilizados em vários sites de divulgação espírita.

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