1434 visualizações

A paz na perspectiva espírita

novembro 16, 2021

Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo
a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.
João, 14:27

A Humanidade passa por significativa crise moral que afeta diretamente as relações individuais e coletivas, em decorrência dos desafios cotidianos que marcam a existência planetária. Assim, mais do que nunca, o mundo aspira pela paz

Na verdade, os conflitos presentes no cenário nacional e mundial sempre estiveram presentes na nossa história, contudo, os processos de globalização se revelam como uma das principais causas que conferem contornos complexos à vida em sociedade. Há marcante competitividade entre pessoas e grupos sociais, fazendo-os batalhar, cada vez mais, pela aquisição de bens, serviços e posições de poder. Neste sentido, o ideal da paz, pautado nos preceitos da fraternidade e da solidariedade, são, usualmente, relegados a planos secundários. São condições fazem surgir um perfil socioeconômico, marcado por acentuada pobreza, moral e material.

Se o mundo atual anseia desesperadamente pela paz, nós, enquanto espíritas, acrescentamos: mais do que nunca precisamos do Evangelho de Jesus em nossa vida, como ensina Emmanuel: “A mensagem do Cristo precisa ser conhecida, meditada, sentida e vivida.” (1) A partir do momento em que tomarmos a firme resolução de sair das leituras superficiais ou rápidas dos ensinamentos de Jesus, o Mestre Nazareno, e incorporá-los à nossa vivência diária, onde, como e com quem estejamos, estaremos trilhando o caminho da paz. Conclusão: sem o Evangelho não há paz.

Fala por nós, Alcíone, admirável personagem do livro Renúncia, de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier: “[…] chegamos à conclusão de que o Evangelho, em sua expressão total, é vasto caminho ascensional, cujo fim não podemos atingir, legitimamente, sem conhecimento e aplicação de todos os detalhes. […]. (2)

Assim, o conhecimento e a vivência do Evangelho de Jesus é roteiro seguro que o espírita sincero deve buscar, sem delongas, como esclarece o Espírito Amélia Rodrigues: (3)

  • “Repensar Jesus-Cristo e Sua mensagem nos turbulentos dias da atualidade, torna-se uma necessidade impostergável. Em face da violência e da alucinação de todo porte que tomam conta dos diversos setores da sociedade hodierna, a mulher e o homem que se consideram civilizados estorcegam nas constrições do progresso material, quase vencidos pelos transtornos psicológicos de conduta, sob contínua ameaça de depressão, de síndrome do pânico, de fuga espetacular para a drogadição, o alcoolismo, o tabagismo, o sexo em desalinho, as ambições do poder e do gozar.”
  • “A momentânea perda dos valores éticos, habilmente confundidos com as propostas das filosofias utilitarista e cínica, deixa o ser humano sem discernimento lúcido para agir corretamente, em face dos disparates e das aberrações apresentados, alguns deles tornados legais, como o aborto, a eutanásia, o suicídio, a pena de morte que, no entanto, permanecem inscritos nos Estatutos divinos como crimes hediondos…”
  • “A rápida presença de propostas evangélicas perturbadas e perturbadoras em sincretismo banal, na mídia e em toda parte, firmadas no temor a Deus e em vergonhosas demonstrações espetaculosas de curas fantasistas e de soluções de todos os problemas, pela simples aceitação de Jesus no coração e do respectivo pagamento do dízimo, mais confunde a compreensão da sã doutrina do que a esclarece.”

A benfeitora espiritual conclui, com lucidez: “Tudo isso ocorre, sem dúvida, por esquecimento de Jesus e dos Seus ensinamentos simples e nobres, profundos e sábios, que ainda não foram incorporados ao dia a dia das existências que se dizem a Ele vinculadas.” (4)

A paz na perspectiva espírita envolve preceitos fundamentais relacionados à cultura da paz (ou educação para a paz), que são expressos nos esforços contínuos de edificação da consciência moral e da conduta ética individual, refletida na prática do bem.

