Entre Romances e histórias espíritas

Nicola José Frattari Neto
08/08/2021
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“Podem fazer-se romances sobre o Espiritismo, como sobre todas as coisas.
Dizemos mesmo que quando for conhecido e compreendido em sua essência,
ele fornecerá às letras e às artes, fontes inesgotáveis de deslumbrante poesia.”
Allan Kardec,
Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos,
Dezembro de 1865.

Foi dessa maneira que Allan Kardec apresentou o primeiro romance espírita publicado, de autoria do grande autor literário Théophile Gautier, intitulado O Ignorado Amor. Ressaltou pontos fundamentais para o gênero literário em que o conhecimento espírita que o autor deve possuir necessita fruir na obra de modo que o leitor o apreenda. Apresentar temas como a reencarnação, os fenômenos mediúnicos e a moral espírita devem contribuir para a divulgação e compreensão de atributos que auxiliarão o leitor a melhorar-se enquanto ser imortal.

Na Revista Espírita de 1866, Kardec ressaltou outro ponto fundamental próprio do romance espírita, ainda se referindo à mesma obra literária: A forma de romance tem sua utilidade. Graças a uma leveza aparente, penetrou em toda a parte e com ela a ideia. (1) O codificador fez referência ao poder de circulação dos romances, levando a ideia espírita a uma boa parcela da sociedade, e além, consagrando o gênero como aliado na divulgação do Espiritismo.

Outro apontamento importante na escrita dos romances espíritas, ou de qualquer gênero literário, deve-se a ligação entre o escritor e o grau de influência dos Espíritos que participam da escrita. Sabemos que os Espíritos podem intuir de forma leve (inspiração), sem que o escritor os perceba, ou de maneira ostensiva caracterizando a obra psicográfica (intuitiva, semimecânica ou mecânica), como Kardec explicou em o Livro dos Médiuns; (2).

Prestando atenção nessa mesma obra, o codificador ainda destacou as várias especificidades que os médiuns ostensivos possuem no ato da psicografia, não se prestando todos ao gênero romance, por exemplo. Podendo ser encaminhados ao trabalho de receituário, de mensagens, cartas, entre outros. Deve o médium obedecer a estas especificidades na perspectiva de desenvolver um trabalho que realmente atinja seu fim maior, ou seja, o bem posto em prática a favor do próximo.

Entre outras dúvidas que sondam quanto a escrita literária espírita, percebemos que uma delas seria saber sobre a ligação necessária entre o médium e o Espírito comunicante. Explicação simples que o codificador nos apresenta em O Livro dos Espíritos: (…) um Espírito julga que seria bom escrever um livro que ele mesmo faria se estivesse encarnado; ele toma o escritor mais apto a compreender seu pensamento e executá-lo, e lhe dá a ideia e o dirige na execução. (3)

Nesta frase encontramos a essência das ligações mediúnicas. Compreendemos de forma simplificada que o Espírito e o médium devem estabelecer sintonia, para que o médium capte os pensamentos do Espírito e compreenda o que ele deseja escrever. Mas, se o Espírito dirige a transmissão de uma história, por exemplo, cabe ao médium, além de ser instrumento dócil à influência, oferecer o cabedal de informações capazes de auxiliar na feitura da obra. E além, possuir responsabilidade e seriedade absolutas para com os postulados espíritas, que não podem sobremaneira serem ofendidos ou ignorados.

A ressonância deve alcançar o máximo de intensidade e é necessário dizer ainda que, durante o sono do corpo, o Espírito encarnado se comunica diretamente com o Espírito errante e que eles se entendem sobre a execução (4), para um entendimento completo da obra mediúnica, assim continuou Kardec a nos elucidar.

O Espírito Emmanuel ao discorrer sobre as ligações do artista na Terra com seu passado reencarnatório, ligação essa que se faz geralmente presente em suas obras, aponta que relativamente aos escritores, aos amigos da ficção literária, nem sempre as suas concepções obedecem à fantasia, porquanto são filhas de lembranças inatas, com as quais recompõem o drama vivido pela própria individualidade nos séculos mortos.(5) E nos atrevemos a indagar o que não será realizado no mesmo propósito com relação as obras mediúnicas, tendo a presença de um médium e de um Espírito ligados por laços fluídicos, pensamentos, memórias passadas…

Tendo como ponto de partida os apontamentos de Emmanuel, faz-se notável recordar os romances mediúnicos, que pela mediunidade abençoada de Francisco Cândido Xavier, tornaram-se exemplos de feitura no gênero. Neles encontramos os postulados espíritas narrados de forma a atingir o belo e o sublime, evangelizando e trazendo ao presente grandes momentos do Cristianismo, por meio dos apontamentos de reencarnações passadas dos autores e de outros.

