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A (boa?) ação

abril 8, 2016

paulo-lara-redimensionadaAmigo de estudos da Doutrina Espírita, o que define uma ação para ser considerada ‘boa’? E o que torna uma ação ‘má’? A mesma ação pode ser boa e ruim ao mesmo tempo?

Exemplifiquemos, munidos de um dilema moral.

Suponha que um trem descontrolado vá atingir cinco pessoas que trabalham desprevenidas sobre os trilhos, mas você tem a chance de evitar a tragédia acionando uma alavanca que leva o trem para outra linha, onde ele atingirá apenas uma pessoa. Pergunta-se: você acionaria a alavanca e mudaria o trajeto do trem, salvando as cinco e matando aquele trabalhador solitário? Esta ação, caso tomada, pode ser reputada ‘boa’?

Difícil, não?

Segundo a revista ‘Super-Interessante’ de junho de 2008, pesquisa efetuada pela revista ‘Time’ revelou que 97% dos leitores salvariam os cinco em detrimento daquele isolado trabalhador. Bem verdade, reproduzida a enquete no grupo de estudos do livro “O Consolador” (Emmanuel/Chico) na Casa Espírita que frequentamos (GE Esperança e Caridade, de Rio Preto), as opiniões quase se dividiram (algo em torno de 60% em favor de provocar a mudança da linha).

Trata-se de um dilema moral, um exercício de pensamento, que nos leva à seguinte reflexão: onde estaria a medida e o critério para definir uma ação como ‘boa’?

Sigamos problematizando para além daquelas revistas.

E se o desvio dos trilhos levasse o trem a atingir uma única pessoa: seu pai! A mudança da linha do trem pouparia a vida de cinco pessoas, mas ceifaria a de um seu parente.

E agora, o que fazer?

Nem se tivessem mil do outro lado, não é mesmo? Ou não?

Suavizemos.

E se, ao invés de ceifar-lhe a vida, o desvio do trem salvasse os trabalhadores, mas implicasse na perda do seu emprego de chefe-da-estação, porque a manobra não seria permitida, ou porque traria grande prejuízo econômico, ou por qualquer outra razão?

Silêncio.

Pois é, enquanto você pensa o trem atropela os operários desprevenidos…

Não teria sido este o dilema de Pilatos? Para salvar seu cargo quando os Judeus o ameaçaram – “se não condenares este Homem (Jesus) não és amigo de César” (1) -, ele, apesar de convencido da inocência do sublime prisioneiro, simplesmente lavou as mãos e deixou o trem passar, distraído!

E você, chefe-da-estação? Olharia para o outro lado? Lavaria as mãos? Ou tiraria o trem dos trilhos, definitivamente?

Conveniência pessoal X interesse alheio, não é isso?

Voltemos à pergunta inicial – o que define uma ação como boa -, agora com a resposta.

Emmanuel definirá a boa ação como “aquela que visa o bem de outrem” (2). Assim, uma ação seria boa quando objetivasse o bem alheio (não o seu). Logo, entre a sua (in) conveniência pessoal e o bem de seu irmão, opte pelo segundo.

Mas com qual critério? “O critério do bem geral deve ser a essência de qualquer atitude”(3) – dirá o Instrutor. Daí que Emmanuel adota uma linha de pensamento filosófico conhecido por ‘utilitarismo’ (4), para a qual a melhor ação será aquela que beneficiar o maior número de pessoas. ‘Princípio da maior felicidade’, agir de maneira a produzir a maior quantidade de bem-estar possível.

Tendemos a concordar com essas proposições, desde que não sejam os nossos interesses que se encontrem do outro lado do trilho, não é mesmo? Possivelmente acionaríamos a alavanca para ‘matar’ o trabalhador desconhecido (princípio do mal menor), mas dificilmente o faríamos se a vítima fossemos nós ou um dos nossos (parentes/amigos).

Curiosa apreciação é feita pelos Espíritos da Codificação, quando apontam justamente o “interesse pessoal” como um sinal inequívoco da imperfeição moral, tirante os demais defeitos sob os quais ninguém tem dúvida (5). Diante da nossa conveniência pessoal – dizem eles – deixamos de lado, frequentemente, as qualidades morais nascentes em nosso ser.

Portanto, uma ação somente poderá ser reputada ‘boa’ se objetivar o bem do outro em detrimento do seu interesse pessoal, porque fazer o bem com o ‘chapéu alheio’, ou ao custo da vida do outro, não pode ser propriamente considerado como uma ação ‘boa’.

Pois é, e como ficamos, então, com relação ao trem? Tiro ou não tiro dos trilhos?

Bem, se você está pronto é ‘só’ “renunciar-se a si mesmo”(6) e colocar o seu veículo no trilho dos valores espirituais e eternos, em detrimento dos seus interesses materiais e transitórios.

Paulo Lara

Referências Bibliográficas:
(1) Bíblia Sagrada: Jo 19:12;
(2) O Consolador, resposta à questão 185;
(3) Idem;
(4) Jeremy Bentham e John Stuart Mill, sec. XIX;
(5) Livro dos Espíritos, q. 895
(6) Bíblia Sagrada – Jesus: Mt 16:24.

Nota do Editor:
Imagem em destaque disponível em <http://www.redeamigoespirita.com.br/profiles/blogs/no-caminho-com-jesus>. Acesso em 08ABR2016.

Paulo Lara
Paulo Lara

Trabalhador da última hora junto ao Grupo Espírita Esperança e Caridade de São José do Rio Preto, Interior do estado de São Paulo.

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