Na cultura da paz (ou a educação para a paz), não podemos ignorar este ensinamento de Jesus: “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.” (Mateus, 5:9). Os pacificadores são os que promovem a paz, mas nem sempre conseguem semear a paz. Há aí uma diferença significativa, pois a promoção da paz pode restringir-se apenas à intenção ou ao simples discurso. Os pacificadores não são “[…] somente os dotados de natureza pacífica, nem os que aceitam a paz sem protesto ou que preferem a paz ao desacordo, nem os que têm paz na alma, com Deus, como explicou Agostinho, e nem os que amam a paz […], mas aqueles que promovem ativamente a paz e procuram estabelecer a harmonia entre inimigos. […]. (5)

Emmanuel faz as seguintes considerações a respeito das palavras de Jesus, registradas por Mateus, ora citadas:

Na cultura da paz, saibamos sempre:
Respeitar as opiniões alheias como desejamos seja mantido o respeito dos outros para com as nossas;
Colocar-nos na posição dos companheiros em dificuldades, a fim de que lhes saibamos ser úteis;
Calar referências impróprias ou destrutivas;
Reconhecer que as nossas dores e provações não são diferentes daqueles que visitam o coração do próximo;
Consagrar-nos ao cumprimento das próprias obrigações;
Fazer de cada ocasião a melhor oportunidade de cooperar a benefício dos semelhantes;
Melhorar-nos, através do trabalho e do estudo, seja onde for;
Cultivar o prazer de servir;
Semear o amor, por toda parte, entre amigos e inimigos;
Jamais duvidar da vitória do bem.
Buscando a consideração de pacificadores, guardaremos a certeza de que a paz verdadeira não surge, espontânea, de vez que é e será sempre fruto do esforço de cada um. (6)

A cultura da paz segundo o Espiritismo, acontece efetivamente quando o ser humano aprende a se desprender das ilusões geradas pelo sentimento de posse, tão estimulados na atual sociedade hedonista que, em geral, considera apenas o aqui e o agora. Amélia Rodrigues pondera a respeito: “Os tortuosos caminhos da existência humana, do ponto de vista social e tradicional, caracterizam-se pela ambição em favor do poder temporal, do destaque no grupo, da glória rápida os abismos das necessidades emocionais, nem as aspirações de paz interior, da disputa incessante pelos bens que fascinam e não preenchem os abismos das necessidades emocionais, nem as aspirações de paz interior e de saúde integral. […].” (7)

A mensagem do Cristo vem, hoje e sempre, despertar o homem da hipnose que ele se encontra mergulhado há milênios, adiando o seu despertar espiritual: “[…] Jesus deu a sua vida a fim de trazer a paz universal, no sentido mais lato possível, tanto na terra como nos lugares celestiais. (Ver Ef 2.14-16 e Cl 1.20). […].” (8) Assim, a educação para paz resulta na conquista e desenvolvimento de valores imprescindíveis à ascensão aos planos elevados da vida e, nesta posição, seremos, então, chamados “filhos de Deus”.

Na perspectiva espírita, os chamados “filhos de Deus” cumprirão, naturalmente, os desígnios divinos da vivência da paz, sem desânimos, revoltas ou sentimentos de dor ou perda, porque já aprenderam a retribuir o mal com o bem. A paz, neste contexto, se resume, portanto, na prática deste outro ensinamento do Evangelho, denominado a regra de ouro: “Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas”(Mateus, 7:12).

Marta Antunes Moura

Referências:
(1) XAVIER, Francisco Cândido. Renúncia. Pelo Espírito Emmanuel. Parte 2, cap. III, p. 328.
(2) Idem. Ibidem, p. 328.
(3) FRANCO, Divaldo Pereira. A mensagem do amor universal. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Introdução, p.7-8.
(4) FRANCO, Divaldo Pereira. A mensagem do amor universal. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Introdução, p.11.
(5) CHAMPLIN, N.R. Vol. 1. (Mateus/Marcos). O novo testamento interpretado versículo por versículo. Item 5.9: Os pacificadores, p. 305.
(6) XAVIER, Francisco Cândido. Ceifa de luz. Pelo Espírito Emmanuel. Cap.54, p. 175-176.
(7) FRANCO, Divaldo P. A mensagem do amor imortal. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Cap.16, p.114.
(8) CHAMPLIN, N.R. Vol. 1. (Mateus/Marcos). O novo testamento interpretado versículo por versículo. Item 5.9: Os pacificadores, p. 305.

Nota do Editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://pixabay.com/pt/illustrations/crian%c3%a7as-fam%c3%adlia-rede-junto-4685126/>. Acesso em: 15NOV2021.

Marta Antunes de Moura
Marta Antunes de Moura

Coordenadora Nacional da Área de Unificação da Federação Espírita Brasileira (FEB) e Vice-presidente da FEB.

Deixe aqui seu comentário:

Divulgue o cartaz do seu evento espírita.

Clique aqui