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A Voz de Deus em mim

fevereiro 1, 2022

Na inquietude do nosso ser, ela aparece. Palavra solta, saída do nada… Às vezes frase, soprando feito vento sem rumo, sem direção. Voz que soa dentro de nós; gritos interiores que nos perturbam. Surge calma, surge revolta, mas sempre nos surpreende porque estamos desprevenidos. Sopro divino ou lembranças outras que extraímos dos nossos guardados, passados ou presentes… Quem poderá dizê-lo? E o que era apenas inquietude transforma-se também em pesar.

Diante do inesperado, nossa alma sofre. Que seta é essa que surge em nossas mentes sem que lhe compreendamos o significado? Onde a ouvimos, onde a lemos? Que importância terá tido para que, de repente, surja assim do nada?

Na verdade, que isso importa? Ela ali está e nos incomoda. É preciso desvendá-la para entendê-la. Às vezes surge como ponto de partida de algo que há por vir, outras como fim de aflição que já experimentamos. Mas somente entenderemos isso quando conseguirmos, num átimo, movimentar dentro de nós furacões e calmarias, alegrias e tristezas, revisando nossas idas e vindas em contínuas experiências de aprender com os próprios erros. São tantas lembranças e somos tantos a revolver guardados… Lembranças infinitas boas e más, perdidas no tempo.

Todavia, é necessário silenciar, por ora, todas as vozes que nos cercam e permitir, ao menos uma vez, que essa “outra” voz, na nossa consciência, nos guie nessa procura. Difícil exercício esse! Por que necessitamos desse barulho ensurdecedor que produzimos? Esse turbilhão de palavras e sons que toma conta da nossa mente? E como é melancólico precisarmos da balbúrdia exterior para não escutar os apelos de Deus a soar dentro de nós, a nos chamar para a vida. Vida que pulsa em nós e fora de nós, vida que se transforma nos transformando, que se sublima nos sublimando, que é nossa cúmplice ao nos proporcionar oportunidades de escolhas em cada momento das nossas existências.

E assim, permanecemos nós sempre e eternamente diante de escolhas. Direito inalienável de todo ser humano, pois nada mais no Universo escolhe: simplesmente cumprem leis divinas, eternas, imutáveis. Somente ao homem é dado esse direito – direito de escolher entre o bem e o mal, o certo e o errado – mas, também somente a ele é dada a responsabilidade sobre suas escolhas. A cada um segundo as suas obras, não é disso que nos falam as lições evangélicas? Onde, portanto, a estranheza, a dúvida? Onde a injustiça divina?

De alguma forma a palavra antes solta e difusa parece ensaiar um esboço, uma definição.

Mesmo nos incomodando, a seta parece fazer algum sentido, pois só prestamos atenção àquilo que nos perturba. Há quanto tempo terá estado próxima sem que detectássemos sua presença? Sinal claro de que, em algum momento, no turbilhão mental, um espaço para a quietude aconteceu. Ensejo único nesse caos que geramos dentro e fora de nós. Momento mágico em que força de Deus se fez presente em nós, e nos despertou para a necessidade de crescer, e, por ainda não nos darmos conta desse chamamento, sentimo-nos aturdidos e perplexos.

Porém, é necessário buscar esse entendimento. É vital alargar esse espaço que aconteceu e que propiciou o surgimento dela, em algum momento, em nós, ainda que não saibamos quando nem por quê. A seu tempo e à sua hora, todos compreenderemos. E é na procura desse espaço que lentamente vamos organizando nossos gritos.

Que clamores são esses que de repente exigem de nós tamanho esforço, tanto desgaste? E o cansaço de pedir por paz nos vence, porque não basta pedir apenas. É chegado o momento de reavaliação; é preciso analisar valores e ideias; modificar atitudes saneando pensamentos. Buscando essa quietude interior, vamos examinar cuidadosamente verdades que considerávamos eternas e, com isso, jogamos fora lembranças guardadas sem razão e sem sentido, ocupando espaço precioso em nossos corações. Momentos difíceis e delicados de desligamento e abandono daquilo que julgávamos eterno porque nos sentíamos seguros assim. Ilusão?… Nem tanto. Apenas desconhecimento da realidade. Culpas?… Nenhuma. Afinal somos todos aprendizes da Vida. O que não podemos, e talvez seja esta a única certeza que temos, é de não tentar fazer tudo de uma só vez. O tempo é nosso aliado nesse lento trabalho de recuperação e de transformação. Estamos restaurando almas, curando chagas e, para isso, há que se ter cuidado e paciência.

Ao atingirmos essa vaga noção do que nos acontece, já teremos, certamente, percebido a maneira amorosa com que o Criador nos conclama à modificação. Sopro Divino a nos acalentar docemente com palavras que imaginamos vindas do nada e que, adormecidas em nossa consciência, nos despertam, convidando-nos ao imenso banquete do amor através do perdão. A nós próprios e ao outro.

Leda Maria Flaborea

Nota da autora:
Pub. – Jornal Espírita (FEESP), julho de 2006.

Nota do Editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://espiritismoeconhecimento.wordpress.com/2012/10/24/perispirito-e-corpos-espirituais-o-que-diz-a-doutrina-espirita/>. Acesso em: 01FEV2022.

Leda Maria Flaborea
Leda Maria Flaborea
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