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A alavanca construtora da Fé

janeiro 8, 2021

O homem, pelos seus esforços, poderá vencer as suas más inclinações. 

Frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. 
O que lhe falta é a vontade. Ah! Quão poucos dentre vós fazem esforços!
(Questão 909, de O Livro dos Espíritos) 

A esperança e a caridade são corolários da fé e formam com esta uma trindade inseparável. 
( O Evangelho Segundo O Espiritismo, cap. XIX, item 11) 

 

Infelizmente são poucos os exemplos positivos que os canais de televisão nos apresentam. Um desses raros momentos eu registrei há algum tempo, mas relendo papeis em meu arquivo deparei-me com ele. Fez-me revivê-lo, emocionar-me e meditar. 

Resolvi partilhá-lo, novamente, com os leitores. 

Preparava-me para deitar. A esposa já estava deitada e assistia a um programa de entrevista, na TV. Olhei para a TV e vi o rosto de uma jovem senhora que estampava tranquilidade emoldurando um sorriso sereno à medida que respondia às perguntas da tensa e emocionada entrevistadora. 

Parei. Fiquei olhando, já envolvido pelo interesse de acompanhar o assunto. 

A esposa, visivelmente, emocionada exclama: 

– Que história emocionante. A entrevistadora até já chorou. 

A também jovem senhora que a entrevistava, visivelmente chocada em sua sensibilidade, insistia:  

– Mas você não conhece sua mãe, nem seu pai? 

– Não conheci, nem conheço e até hoje não sei quem são. 

Fui criada por várias famílias que me iam passando, como empregada, de uma para outra. 

Então, ela vai narrando a sua história e os ingredientes são terríveis: exploração no trabalho, agressões físicas, assédio sexual por parte de homens que compunham essas famílias, impedida de ler porque tinha de trabalhar. Com oito anos era obrigada cuidar de um bebê, até dar-lhe banho. Se o nenê chorasse, por fome, cólica, desconforto, ela apanhava da mãe porque, sem olhar, já afirmava que ela não tratava bem a criança. 

Enfim, a história é dramática e emocionante e poderia ter se desenrolado, a primeira vista, em barracos de uma favela, na periferia das grandes cidades.  

O palco do terrível sofrimento dessa criança que passava, noites acordada, para fugir do assédio sexual, são residências de famílias de classe média: empresário e funcionário público. 

Em seu doloroso relato os nomes, obviamente, foram trocados. 

Diante desse kafkiano filme da vida real, nós nos perguntamos como esse ser humano sobreviveu com dignidade? 

Sim, ela sobreviveu com dignidade. Por isso estava em um canal de televisão dando a entrevista, embora as marcas do seu sofrimento, era a professora querida por seus alunos e a dirigente de uma ONG que trabalha com crianças de rua, no Rio de Janeiro. 

Maura sentiu, desde cedo, que precisava estudar para vencer, que existiam direitos e que ela precisaria alcançar. 

Agarrou-se, como naufraga, a uma tábua salvadora: Fé e Esperança. 

Há um momento significativo em sua vida. Tendo aprendido a ler, às escondidas, em um dia das mães, escreve uma cartinha para aquela que, praticamente, a escravizava pedindo que ela permitisse que a chamasse, pelo menos uma vez, de mãe. 

A doente mental, pela maldade de que se alimentava, entra em crise e põe-se a gritar que ela não se atrevesse em assim chamá-la, pois jamais seria mãe de criança vagabunda e de rua como ela. Pica a carta, em pedacinhos, atira-lhe no rosto e a faz comer alguns pedaços de papel. 

Naquele instante, Maura promete a si mesma que não choraria mais. Diz para consigo mesma: eles são maus, eles não gostam de mim. Cumprirei os meus deveres, não preciso do amor deles. Eles não têm amor, nem para si, nem para dar. 

Relata que, quando apanhava, passa a não chorar e a mentalizar: eu vencerei, estudarei, terei o meu lar, terei meu marido. Amarei muito a minha família. 

A entrevistadora, chocada emocionalmente indaga: 

– Você nunca pensou em se vingar? 

– Eu me vinguei. Não destruindo. Eu venci. Aqui estou com meu marido, meus filhos estão acompanhando esta entrevista. Eu os amo muito. Eles me amam. 

Ao final, por solicitação da entrevistadora, acena e manda beijos para os seus alunos da Faculdade, acena e manda beijos para o encantado marido que a acompanha da plateia, carinhosamente acena para os filhos. Saúda os companheiros da ONG que cuida de crianças de rua. 

Conhecendo pessoas como Maura, sentimos que vale a pena o esforço para a auto educação e ação de trabalhar por um mundo melhor.  

Ela materializa, em si mesma, a Fé, a Esperança e a Caridade. 

São discípulas e discípulos de Jesus, anônimos, nos tempos atuais, que não fazem pregações do Evangelho e sim vivem o Evangelho de Jesus. 

Aylton Paiva 

Aylton Paiva
Aylton Paiva

Cooperador na Casa dos Espíritas, em Lins, interior de SP, estudioso do Espiritismo e desejoso de aplicar sua Filosofia na própria vida, além de Esperantista.

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