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Reflexões sobre a vida a dois

agosto 8, 2022

A vida a dois merece muitas reflexões nas horas de nosso precioso tempo olhando o azul do céu e filosofando na vida. Na verdade, merecia um  curso. Fazemos cursos de tantas coisas, mas não realizamos cursos para refletirmos e analisarmos a importância e as questões envolvidas em se viver com outra pessoa e dali constituir o que chamamos de  família. Sobre esse tema nos debruçaremos nesse texto em algumas reflexões, de forma encadeada.

A primeira questão é a pessoa com quem dividiremos a nossa caminhada. Deve ser mais igual ou mais diferente do que nós? O diferente complementa e o igual une… Penso que os dois aspectos são importantes, mas que devemos buscar o que temos de mais igual. Não nos aspectos do gosto e das vontades, que são da superfície. Devemos buscar a afinidade em fatores mais profundos, como os princípios e valores. Esses precisam se encontrar várias vezes na caminhada da vida a dois.

Outro ponto interessante é o respeito à individualidade. Termos nosso espaço é necessário! Não podemos nos sentir sufocados… Mas essa visão de respeito a à individualidade por vezes se confunde com culto ao individualismo. Loteamos horários e espaços, achamos que respeitar o outro é ter o dia do futebol e o dia do chá com as amigas. É mais do que isso! É entender os projetos do outro, as visões e fazer com que o espaço coletivo tenha espaço para cada um, inclusive os filhos.

Não podemos deixar de falar da rotina… A rotina é boa, pois as surpresas podem ser desagradáveis. A rotina nos encaminha à reclamação sistemática, às frustrações que são comuns à vida, oriundas da nossa vontade de controlar o mundo. É preciso lidar com as frustrações, convivendo com a alegria do possível e a luta pelo impossível. 

Da reclamação deve surgir o diálogo resolutivo. As frustrações nos fazem lembrar que não se pode ter tudo na vida, independente se a vida é a dois ou não, e que existem conquistas individuais e coletivas. A rotina não pode ser culpada da nossa ausência de capacidade de enxergar que cada dia é um dia novo, com desafios e oportunidades.

Os desafios, essa é uma reflexão muito interessante. Não nos preparamos para a vida a dois. Pensamos apenas nos momentos idílicos ou nos assustamos de forma maniqueísta com a possibilidade do casamento. A vida tem desafios- a subsistência, a doença, o desencarne, as ilusões- e os desafios demandam maturidade, coragem e solidariedade. Existirão dias de prosperidade, mas também dias de luta. Perceber isso é um grande sinal de maturidade.

Remete-nos essa questão que a vida a dois nos faz protagonistas, deixamos de ser adolescentes e somos agora adultos responsáveis- respondemos pela nossa vida. Precisamos romper os liames com os nossos pais, seguir adiante, mantendo a boa relação sem dependência. Está aí mais um segredo da vida a dois! Ter uma vida a dois é ter o desejo de construir uma relação. É mais do que consumir em outro nível. É dar de si, abrir mão em torno de um novo instituto que receberá em breve novos espíritos, dando prosseguimento ao ciclo da vida.

E às vezes é do ciclo da vida as relações terminarem. Esse processo nos demanda civilidade, respeito e acima de tudo uma postura cristã. Separar-se é uma arte quase tão sublime quanto se unir. O respeito, o cuidado com as crianças, o atendimento aos compromissos materiais assumidos e o clima de paz, devem ser situações observadas, onde a religião nos auxilia nesse processo.

Por fim, na nossa reflexão de idéias encadeadas, podemos asseverar que uma vida a dois saudável não prescinde de uma religião. A religião é que nos permite trabalhar a espiritualidade, relacionar-nos com outros planos da vida sem esquecer a vida no Planeta Terra. A religião nos brinda com a profundidade dos valores e os alicerces da fé nos sustentam nos momentos difíceis, naturais da vida a dois.

Refletir sobre a vida a dois, o que ela significa, é caminho de amadurecimento. Mais do que festas, cerimônias, imóveis e móveis, a decisão de trilhar caminhos conjuntos traz consequências para a nossa encarnação atual e para as futuras. Conseqüências felizes, mas por vezes desastrosas. 

Marcus Vinícius de Azevedo Braga

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://br.pinterest.com/pin/696721004849798550/>. Acesso em 08AGO2022.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Marcus Vinicius de Azevedo Braga

Residindo atualmente na cidade do Rio de Janeiro, espírita desde 1990, atua no movimento espírita na evangelização infantil, sendo também expositor. É colaborador assíduo do jornal Correio Espírita (RJ) e da revista eletrônica O Consolador (Paraná). É autor do livro Alegria de Servir (2001), publicado pela Federação Espírita Brasileira (FEB) e do Livro "Você sabe quem viu Jesus nascer" (2013), editado pela Editora Virtual O Consolador.

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