Não basta fazer o bem, é preciso ser Bom!

Francisco Rebouças
10/02/2016
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francisco_rebouçasNos ensinamentos que os espíritos superiores ministraram ao insigne codificador do Espiritismo, encontramos um acervo literário tão rico e farto, em termos de conhecimento das Leis universais, que regulam a nossa vida de espíritos eternos contidos na codificação, que decisivamente marcou e dividiu a humanidade em antes e depois de Allan Kardec.

Antes, ostentávamos a ideia de fazer o bem porque desta forma ele nos renderia benefícios de retorno a nossa vida. Assim, ajudar o próximo, praticar a solidariedade, a indulgência, a tolerância, perdoar as ofensas e agressões que sofremos, representavam moedas com a qual compraríamos o nosso bem estar definitivo para o futuro, seria uma espécie de investimento estrategicamente planejado.

Contávamos, com esse procedimento, livrar-nos do fogo fatídico do inferno e adquirir o passe de entrada, que nos garantiria um lugarzinho no céu, ao lado dos eleitos do senhor, para desfrutarmos daí em diante das regalias, das festas etc., da desobrigação de nos preocuparmos em algo fazer, pois tudo nos seria doravante concedido gratuitamente.

Com o advento do Espiritismo, a humanidade passou a enxergar essa forma de trabalho no bem, não como uma maneira de conquistar um lugar no céu, de forma egoísta, de algo fazer para receber uma compensação que justificasse tal prática. Compreendemos que devemos sim, praticar a caridade, mas por prazer, sem visar recompensa em troca, pois os espíritos através do codificador do espiritismo nos ensinaram que proceder no bem é antes de tudo uma atitude inteligente em prol de nós mesmos na construção da felicidade que tanto almejamos, e que depende exclusivamente de nosso próprio esforço conquista-la.

“Mas, lembrai-vos bem de que o Cristo renega, como seu discípulo, todo aquele que só nos lábios tem a caridade.

Não basta crer; é preciso, sobretudo, dar exemplos de bondade, de tolerância e de desinteresse, sem o que estéril será a vossa fé.

Santo Agostinho. (1)

E com a máxima “Fora da caridade não há salvação”, veio o Espiritismo difundir por toda a terra a mensagem já existente de Jesus quando nos afirmou que “a cada um segundo as suas obras” explicando a todos que a nossa vivência no bem é condição imprescindível para lograrmos êxito nos empreendimentos de construção da paz íntima, que só a fé convenientemente entendida será capaz de nos proporcionar a compreensão de que não basta fazer o bem, é preciso fazê-lo sem segundas intenções, pois, somente agindo com pureza de sentimentos e intenções, estaremos seguindo os ensinamentos da Boa Nova.

Não podemos esquecer que a nossa caminhada até os dias atuais foi percorrida de maneira irregular, com altos e baixos, por descuido nosso, por falta de vigilância em quase todos os instantes de nossa romagem pretérita, em que nos fizemos devedores das Leis Divinas e, tudo que hoje empreendemos no sentido de buscar a harmonia interior, a serenidade em nós mesmos, não significa construção nossa em favor da vida ou do nosso semelhante, antes devemos entender esta nossa atual encarnação como sendo mais uma oportunidade de nos reabilitarmos perante as Leis imutáveis de Deus, desfazendo o castelo de egoísmo e orgulho que construímos ao longo de nossas várias estadas neste planeta, e edificarmos o nosso novo projeto de construção baseado na caridade e no amor ao próximo, como nos ensinou Jesus, quando resumiu toda a Lei e os Profetas em “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”.

No Livro dos Médiuns encontramos uma mensagem simplesmente extraordinária, na qual o Espírito de Verdade nos confirma a condição de filhos transviados que fomos outrora, e que o espiritismo vem nos alertar para a grande oportunidade que estamos tendo de refazermos nossos caminhos em busca da luz que esparge amorosa do coração do nosso Mestre maior em direção a cada um de nós seus diletos e queridos irmãos conforme segue.

Livro dos médiuns Capítulo XXXI – IX

“Venho, eu, vosso Salvador e vosso juiz; venho, como outrora, aos filhos transviados de Israel; venho trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como outrora a minha palavra, tem que lembrar aos materialistas que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinar a planta e que levanta as ondas. Revelei a Doutrina Divina; como o ceifeiro, atei em feixes o bem esparso na Humanidade e disse: Vinde a mim, vós todos que sofreis! Mas, ingratos, os homens se desviaram do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e se perderam nas ásperas veredas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer, não mais por meio de profetas, não mais por meio de apóstolos, porem, que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto a morte não existe, vos socorrais e que a voz dos que já não existem ainda se faça ouvir, clamando-vos: Orai e crede! por isso que a morte é a ressurreição, e a vida – a prova escolhida, durante a qual, cultivadas, as vossas virtudes têm que crescer e desenvolver-se como o cedro.

Crede nas vozes que vos respondem: são as próprias almas dos que evocais. Só muito raramente me comunico. Meus amigos, os que hão assistido à minha vida e à minha morte são os intérpretes divinos das vontades de meu Pai.

Homens fracos, que acreditais no erro das vossas inteligências obscuras, não apagueis o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos, para vos clarear a estrada e reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.

Em verdade vos digo: crede na diversidade, na multiplicidade dos Espíritos que vos cercam. Estou infinitamente tocado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa imensa fraqueza, para deixar de estender mão protetora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem no abismo do erro. Crede, amai, compreendei as verdades que vos são reveladas; não mistureis o joio com o bom grão, os sistemas com as verdades.

Espíritas! amai-vos, eis o primeiro ensino; instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades se encontram no Cristianismo; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgais o nada, vos clamam vozes: Irmãos! nada perece; Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade”. (2)

Cabe-nos o dever de estudar com seriedade as obras da codificação como forma inesgotável e segura de alicerçar nossos conhecimentos, nos ensinos nela contidos, a fim de que quando nos utilizarmos das obras complementares, de grande valor doutrinário indiscutivelmente, possamos fazê-lo com conhecimento de causa, não nos deixando influenciar por obras mediúnicas sim mas não espíritas, que hoje infestam as livrarias das casas Espíritas, vendidas como se representassem algo proveitoso para quem os adquire sem prévio conhecimento  do verdadeiro espiritismo codificado por Allan Kardec.

Francisco Rebouças

Bibliografia:
1 – Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns – FEB. 77ª edição – Cap. XXXI – item I.
2 – Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns – FEB. 77ª edição – Cap. XXXI – item IX.

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