Conversa no elevador

Márcio Costa
10/03/2017
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Gabriel e André vivenciavam o seu primeiro dia de intercâmbio em um país de língua estrangeira. Tudo para eles era novidade. Aproveitando toda a energia que a juventude lhes proporcionava, queriam conhecer todos os lugares de uma só vez. Trajavam bermudas, camisetas e uma mochila nas costas. Estavam prontos para percorrerem todos os pontos turísticos da pequena cidade.

Enquanto faziam sua caminhada, contavam anedotas e casos. E como tempero para conversa, não deixavam passar nada que lhes chamassem atenção aos olhos.

Chegando próximo a uma lanchonete viram um rapaz trajando roupas exóticas. Ele estava parado bem na porta de entrada, olhando fixo para frente e se apoiando em uma bengala. Não entenderam o motivo e começaram a rir do jovem, fazendo chacotas. Contudo, falavam em sua própria língua, tentando não dar a perceber ao rapaz que estavam caçoando dele.

– Que importa! – disse Gabriel – Ele não vai entender mesmo. Podemos rir e falar dele à vontade.

Depois do lanche, foram até a torre central da cidade. Pretendiam subir até o último andar onde poderiam vislumbrar toda a paisagem.

Já na fila de acesso ao prédio começaram a cutucar um ao outro, apontando, disfarçadamente, para uma senhora que estava à frente deles. Ela trajava uma roupa vermelha escura, repleta de bordados claros. Usava ainda um chapéu imenso no mesmo tom e uma bolsa dourada que se percebia ao longe.

Ao entrarem no elevador, não se contiveram. A torre tinha quase cem andares e tinham tempo suficiente para ficarem tagarelando suas jocosas críticas à senhora.

– Está vendo o que eu estou vendo, André?

– Claro, Gabriel, não sou cego. Aliás, até cego vê essa dona!

E riam de forma velada e contínua, buscando cada vez mais outros adjetivos para a senhora que permanecia quieta, olhando atenta a tela de anúncios do elevador.

Em meio aquele murmúrio que misturava palavras e risos, o veículo chegou ao último andar.

– Pena que já chegou – disse Gabriel – nunca me diverti tanto!

– E ela não faz a mínima ideia de que falávamos dela – sorria André.

A porta abriu-se e a senhora saiu com muita tranquilidade em meio às demais pessoas que estavam no grupo. André e Gabriel foram ficando por último, aproveitando aquele momento de diversão. Até que chegou a vez de saírem.

No primeiro passo, adentrando ao salão, viram-se de frente àquela senhora que os esperava na saída do elevador. Ficaram atônitos. E olhando fixamente para eles, ela exclamou:

– Espero que vocês aproveitem bem o passeio. Mas lembrem-se de que não são os únicos turistas aqui!

* * *

Considerando o plano espiritual que nos cerca, estamos mais expostos do que imaginamos. Na introdução de O Livro dos Espíritos, Kardec ressalta que os espíritos estão por toda parte, acotovelando-nos o tempo todo. (1) Em outras palavras, por mais que pensamos estar a sós, sem ninguém a perceber nossas ações, sempre haverá espíritos ao nosso lado, observando nossos atos e emanações mentais que lhes forem de interesse.

No livro Roteiro, psicografado por Chico Xavier no ano de 1952, o Espírito Emmanuel nos conta haver cerca de vinte bilhões de almas conscientes, desencarnadas, fazendo uso de nosso orbe terrestre. (2) À época, nossa população mundial cotava cerca de 2,5 bilhões de habitantes, segundo dados da ONU. (3) Ou seja, a população invisível transcendia em mais de sete vezes a população encarnada.

Logo, não podemos olvidar em nenhum momento do preceito Orai e Vigiai, ensinado pelo Divino Mestre. A sintonia de nossos pensamentos e atos mais íntimos é que dirá quem estará invisível ao nosso lado.

Márcio Martins da Silva Costa

Referências Bibliográficas:
(1) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Introdução.
(2) Francisco Cândido Xavier – Roteiro – pelo Espírito Emmanuel, Cap. 9 – O Grande Educandário.
(3) Nações Unidas. Disponível em <https://nacoesunidas.org/acao/populacao-mundial/>. Acesso em: 08FEV2017.

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em < >. Acesso em: JAN2017.

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