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Espíritas de gabinete?

fevereiro 7, 2022

Daniela Arbex é uma escritora muito conhecida pela sua obra “Holocausto brasileiro”, que trata dos horrores de um sanatório mineiro, além da sua recente obra sobre as vítimas do desastre de Brumadinho. Mas a autora se aventurou nas questões do mundo invisível com a excelente biografia “Os dois mundos de Isabel”, lançada em 2020 pela Editora Intrínseca e que trata da vida da médium, radicada em Juiz de Fora-MG, Isabel Salomão de Campos.

O livro é emocionante, super bem escrito e de uma leitura fluida e prazerosa. Em determinado trecho da obra (p. 131), narrando um ocorrido com a médium, em relação a uma oposição se ela deveria estudar ou trabalhar atendendo, e a resposta que lhe é dada é: “Atenda, minha filha, porque cristão de gabinete existe um monte. Precisamos é de trabalhador”, invocando uma expressão “de gabinete” que surge, vira e mexe, em falas do movimento espírita, mais ou menos nesse sentido.

Qual o busílis, o ponto nessa questão que enseja escrever algumas linhas para a reflexão é essa insistente pseudo-oposição entre estudo e trabalho, como se, ao se priorizar um, necessariamente o outro é reduzido, isolados em caixas diferentes. Para não dizer que não falei das flores, como existe a pecha de espírita de gabinete para o que foca no estudo e não quer trabalhar, muitos dirigentes espíritas também colocam o foco no estudo, de modo absoluto, e minimizam iniciativas práticas na assistência e na área mediúnica.

E assim caminha a humanidade, nessa luta velada dos que metem a mão na massa contra os que enfiam a cara nos livros. Ledo engano, pois essas atividades se complementam e só tem sentido juntas. O estudo fortalece a prática. A prática dá sentido ao estudo. Parafraseando o físico Albert Einstein, que dizia que “Ciência sem religião é coxo, religião sem ciência é cega”, pode-se dizer também que o estudo sem a prática é coxo, e a prática sem o estudo é cega.

Essa visão “de gabinete” dá a entender que as funções de caráter intelectual, de direção, de livros grossos, não fossem tão importantes quanto aquelas que nos colocam com o pé no barro, muitas vezes uma crítica fundamentada na vaidade que seria alimentada por essa vertente intelectual, e que pode perfeitamente florescer em atividades mais concretas, seja na mediunidade, seja na atividade assistencial. Não se iluda, a vaidade se enraíza no coração de todos.

Importante resgatar esse equilíbrio entre os que estão no gabinete e os que estão na ponta, todos músicos da orquestra da evolução espiritual, trilhada no planeta Terra, entendendo sim a necessidade do trabalho que modifique realidades e que nos torne melhores, mas também a importância do estudo que nos ilumine e oriente diante dos desafios.

Se as escolhas na vida espírita nos empurram para atividades mais intelectuais, pelo nosso perfil ou pela necessidade do contexto, importante lembrar que o estudo e a sua divulgação podem ter um sentido de trabalho, de consolo e esclarecimento, valendo o mesmo para os chamados para ações mais práticas, que não podem esquecer do estudo da doutrina espírita e seus fundamentos.

Ouve-se muito nas casas espíritas que quem trabalha deve estudar, mas pouco que quem estuda deve trabalhar. Outras facetas desse antagonismo que nos torna menores. Faz-se necessário entender essas asas, que mais do que um equilíbrio permanente, são membros que se comunicam entre si, ligadas ao mesmo pássaro e que, juntas, compõem o corpo que realiza o voar necessário, firme e determinado. Uma visão de totalidade.

Colabore na obra do Cristo, amigo leitor, de acordo com a sua afinidade e necessidade, mas não se esqueça de que a mente guia a mão, e que a mão transforma o mundo que os olhos veem. A vida nos pede integração de forças, e não para ficarmos isolados, em caixas que na verdade se comunicam, e nós é que, por motivos diversos, não percebemos.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga

Nota do Editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://www.freepik.com/free-photo/surprised-man-book_2209182.htm>. Acesso em: 07FEV2022.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Marcus Vinicius de Azevedo Braga

Residindo atualmente na cidade do Rio de Janeiro, espírita desde 1990, atua no movimento espírita na evangelização infantil, sendo também expositor. É colaborador assíduo do jornal Correio Espírita (RJ) e da revista eletrônica O Consolador (Paraná). É autor do livro Alegria de Servir (2001), publicado pela Federação Espírita Brasileira (FEB) e do Livro "Você sabe quem viu Jesus nascer" (2013), editado pela Editora Virtual O Consolador.

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