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O cântaro abandonado

julho 23, 2024

Abandonar o cântaro é deixar para trás tudo que julgamos ser importante

Deixou, pois a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e disse
àqueles homens: vinde, vede um homem que me disse tudo
quanto  tenho  feito. Porventura não é este o Cristo?”
– João, 4:28 e 29.

O estudo da Codificação Espírita, bem como das obras das lavras de André Luiz, Emmanuel, Joanna de Ângelis, Amélia Rodrigues, Camilo, Ivan de Albuquerque, Yvonne do Amaral Pereira e outros Espíritos Superiores, nos oferecem instrumental de garimpo para extrairmos as pérolas preciosas engastadas no Evangelho de Jesus, as preciosidades que ficam ocultas sob a ganga de nossas análises superficiais, mas que aparecem sob o facho luminoso e aurifulgente do Espiritismo.

Para compreendermos certos lances que aconteciam nos diálogos de Jesus e mesmo no comportamento das pessoas que privaram de Seu contato direto, é necessário nos premunirmos das alcandoradas luzes da Doutrina Espírita. Só assim conseguiremos “garimpar” os brilhantes filosóficos ocultos sob o pálio da alegoria. Em geral faz-se necessária a remoção de muito cascalho (ignorância) para que apareça a joia oculta.

As preciosidades às vezes ocultam-se nos meandros de uma frase solta como, por exemplo, a que está em negrito no versículo em epígrafe. Antes de começarmos a  “escavação” é preciso conhecer o terreno:  Samaria, cidade da Palestina, a oeste de Siquém, fundada por Onri, cerca de 920 a.C., sendo mais tarde reedificada por Herodes, o Grande, que lhe deu o nome de Sebaste. A província da Samaria, a região central da Palestina, estendia-se do Mar Mediterrâneo até o Vale do Jordão, coincidindo com a terra da meia-tribo de Manassés.

Samaritanos, população mista, em parte da descendência israelita, que os exilados de volta do cativeiro babilônico encontraram no Israel Setentrional. Eram odiados pelos vizinhos e rivais da teocracia judaica. “Samaritano” para o judeu era palavra desprezível e vitupério, tanto que em vários trechos do Evangelho observamos esse fato: “e caiu aos seus  pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano.” (Lc., 17:16.); “não dizemos nós bem que é samaritano, e que tens demônio?” (Jo., 8:48.);  “sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?”  (Jo., 4:9.)  A “Parábola do Bom Samaritano” enfatiza a inferioridade social dos samaritanos frente ao sacerdote e ao levita, colocando-o, porém, com mais méritos que estes, pois, apesar de ser samaritano fez mais pelo desvalido do que aqueles que deveriam tê-lo feito.

Sob o título de “Notícias Históricas”, está consignado o seguinte no terceiro livro da Codificação Espírita[1]:

“após o cisma das dez tribos, Samaria se constituiu a capital do reino dissidente de Israel. Destruída e reconstruída várias vezes, tomou-se, sob os romanos, a cabeça da Samaria, uma das quatro divisões da Palestina.

Os samaritanos estiveram quase constantemente em guerra com os reis de Judá. Aversão profunda, datando da época da separação, perpetuou-se entre os dois povos, que evitavam todas as relações recíprocas. Aqueles, para tornarem maior a cisão e não terem de vir a Jerusalém pela celebração das festas religiosas construíram para si um templo particular e adotaram algumas reformas. Somente admitiam o Pentateuco, que continha a lei de Moisés, e rejeitavam todos os outros livros que a esse foram posteriormente anexados. Seus livros sagrados eram escritos em caracteres hebraicos da mais alta Antiguidade.

Para os judeus ortodoxos, eles eram heréticos e, portanto, desprezados, anatematizados e perseguidos. O antagonismo das duas nações tinha, pois, por fundamento único a divergência das opiniões religiosas; se bem fosse a mesma a origem das crenças de uma e outra.  Eram os protestantes desse tempo.

Ainda hoje se encontram samaritanos em algumas regiões do Levante, particularmente em Nablus e em Jafa. Observam a lei de Moisés com mais rigor que os outros judeus e só entre si contraem alianças.”

Agora um detalhe importante: naquela região, a água era uma raridade e todos se abasteciam do precioso líquido no poço de Jacó. O cântaro utilizado no transporte e armazenamento da água era colocado num lugar de evidência dentro de casa, pois era a coisa mais importante. E foi junto a essa fonte que Jesus encontrou-Se com a mulher samaritana, ocasião em que ela recebe a informação pela qual ansiavam todos[2]: “Eu sou o Cristo, Eu que falo contigo.” Aí vem a frase solta cujo significado jamais perceberíamos não fossem as notícias históricas estudadas na digressão acima: “deixou pois a mulher o seu cântaro, e foi à cidade.”

Na obra de André Luiz “No Mundo Maior”, observamos as seguintes palavras, mencionadas por Calderaro: “dirigindo-se à mulher samaritana, Jesus não desce às contendas inúteis. Impressiona-a pelo contacto de Sua Alma divina, fazendo-a abandonar o velho cântaro da fantasia, para que busque as fontes eternas.”

Entendemos, com Calderaro, que “velho cântaro”, são nossos ancestrais atavismos, nosso apego a tudo o que perece em detrimento de tudo que permanece.

Abandonar o cântaro (para a samaritana) foi deixar para trás tudo que era importante materialmente falando, direcionando suas cogitações para o Reino dos Céus, atendendo em espírito e verdade aquela outra ordenação que diz[3]: “buscai primeiro o Reino dos Céus e tudo o mais vos será acrescentado.”

Abandonemos também o nosso velho cântaro das humanas e inúteis necessidades, alijando juntamente nossas imperfeições, egoísmo, ambições descabidas, personalismo soez e tudo que nos agrilhoa à inutilidade, e a exemplo de Maria, irmã de Lázaro, saibamos optar pela parte boa, aquela que os ladrões não roubam nem as traças roem: as conquistas inalienáveis do Espírito, vez que estas permanecerão.

Rogério Coelho

Referências:
[1] – KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 121.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, Introdução, item III;
[2] – Jo., 4:26; e
[3] – Mt., 6:33.

Rogério Coelho
Rogério Coelho

Rogério Coelho nasceu na cidade de Manhuaçu, Zona da Mata do Estado de Minas Gerais onde reside atualmente. Filho de Custódio de Souza Coelho e Angelina Coelho. Formado em Jornalismo pela Faculdade de Minas da cidade de Muriaé – MG, é funcionário aposentado do Banco do Brasil. Converteu-se ao Espiritismo em outubro de 1978, marcando, desde então, sua presença em vários periódicos espíritas. Já realizou seminários e conferências em várias cidades brasileiras. Participou do Congresso Espírita Mundial em Portugal com a tese: “III Milênio, Finalmente a Fronteira”, e no II Congresso Espírita Espanhol em Madrid, com o trabalho: “Materialistas e Incrédulos, como Abordá-los?” Participou da fundação de várias casas Espíritas na Zona da Mata Mineira.

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