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Mocidades Espíritas – origens, desenvolvimento e a atualidade

novembro 22, 2024

Em alguns registros de datas evocativas aparece o dia 13 de novembro como o “dia do moço espírita”. Atualmente, não se nota referência a essa data, diferente dos anos 1950 e 1960 quando era assinalada em “calendários espíritas” e ocorriam comemorações alusivas à efeméride.

Qual a origem da então data comemorativa? Por que caiu no esquecimento?

No contexto de intensas atividades de jovens espíritas e de criação de mocidades espíritas é que começou a ser evocada a citada data.

No final dos anos 1940, havia muito dinamismo e idealismo no movimento espírita e com expressiva atuação de jovens espíritas.

Entre as propostas vicejava a de se estabelecer uma efetiva união dos espíritas. Nesse contexto é que ocorreu o histórico Congresso Brasileiro de Unificação Espírita (São Paulo, 1948). Como desdobramento e até reação, tipo defensiva, um ano depois, repentinamente foi definido o chamado “Pacto Áureo”, assinado com a FEB, em outubro de 1949, prevendo a criação do Conselho Federativo Nacional da FEB.

Ao mesmo tempo, algumas lideranças jovens radicadas no Rio de Janeiro aproximaram-se da Federação Espírita Brasileira e assinaram um compromisso que ficou conhecido como Ato de Unificação das Mocidades Espíritas do Brasil, no dia 13 de novembro de 1949. Em seguida, no dia 02 dezembro de 1949, foi criado o Departamento de Juventude da FEB, dirigido por um diretor adulto da Instituição. Em janeiro de 1950 nasceu o jornal Brasil Espírita, de responsabilidade desse Departamento da FEB. Em decorrência desses episódios, a partir de lideranças jovens do Rio de Janeiro e da FEB, o dia 13 de novembro passou a ser designado de “dia do moço espírita”. A data comemorativa foi assinalada pelo movimento das mocidades espíritas, mas o citado Departamento da FEB e seu jornal não tiveram maiores influências entre os moços espíritas.

Atualmente, ponderamos se não seria questionável a forma como foi assinado o compromisso citado no dia 13 de novembro, apresentando-o como expressão nacional?

Torna-se importante realçarmos que as criações e ações dos jovens espíritas eram independentes, com idealismo e dinamismo típicos da faixa etária e, de certa forma, preenchendo uma lacuna no movimento espírita da época, pois os jovens promoviam o estudo e a difusão das obras básicas de Kardec. De certa forma, os centros espíritas estavam mais envolvidos com reuniões mediúnicas, atividades assistenciais e reuniões com palestras. Por isso, nos anos 1940 Leopoldo Machado desfraldou a bandeira e campanha de “espiritismo de vivos”.

[…] O ano de 1948 registra importantes fatos: foi realizado o 1o Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil (17 a 25/7/1948) efetivado na cidade do Rio de Janeiro, liderado pelo incansável Leopoldo Machado; surgiu em Barretos (SP) a Concentração de Mocidades Espíritas do Brasil Central e Estado de São Paulo – COMBESP, reunindo jovens de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e o Distrito Federal (Rio de Janeiro). Destacamos que esse evento anual foi o maior celeiro de preparação de lideranças e expositores espíritas.

[…] Destacamos que até então as mocidades geralmente eram autônomas. A chamada departamentalização delas se inicia nos anos 1960, como anotamos na sequência. O Conselho Federativo Nacional da FEB, iniciava eventos regionais com a discussão sobre temas do movimento espírita. Em 1962, o Simpósio Centro-Sulino, realizado em Curitiba, aprovou deliberações significativas para as Mocidades Espíritas. Com base neste documento recomendou-se a suspensão da COMBESP, encerrada em 1966 na mesma cidade onde surgiu, Barretos (SP), e, estimulando a promoção de eventos estaduais, pelas Federativas Estaduais. Outra recomendação é que as Mocidades e Juventudes Espíritas se transformassem ou fossem criadas como departamentos de Centros Espíritas.

[…] Na década de 1970, a partir da FEB, surgiram questionamentos sobre cursos, eventos de jovens, acarretando um desestímulo e até desmantelamento de ações de infância e juventude, com registros na revista Reformador. A essa postura, em seguida, houve reação do presidente Francisco Thiesen que considerou uma “decisão infeliz” da Instituição e de sua revista, e, em 1977, este presidente da FEB inicia uma nova etapa com a instalação da Campanha Nacional de Evangelização Infantojuvenil.

Nesse registro histórico sobre as ações das mocidades espíritas junto às instituições, que na época contribuíram para o estímulo ao estudo, destacamos a preparação de recursos humanos e para a dinamização do movimento espírita no início da segunda metade do Século XX.

A nosso ver, a departamentalização das mocidades, por um outro lado, gerou condições para que dirigentes adultos passassem a exercer um certo controle.

Nas federativas criou-se um departamento de infância e juventude. A exceção foi a USE-SP, mantendo departamentos separados de Mocidades e de Infância.

Começamos a notar claramente, uma ênfase à evangelização infantil e, digamos, criando-se uma visão com perspectiva mais infantilizada do adolescente e do jovem. Simultaneamente houve o progressivo acesso ao ensino superior e consideráveis contingentes de jovens espíritas tornaram-se universitários. Esse contexto cria ambientações intelectuais e até momentos de impactos que influenciam no amadurecimento dos jovens universitários. Muitos não mais se adequaram ao tipo de organização e funcionamento dos centros espíritas. Estes, em geral, fecharam-se com propostas de cursos com programações padronizadas que, na atualidade, não é motivador para a infância e juventude que gostariam de analisar questões da sociedade atual à luz do espiritismo.

Há deficiência de criação de autênticos espaços de convivência e interativos com essas faixas etárias. Há algum tempo procuramos chamar atenção do movimento espírita para a compreensão dos novos contextos, inclusive durante nossa gestão como presidente da FEB, encontrando muitas resistências. Nosso ponto de vista fica reforçado com a simples verificação de como anda a presença de jovens nos centros espíritas. Há um registro forte e marcante que corrobora nossa opinião: nos dados dos Censos do IBGE, desde 2000 e 2010, na análise comparativa com as demais religiões, o segmento espírita e das religiões orientais são as que menos cresceram nas faixas etárias até 29 anos.

Cremos que relacionamos algumas causas do decréscimo da presença de jovens no movimento espírita. Matéria para estudos e reflexões!

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Fonte:
Carvalho, Antonio Cesar Perri. Centro Espírita: prática espírita e cristã. São Paulo: USE-SP. 2016. 196p.

Síntese-trechos de artigo do autor publicado em Dirigente Espírita (copie e cole): https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2024/11/reDE-203-nov-dez-2024.pdf

Antonio Cesar Perri de Carvalho
Antonio Cesar Perri de Carvalho

Ex-presidente da Federação Espírita Brasileira (interino de 5/2012 a 3/2013 e efetivo de 3/2013 a 3/2015); membro da Comissão Executiva e Primeiro Secretário do Conselho Espírita Internacional; Membro do Grupo de Estudos Espíritas Chico Xavier.

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