
Da existência d’alma – A alma independe da matéria e conserva sua individualidade após a morte
Recordando Allan Kardec
O Espiritismo rompe – de maneira magistral – as transcendentes fronteiras que dividem o Mundo Material e o Mundo Espiritual, descortinando-nos os imensuráveis horizontes espirituais, anteriormente já desvelados por Jesus e só agora tornados “palpáveis” pelos ensinamentos espíritas.
Logo na introdução da obra Mestra do Espiritismo[1], o Codificador achou por bem definir a palavra alma, uma vez que ela é “um dos fechos de abóbada de toda doutrina moral e é objeto de inúmeras controvérsias, à míngua de uma acepção bem determinada.”
Allan Kardec mostra as três definições existentes para a palavra alma1:
1 – Princípio da vida material;
2 – Princípio da inteligência;
3 – Ser moral, distinto, independente da matéria e que conserva sua individualidade após a morte. Esta acepção é, sem contradita, a mais geral, porque, debaixo de um nome ou outro, a ideia desse ser que sobrevive ao corpo se encontra, entre todos os povos, qualquer que seja o grau de civilização de cada um. Essa doutrina, segundo a qual a alma é causa e não efeito, é a dos espiritualistas.
Possibilitando-nos maiores descortinos na compreensão de tão importante quão transcendente tema, ensina ainda o ínclito Mestre Lionês[2]: “(…) de maneira definitiva e patente, o Espiritismo demonstra a existência d’alma, provando que é um ser definido, imperecível, eterno…
A filosofia de todos os tempos esteve ligada à procura da alma, de sua natureza, de suas faculdades, de sua origem e de seu destino… Inumeráveis teorias foram feitas a esse respeito, e a questão sempre ficou indecisa. Por que isso? Aparentemente nenhuma encontrou o nó do problema, e não o resolveu de maneira bastante satisfatória para convencer todo o mundo. O Espiritismo veio por sua vez dar a sua; ele se apoia sobre a psicologia experimental; estuda a alma, não só durante a vida, mas depois da morte; observa-a no estado de isolamento; ele a vê agir em liberdade, ao passo que a filosofia comum não a vê senão em sua união com o corpo, submissa aos entraves da matéria, é porque ela confunde muito, frequentemente, a causa com o efeito. Ela se esforça em demonstrar a existência e os atributos da alma por fórmulas abstratas, ininteligíveis para as massas; o Espiritismo dela dá provas palpáveis e, por assim dizer, fá-la tocar com o dedo e com os olhos; exprime-se em termos claros, ao alcance de todos.
Entanto, a filosofia espírita tem um grave erro aos olhos de muitas pessoas e esse erro está em uma única palavra: a palavra alma, mesmo para os incrédulos, tem alguma coisa de respeitável e que impõe; a palavra Espírito, ao contrário, desperta neles as ideias fantásticas das lendas, dos contos de fadas, dos fogos-fátuos, dos lobisomens, etc; admitem de boa vontade que se possa crer na alma, embora não crendo nela por si mesmos, mas não podem compreender senão com bom senso se possa crer nos Espíritos. Daí uma prevenção que os faz olhar essa ciência como pueril e indigna de sua atenção; julgam-na pela etiqueta, creem-na inseparável da magia e da feitiçaria. Se o Espiritismo tivesse se abstido de pronunciar a palavra Espírito, se a tivesse em todas as circunstâncias substituído pela palavra alma, a impressão, para eles, teria sido diferente. A rigor, esses profundos filósofos, esses livres pensadores, admitirão bem que a alma de um ser que nos foi caro, ouve nossos lamentos e vem nos inspirar, mas não admitirão que ela seja a mesma de seu Espírito.
Por que o Espiritismo se serviu da palavra Espírito? É um erro? Não, ao contrário! Primeiramente esta palavra estava consagrada desde as primeiras manifestações, antes da criação da filosofia espírita; uma vez que se tratasse de deduzir as consequências morais dessas manifestações, havia utilidade em conservar uma denominação passada em uso, a fim de mostrar a conexão dessas duas partes da ciência. Além disso, era evidente que a prevenção ligada a esta palavra, circunscrita a uma categoria especial de pessoas, deveria se apagar com o tempo; o inconveniente não poderia senão ser momentâneo. Em segundo lugar, se a palavra Espírito era um repelente para alguns indivíduos, era um atrativo para as massas, e deveria contribuir mais do que a outra para popularizar a Doutrina.
Existe um terceiro motivo até mais sério do que os dois outros: as palavras alma e Espírito, se bem que sinônimas e empregadas indiferentemente, não exprimem exatamente a mesma ideia. A alma, propriamente falando, é o princípio inteligente, princípio inapreensível e indefinido como o pensamento. No estado de nossos conhecimentos, não podemos concebê-la isolada da matéria de modo absoluto. O perispírito, embora formado de matéria sutil, dela fez um ser limitado, definido, e circunscreveu a sua individualidade espiritual; de onde se pode formular esta proposição: a união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o HOMEM; a alma e o perispírito separados do corpo constituem o ser chamado ESPÍRITO. Nas manifestações, não é, pois, só a alma que se apresenta; ela está sempre revestida de seu envoltório fluídico; esse envoltório é o intermediário necessário com a ajuda do qual age sobre a matéria compacta. Nas aparições, não é a alma que se vê, mas o perispírito; do mesmo modo que quando se vê um homem se vê seu corpo, mas não se veem o pensamento, a força, o princípio que o faz agir.
Em resumo, a alma é o ser simples, primitivo; o Espírito é o ser duplo; o homem é o ser triplo. Nas circunstâncias das quais se trata, a palavra Espírito é a que corresponde melhor à coisa expressa. Pelo pensamento, representa-se um Espírito, não se representa uma alma.
As almas ou Espíritos assim distribuídos na imensidade constituem o mundo invisível que nos cerca e no meio do qual nós vivemos; de sorte que esse mundo não é composto de seres fantásticos, de gnomos, de duendes, de demônios chifrudos e com pés fendidos, mas dos mesmos seres que formaram a humanidade terrestre. Que há nisso de absurdo?! O Mundo Visível e o Mundo Invisível achando-se assim perpetuamente em contato, disso resulta uma reação incessante de um sobre o outro; daí uma multidão de fenômenos que entram na ordem dos fatos naturais. O Espiritismo moderno nem os descobriu nem os inventou; melhor os estudou e melhor observou; procurou-lhes as leis e, por isso mesmo, as tirou da ordem dos fatos maravilhosos.
Os fatos que se prendem ao mundo invisível e às suas relações com o mundo visível, mais ou menos bem observados em todas as épocas, se ligam à história de quase todos os povos, e, sobretudo à história religiosa… É por falta de reconhecer essa relação que tantas passagens ficaram ininteligíveis, e foram tão diversa e falsamente interpretadas”.
Rogério Coelho
Referências:
[1] – KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2002, Introdução, tomo II.
[2] – KARDEC, Allan. Revue Spirite.Maio de 1864, Araras: IDE, 1993, p. 138-140.
Nota do Editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/allan-kardec-o-espiritismo-no-brasil.phtml>. Acesso em: 06SET2022.
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