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Progredir sempre, tal é a lei

junho 5, 2022

Após a transformação do princípio espiritual ou inteligente, em uma unidade chamada Espírito, que somos nós mesmos, dá-se prosseguimento a uma trajetória ininterrupta de evolução rumo à perfeição possível de ser alcançada.

Há dois grandes campos de aprimoramento a serem trilhados por todos nós: o moral e o intelectual. Todavia, este progresso nem sempre ocorre proporcionalmente, determinando um desequilíbrio nestes setores.

Na época da simplicidade e ignorância, ou seja, nos primórdios de nossa existência, Deus supriu, através de sua bondade e sabedoria, apoio continuado por meio dos anjos guardiões, porquanto, ainda não sabíamos nos conduzir e de modo que pudéssemos ir experimentando a vida e adquirindo pouco a pouco condições de nos gerirmos pelo uso do nosso próprio livre-arbítrio, antes inexistente.

No livro primeiro da Doutrina (1) há esta interessante informação sobre este progresso:

  1. Qual o maior obstáculo ao progresso?

“O orgulho e o egoísmo. Refiro-me ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua sempre. […]” (1)

É da vontade do Pai existir sempre evolução, pode não acontecer simultaneamente nos dois campos, mas o intelectual ocorre sempre. E por qual razão isto se dá? Devido ao fato de que quando reencarnamos mais uma vez, o mundo já mudou ou mudará, já evoluiu um tanto mais e, mesmo se durante esta outra vida não ocorrer nenhum progresso moral, devido ao nosso orgulho e egoísmo, a própria condição do mundo, com novas conquistas técnicas e científicas, obriga o reencarnante a aprender estas outras tecnologias, e, neste processo de aprendizado, acontece o progresso intelectual inexoravelmente.

É de se notar, no lado moral, existir a possibilidade de não haver progresso em uma existência, sendo assim, acontece o estacionamento, contudo, temporário, enquanto o Espírito não se decidir a retomar novamente as rédeas da própria vida e acelerar o passo no aspecto da moralidade.

A possibilidade de estacionamento prevista na ordem celeste é uma condição de exceção, porquanto, caso o Espírito não se decida a retomar a sua evolução moral, as leis celestiais o obrigarão, providenciando primeiro a reencarnação compulsória do Espírito calceta, e, pelo próprio ritmo da existência, com novas situações se apresentando, este será obrigado a de novo progredir moralmente, pois a dor o incomodará e será o aguilhão e estímulo inevitável nesta retomada do progresso.

Alguns, embora entendam a possibilidade do estacionamento, aceitam ainda a regressão na escala evolutiva, ou seja, a possibilidade de regredir moralmente a um estágio anteriormente já trilhado. Esta corrente de pensadores, geralmente, está mais ligada à linha de pensamento das filosofias orientais, através da famosa tese da Metempsicose, abordada por Allan Kardec no texto a seguir:

  1. O terem os seres vivos uma origem comum no princípio inteligente não é a consagração da doutrina da metempsicose?

“Duas coisas podem ter a mesma origem e absolutamente não se assemelharem mais tarde. Quem reconheceria a árvore, com suas folhas, flores e frutos, no gérmen informe que se contém na semente donde ela surge? Desde que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período da humanização, já não guarda relação com o seu estado primitivo e já não é a alma dos animais, como a árvore já não é a semente […].” (1)

Há um encadeamento na Criação entre todas as coisas sendo este processo de evolução muito bem caracterizado, indicando tudo ser solidário. Entretanto, pelo fato da existência deste entrelaçamento, não indica que possamos retornar às origens, conforme asseveram os Espíritos nesta outra questão:

  1. Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?

“Isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente.” (1)

Vê-se no texto a informação de que se o rio não remonta à sua nascente, indica que lá já esteve, mas isto não implica na possibilidade de voltar à origem, assim, a metempsicose não se sustenta do ponto de vista espírita.

Allan Kardec, ainda em O Livro dos Espíritos, comenta sobre a metempsicose:

  1. Não é novo, dizem alguns, o dogma da reencarnação; ressuscitaram-no da doutrina de Pitágoras. Nunca dissemos ser de invenção moderna a Doutrina Espírita. Constituindo uma lei da Natureza, o Espiritismo há de ter existido desde a origem dos tempos e sempre nos esforçamos por demonstrar que dele se descobrem sinais na antiguidade mais remota. Pitágoras, como se sabe, não foi o autor do sistema da metempsicose; ele o colheu dos filósofos indianos e dos egípcios, que o tinham desde tempos imemoriais. […] Contudo, entre a metempsicose dos antigos e a moderna doutrina da reencarnação, há, como também se sabe, profunda diferença, assinalada pelo fato de os Espíritos rejeitarem, de maneira absoluta, a transmigração da alma do homem para os animais e reciprocamente. (1)

Para ajudar no entendimento deste processo evolutivo, imaginemos a existência de instrumentos de medição de virtudes (moral) e do intelecto: o “Virtuômetro” e o “Intelectômetro”. Imediatamente ao renascer um Espírito, suponhamos fosse medido o seu grau de moralidade e de intelectualidade em uma escala de zero a cem. Imaginemos este Espírito indicando o valor 10, a título de exemplo, em paciência e 15 em inteligência, talvez valores bem típicos em um mundo como o nosso. Ao sair da Terra, desencarnando, tomadas novamente as medições, este Espírito poderia apresentar leituras pelos instrumentos de 10 ou mais de 10, na virtude paciência, e certamente mais de 15 em inteligência, ou seja, em moral pode-se estacionar, mas não em inteligência. E mais, não poderia apontar jamais leitura abaixo de 10 em paciência, tampouco menos de 15 em inteligência, isto significaria retroceder em qualquer dos dois campos.

Cabe destacar a magnanimidade de Deus, impedindo, pelo funcionamento natural de Suas leis, a possibilidade de retroagirmos, recomeçando ou conquistando de novo o que foi adquirido à duras penas em vidas passadas. Jamais regrediremos, muito menos estacionaremos eternamente!

Rogério Miguez

Referência:
(1) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro.

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://blogmeev.wordpress.com/tag/allan-kardec/>. Acesso em 05JUN2022.

Rogério Miguez
Rogério Miguez

Trabalhador da Doutrina Espírita desde a Mocidade, tendo atuado no estado de Rio de Janeiro em algumas Casas e, atualmente, em São José dos Campos/SP nos Centros Amor e Caridade, Jacob e Divino Mestre. Colabora em Cursos, Exposições, Atendimento Fraterno e Passes, sendo articulista dos periódicos Reformador e Revista Internacional de Espiritismo.

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