
A prática mediúnica na pandemia
Muitos foram os desafios enfrentados pela casa espírita no período de quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus, obrigando os centros a suspenderem temporariamente suas atividades presenciais. No entanto, para uma parte das instituições esse impacto nas rotinas estimulou a implantação de atividades virtuais, como palestras, reuniões de estudo, atendimento fraterno, reuniões de vibração etc., levando essa parcela das casas a aderirem e se adaptarem às plataformas digitais.
No entanto, com relação à prática da mediunidade, esse novo formato não é adequado para o intercâmbio com os Espíritos e as reuniões mediúnicas continuaram suspensas.
Com o advento do consolador prometido por Jesus, a partir do século XIX, Kardec e a espiritualidade maior trouxeram as diretrizes seguras para o exercício da mediunidade, alicerçadas nas obras da codificação, principalmente em O Livro dos Médiuns. Essas diretrizes foram sendo aprimoradas ao longo do tempo, através das informações trazidas nas obras espíritas subsidiárias, dentre elas as de André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, reforçando o entendimento de que a prática mediúnica deve ser realizada dentro da casa espírita. Portanto, os moldes atuais de exercício da mediunidade estão estabelecidos e sua eficácia e segurança guardam relação com a compreensão, pelos dirigentes e trabalhadores espíritas, de toda a dinâmica de funcionamento de uma instituição espírita e o amparo de sua estrutura espiritual.
Sendo assim, com a casa espírita fechada, respeitando as leis e seguindo todas as medidas de segurança sanitárias dos órgãos de saúde para a preservação da vida, como fica o médium ostensivo e o exercício da mediunidade? Os Espíritos necessitados não estão sendo atendidos?
Muitos médiuns e dirigentes de reuniões mediúnicas mantêm o conceito equivocado de que estão ali apenas para socorrer os Espíritos e que suas participações são fundamentais para a espiritualidade.
André Luiz, no capítulo 17 da obra Missionários da Luz, indaga ao instrutor Alexandre qual o motivo de se realizar a doutrinação no ambiente dos encarnados e o mentor esclarece que não é um recurso imprescindível; que os atendimentos espirituais acontecem em larga escala na espiritualidade, mas, em determinados casos, a cooperação magnética humana pode interferir mais intensamente em benefício dos necessitados que se encontram ligados às sensações materiais, de modo que, quando é útil, eles utilizam o concurso dos médiuns e doutrinadores encarnados. Enfatiza Alexandre que estes, ajudando as entidades em desequilíbrio, ajudarão a si mesmos, doutrinando, acabarão doutrinados.
Nesse sentido, destacamos duas funções primordiais da reunião mediúnica: o acolhimento fraterno e a reforma íntima da equipe.
Portanto, os milhões de desencarnados necessitados são atendidos pelos Espíritos socorristas no plano espiritual e a reunião mediúnica é apenas um segmento de toda a estrutura espiritual da casa espírita, além de ser uma necessidade de aprendizado e instrumento de evolução para todos os membros da reunião.
Somos convidados, nesse momento de distanciamento social, a ser fieis aos preceitos evangélicos, buscando uma vivência mais profunda da espiritualidade, que talvez estivesse obscurecida pela forma como estávamos vivenciando a doutrina espírita nas nossas instituições. A respeito disso, Emmanuel nos orienta na introdução do livro Caminho, verdade e vida: “O Cristo não estabelece linhas divisórias entre o templo e a oficina. Toda Terra é seu altar de oração e seu campo de trabalho, ao mesmo tempo. Por louvá-lo nas igrejas e menoscabá-lo nas ruas é que temos naufragado mil vezes, por nossa própria culpa. Todos os lugares, portanto, podem ser consagrados ao serviço divino.” Nesse aspecto, cabe a reflexão de como estava a vivência espírita antes da pandemia.
Aproveitemos esse tempo de maior recolhimento para acionar todos os recursos para o equilíbrio íntimo, estabelecendo rotinas e hábitos saudáveis, utilizando ferramentas indispensáveis como a oração, as leituras edificantes, o evangelho no lar e os inúmeros estudos virtuais espíritas disponíveis, sobretudo os de educação mediúnica, que funcionam como sustentáculos evolutivos. Além disso, é função dos dirigentes de reunião mediúnica manter a integração e os vínculos fraternais com a equipe, acompanhando, mesmo virtualmente, os companheiros e lhes proporcionando assim o suporte doutrinário e emocional necessários nesse período tão desafiador.
Dessa maneira, com vigilância, oração e ação estaremos melhor preparados para a volta gradativa das atividades presenciais nas nossas instituições espíritas, como já vem acontecendo com algumas casas.
Karina Rafaelli
Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://www.revide.com.br/editorias/especial/caminho-da-mediunidade/>. Acesso em: 08MAI2021.
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