tempo passa rápido

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O tempo passa rápido

setembro 10, 2024

As férias escolares estavam quase no fim. O ritmo já era de retomada às atividades. Organizar uniformes, mochilas das crianças, roupa do trabalho, entre outras coisas da rotina daquele lar.

Pedrinho, o filho mais novo, acordou mais tarde e percebeu a movimentação diferente na casa. Ninguém estava preparando lanches para piqueniques ou organizando brinquedos. As roupas leves de passeio haviam sido trocadas por sapatos e blusas de mangas compridas pesadas. E até mesmo a TV já estava ligada no noticiário ao invés de programas divertidos.

Diferente dos demais dias nos quais se dirigia à cozinha alegre para abraçar os pais, sorrindo e correndo de um lado para outro; limitou-se a chegar devagar no cômodo, murmurando um bom dia seco e retornando em seguida para o sofá da sala, onde se encostou jogado e sem forças.

Julgando inicialmente ser uma questão de saúde, os pais entreolharam-se e foram atrás do menino na sala, sentando-se ao redor dele.

– “Está sentindo alguma coisa, filho?” – perguntou a mãe.

– “Aconteceu algo? – questionou o pai.

Fez-se o silêncio por alguns instantes e o garoto abraçou os pais, falando baixinho:

– “Foi tudo tão rápido… Acabaram as férias, não é, papai?

Para alívio dos pais não era nada demais. Apenas o lamento normal de encerramento de um ciclo.

– “Sim, filho! Temos que retomar a rotina. Hoje nós voltamos ao trabalho e amanhã você retorna para a escola.” – respondeu o pai. E buscando incentivá-lo, acrescentou:

– “Mas aproveitamos o que pudemos. Jogamos bola, brincamos na praça, passeamos juntos… tanta coisa!”

– “Sim… é verdade. Mas por que o tempo passa tão rápido!?”

*     *     *

Possivelmente a pergunta de Pedrinho representa o questionamento de muitos de nós. Por que o tempo passa tão rápido?

Mas o que é o tempo afinal?

Comecemos pela interpretação de espaço. Espaço pode ser uma extensão na qual seja possível inserir objetos ou coisas que possuam uma limitada dimensão. Pode ainda representar uma medida existente entre dois objetos. Logo, por assim dizer, poderíamos inferir que, se não houvesse objetos ou coisas, não haveria espaço. [1]

Tomando esta linha de raciocínio para o tempo, este só pode fazer sentido se houver referenciais que o permitam medir. E o que medimos com o tempo? Medimos o intervalo decorrido entre em evento e outro. Ou ainda, a duração que separa um evento de outro. Logo, assim como para haver espaço há a necessidade de haver coisas; para que haja tempo é necessário que haja uma sucessão de eventos.

Mas para haver uma sucessão de eventos há necessidade de que tenhamos coisas associadas a elas. Isto nos permite inferir da mesma forma que se não existissem coisas não existiria tempo.[1]

O tempo que contamos na Terra decorre de uma métrica estabelecida a partir da observação dos fatos sob a perspectiva do ser humano.

Todos os orbes possuem um início, um desenvolvimento e um fim. Supondo a possibilidade de um outro ser similar ao ser humano houvesse habitado um planeta extinto muito antes da existência da Terra, certamente a contagem do tempo para ele seria diferente da nossa, considerando que a dinâmica orbital, geológica e da bioevolução a qual estaria sujeito muito provavelmente não seria a mesma à da Terra.

Da ciência humana já sabemos que um viajante que partisse de nosso planeta; afastando-se à velocidade da luz; e retornando em seguida após o curto período de alguns anos, encontraria seu orbe centenas de anos à frente. Ou seja, enquanto para o viajante o intervalo decorrido foi de apenas alguns anos; para um observador na Terra a sua volta só se daria séculos depois.

Com estes postulados, pode-se concluir que o tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias. [1]

O tempo não passa rápido para quem está em um leito de hospital ou aguardando um prato de comida.

Mas voa para quem está com a saúde plena, exercendo todas as potencialidades físicas e de atividades a qual se entrega na juventude.

O tempo da geração de nossos avós possivelmente não passava tão rápido. Não havia tantos elementos socio-tecnológicos anos atrás.

Por outro lado, atualmente precisamos de dispor mais tempo, pois não há tempo para nada. São reuniões, videoconferências, obras, reparos, psicólogo, fisioterapia, academia, consultas médicas, ônibus, trem, aeroporto, engarrafamentos, redes sociais, escolas, livros, mensagens de texto, ligações, streamings, youtubers, podcasts, … entre tantas outras coisas que fazem com que experimentemos uma sucessão contínua e intensa de eventos. E assim o tempo voa de fato.

Da imensidão do cosmos temos conhecimentos das distâncias astronômicas que separam as coisas. E a cada vez que a tecnologia avança ela permite irmos mais além das observações que conhecemos do espaço profundo, levando-nos a perceber diferenças nas taxas de expansão do universo. [2]  Talvez seja neste caminho pelo qual futuramente a ciência, a filosofia e a religião possam convergir para o entendimento de que o espaço é infinito.

E neste infinito, tantos mundos na vasta amplidão, quantos tempos diversos e incompatíveis. [1] E, ainda, na sucessão dos mundos, medidas de tempo nascem e se extinguem dando lugar à eternidade.

Finalizando as ideias sobre o tempo, o que representará o período de férias de Pedrinho diante da eternidade? No amontoado de séculos e séculos, milhões, bilhões de anos adiante serão como poeira no horizonte da qual a vista não enxerga mais.

Todavia, os conhecimentos adquiridos e o amor lapidado no seio dos pais ficarão registrados eternamente na escala de progresso do espírito.

Em nosso hoje não há tempo para nada, sabemos.

Mas que haja tempo para o exercício do amor e da caridade, pois estes serão levados pelo espírito no espaço infinito pela eternidade.

Márcio Martins da Silva Costa

Referência:
[1]    A. Kardec, A Gênese. Brasília (DF): Federação Espírita Brasileira, 2013; e
[2]    A. G. Riess et al., “JWST Observations Reject Unrecognized Crowding of Cepheid Photometry as an Explanation for the Hubble Tension at 8σ Confidence,” Astrophys. J. Lett., vol. 962, no. 1, p. L17, 2024, doi: 10.3847/2041-8213/ad1ddd.

Nota do Editor:
Publicado na Revista Candeia Espírita, nº 36, de setembro de 2024.

Márcio Costa
Márcio Costa

Membro do Conselho Editorial da Agenda Espírita Brasil e colaborador do Centro Espírita Seara de Luz, em São José dos Campos - SP, atua na divulgação da Doutrina Espírita escrevendo textos e realizando palestras.

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