Resistindo ao mal

Paulo Cezar Fernandes
19/12/2020
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Logo no início do seu Evangelho Mateus nos apresenta o primeiro episódio, de muitos, em que Jesus se recolhe para a prática da meditação sob preces. No Capítulo 4, versículos 1-11, Jesus é tentado no deserto por Espíritos impuros enquanto meditava e orava para dar início ao seu divino apostolado. Esta passagem constitui o primeiro exemplo prático do Mestre para nós, Espíritos reencarnados, e, pois, sujeitos a toda espécie de necessidades materiais e sentimentais. A postura inabalável do Mestre diante do assédio espiritual, que o tentou nas áreas existenciais mais graves para os Espíritos reencarnados num planeta de provas e expiações, constitui o eixo central dos seus ensinamentos, preparando-nos para “não sermos do mundo”, apesar de “estarmos no mundo”.

O exemplo de Jesus nesta passagem toca diretamente à nossa obrigação de atendermos aos Deveres inscritos nas Leis Morais apresentados na PARTE TERCEIRA, de O Livro dos Espíritos, oferecendo resistência à influência do mal. Do ponto de vista da Filosofia, essa resistência exemplifica, segundo o filósofo alemão Immanuel Kant, a Virtude, tal como ele deduziu em sua obra Crítica da Razão Prática: a genuína boa vontade dos seres racionais no sentido do cumprimento do Dever, a Liberdade. Essa é a mesma base da Libertação que nos é promovida pelo Conhecimento da Verdade recomendada pelo divino Mestre, já conquistada pelos Espíritos elevados, e que nos tornará blindados no mundo diante do império dos sentidos e do Ego.

Não é por acaso que Allan Kardec formula a pergunta 919, na PARTE TERCEIRA de O Livro dos Espíritos, no Capítulo IX, Da Perfeição Moral, indagando pela receita prática e eficaz para se melhorar e, consequentemente, ser feliz nesta vida, resistindo ao mal. O Espírito que responde é ninguém menos que Santo Agostinho, o qual lembra a máxima grega da sua Filosofia Clássica do gnouth Seauton, ou Conhece-te a ti mesmo, como o caminho mais eficiente para a evolução espiritual no mundo.

Na PARTE QUARTA da mesma obra, O Livro dos Espíritos, evidenciando as dificuldades de o Ser Humano atender aos seus deveres Morais no mundo, na pergunta 932, Kardec indaga por que, via de regra, o mal parece estar vencendo o bem no seio da humanidade? A resposta dos Espíritos é categórica em afirmar que tal se dá porque o “mal” é insidioso e faz propaganda de si, enquanto os “bons” são omissos.

Analisando essas máximas de bem viver, é imperioso indagarmos quantos de nós ainda sofremos tanto no mundo por sucumbirmos às atrações exclusivas da vida material, quase sempre determinados por influências dos Espíritos inferiores constantemente ao nosso redor, como revelaram os Espíritos na pergunta 459 da mesma obra, os quais nos acompanham desde outras existências encarnados, e que nos conhecem as fraquezas melhor do que nós mesmos?

Sem dúvidas, tal estado da humanidade, com tantas doenças da Alma e consequentes abandonos do Dever por tristes suicídios, dá-se por nos esquecermos do exemplo de Jesus meditando e orando no deserto. Como esclareceram os Espíritos do Senhor por intermédio de Kardec, só o Autoconhecimento, que não vem com formas exteriores, portanto, que exige sim, recolhimento meditativo e diárias orações para a conservação de sentimentos mais elevados, afastariam de nós essas más influências e nos auxiliam a resistirmos às nossas tendências e aos vícios já trazidos de outras existências, sempre potencializados por essas indesejadas presenças espirituais.

Naquela sua primeira passagem pelo deserto Jesus nos convida a segui-lo, se, não mais pelos desertos geográficos, no entanto, pela aridez contemporânea das convenções sociais e midiáticas, resistindo a todas as tentações deste atualizado e entristecido Espírito do mundo. O que se vê naqueles versículos de Mateus é a atividade prática do Mestre diante de uma tentação espiritual, mostrando-nos a eficiência do Conhecimento de Si na vigilância de nossas próprias fraquezas, e da Fé, que nos recomenda a oração a nos trazer o Espírito do Senhor para o reforço da nossa Virtude para vencermos o Mundo.

Paulo Cezar Fernandes

Nota do editor:
Imagem ilustrativa em destaque disponível em <https://super.abril.com.br/historia/quem-foi-jesus/>. Acesso em: 19DEZ2020.

 

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