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Porventura sou eu, Senhor?

agosto 21, 2021

De acordo com o Evangelho de Mateus (Mateus, 26:22), Cristo estava com os seus discípulos quando se dirigiu a eles informando que um o trairia. Consternados com tal assertiva, começaram a indagar, um após outro, ‘porventura sou eu, Senhor?’
Mais adiante, concretizando as palavras do Mestre, Judas entrega Jesus ao preço de trinta moedas…

* * *

No livro Palavras de Vida Eterna o Espírito Emmanuel, sob a psicografia de Francisco Cândido Xavier, convida-nos a uma relevante reflexão sobre esta passagem do Evangelho. [1]

É muito comum que a maioria de nós condene Judas pela referida ação. Como pode ele entregar aquele que levava consolo, que curava doentes, que espalhava palavras de esperança aos quatro ventos, que acolhia os mais necessitados, enfim, aquele que, definitivamente, aplicava a lei do amor em sua mais pura acepção? Como pode fazê-lo? Por conta deste ato, Judas é criticado e taxado de traidor por muitos que não hesitariam em lhe acusar duramente até nos dias de hoje.

Segundo Emmanuel, o discípulo teria cedido à paixão política dominante, enganado pelas insinuações de grupos famintos de libertação do jugo romano.[1] Teria, ainda, vislumbrado que aquele seria o caminho certo para acelerar o processo que levaria Jesus ao seu trinfo junto à humanidade. No entanto, a dolorosa desilusão levou-o ao suicídio. Ou seja, ainda na mesma encarnação entendeu a gravidade de seu erro e tentou reparar a sua traição da maneira mais nefasta ao dom da vida concedido por Deus.

Jesus amou a todos como se fossem filhos seus. E tal como um pai zeloso, procurou trazer diversos exemplos aos seus enteados de como proceder para atingirem à a felicidade plena. E como nos assegura o seu próprio Evangelho, nunca nos abandonou e continuará conosco até o final dos tempos (Mateus, 28:20). Neste contexto, interessante lembrar que se nós, com todas as nossas imperfeições, quando investidos na condição de pais ou responsáveis, nunca olvidamos de nossos filhos; o que poderíamos vislumbrar para Jesus em sua condição de espírito puro, livre de todas as influências da matéria.[2]

Sob a perspectiva do Espiritismo, em todas as nossas existências nos deparamos com o acolhimento deste “pai”, Governador Espiritual da Terra, que ativamente trabalha em prol de nossa elevação espiritual. Contudo, ao invés de seguirmos os seus exemplos e aplicarmos o seu Evangelho prático em nossas vidas, a maioria de nós prefere continuar a vendÊ-lo no altar dos nossos próprios corações. [1] Logo, enquanto Ele nos orienta ao desprendimento dos bens terrenos, escolhemos nos debruçar no orgulho e na vaidade no decorrer dos séculos, entre tantas outras decepções que a Ele direcionamos por meio de nossas atitudes contraditórias aos seus ensinamentos.

Assim, pergunta Emmanuel:
– “Porventura existirá alguém mais ingrato para contigo do que eu, Senhor?”

A vida do Mestre Jesus, desde a manjedoura até o final trágico, abandonado e traído na cruz, foi o maior exemplo de como deve agir um Homem de Bem. [3] Jesus cumpria naturalmente a lei da justiça, do amor e da caridade; a todo tempo, depositava uma fé inabalável em Deus; colocava os bens espirituais acima dos bens temporais; exercia a caridade e o amor ao próximo; era humano e benevolente; não fazia distinção entre os homens; além de tantas outras qualidades que O tornavam um guia e modelo para toda a humanidade. [2]

Em seu breve texto, Emmanuel nos convida a meditarmos sobre nossas faltas, sejam elas conscientes ou não. Não podemos continuar de encarnação em encarnação mergulhando nas derrocadas das paixões terrestres. Não podemos continuar “vendendo Jesus” pelas moedas do orgulho e do egoísmo. Assim como devemos seguir as orientações de nossos pais e responsáveis para caminharmos pela senda do bem, devemos seguir os exemplos deste Homem de Bem, “irmão mais velho”, que assumiu a tarefa tal qual a de um “pai” maravilhoso que nos acolheu há bilhões de anos e que só deseja que tomemos de nossa lira para fazer coro com a espiritualidade sublime de amor e luz na execução dos hinos sagrados de Deus que repercutem de um extremo a outro do Universo.[3]

Márcio Martins da Silva Costa

Referências:
[1] Emmanuel (Espírito), Palavras de Vida Eterna, 1a. Brasília (DF): Federação Espírita Brasileira, 2015.
[2] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, 93a. Brasília (DF): Federação Espírita Brasileira, 2013.
[3] A. Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, 131a. Brasília (DF): Federação Espírita Brasileira, 2013.

Nota do editor:
Textos publicado no jornal Diário de Taubaté (SP), em sua Coluna Espírita (Agê) < https://www.diariodetaubateregiao.com.br/dt/coluna-espirita-porventura-sou-eu-senhor/>, no dia 10 de agosto de 2021.
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://robertodelucena.com.br/18121/>. Acesso em: 21AGO2021.

Márcio Costa
Márcio Costa

Membro do Conselho Editorial da Agenda Espírita Brasil e colaborador do Centro Espírita Seara de Luz, em São José dos Campos - SP, atua na divulgação da Doutrina Espírita escrevendo textos e realizando palestras.

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