Outros médiuns e Espíritos nos delegaram romances mediúnicos oportunizando-nos apontamentos valorosos. Sem poder narrar a grandeza e a especificidade do recebimento das obras de todos no momento, nos referimos aos da querida médium Yvonne do Amaral Pereira, que nos apresenta apontamentos valiosos quanto à questão das histórias como instrumento de evangelização espírita. Assim comenta:

Há dois mil anos, o Mestre da Seara em que militamos criou a suavidade das Parábolas, cujos atraentes rumores ainda ecoam em nossa sensibilidade, ensinando-nos lições inesquecíveis. Seus obreiros do momento criam, ou traduzem da realidade da vida cotidiana, tal qual Ele o fez, a exemplificação dos romances, ou lições romantizadas, expondo teses urgentes, ensinamentos indispensáveis, no sabor de uma narrativa da vida comum. É o mesmo método de há dois mil anos, criado pelo Divino Mestre, para instrução urgente e fácil das massas…” (6)

É realmente um alento recordar que após seus exemplos santificadores, as parábolas messiânicas foram o instrumento utilizado pelo Cristo para evangelizar os corações, obedecendo primordialmente a cultura judaica daquele momento.

Ressaltamos estes apontamentos, que já devem ser de conhecimento dos leitores, para enfatizar a importância do evangelizar por meio de histórias, parábolas e romances. Importância essa singular no realce de todos esses apontamentos, para dignificar o gênero literário que não deve ser banalizado e fugir ao compromisso de levar os postulados espíritas a todos os leitores.

Aos médiuns que se dedicam ao trabalho da literatura, seja ela infantil, infanto-juvenil ou adulta, bem como a todos os outros campos, cabe mais uma vez a assertiva da querida dona Yvonne:
A palavra, vibração divina do Pensamento, o qual, por sua vez, será a essência do próprio Ser Supremo refletida na sua criatura, foi concedida ao homem pelas leis eternas da Natureza, para facilitação do seu progresso e engrandecimento, recurso precioso com que alindará a própria personalidade, para atingir finalidades gloriosas. (7)

E foi dessa forma que o espírito amigo, chamado na Terra por doutor Henrique Krüger, continua orientando e cuidando dos corações sofredores com os recursos da palavra, do amor aplicado e da orientação sadia para a mente. Leva recursos curadores por meio de histórias, mensagens e orientações, elevando a sintonia daqueles que se propõe a uma nova caminhada: percorrer os caminhos que o Cristo caminhou. Hoje esses caminhos apresentam-se na prática do bem aplicado ao próximo, na tentativa de pedir misericórdia para nossas próprias chagas.

Que Jesus possa nos abençoar, cada qual em sua caminhada! Assim dedico esta obra a todos os trabalhadores de Jesus, que com sinceridade vem trilhando seus caminhos de renovação íntima e nas infinitas descobertas que só a caridade pode proporcionar aos corações endividados.

Desejo uma boa leitura!

Nicola José Frattari Neto

Referências:
(1) KARDEC, Allan. História Fantástica por Théophile Gautier. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. In: Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos (março de 1866). Brasília: FEB, Ano IX, n. 1, p. 131.
(2) KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 53ª ed. Araras: IDE, 2000.
(3) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 178º ed. Araras: IDE, 2008, Capítulo X, pergunta 577, p. 193.
(4) Idem.
(5) EMMANUEL (Espírito); [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. O Consolador. 21ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999, pergunta 166, p. 103.
(6) PEREIRA, Yvonne do Amaral. Dramas da Obsessão. 6ª ed. Brasília: FEB, 1987, p. 11.
(7) Idem, p. 10.

Nota do autor:
Artigo publicado no livro de FRATTARI NETO, Nicola José (Psicografia do Espírito Henrique Krüger). A Estrela da Manhã. Taguatinga, Distrito Federal: Editora Auta de Souza, 2020.

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