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Espiritismo neles!

junho 24, 2017

Uma religião deve ter como um de seus pilares o diálogo com seu tempo. Pouco aplicável ao cotidiano, da religião, quando sua conversa é estabelecida com o passado ou futuro. O passado é a conversa com o que ficou para trás. O futuro é a conversa com o que ainda virá. Mas entre passado e futuro há o presente, o momento atual.

Eis, então, um enorme desafio para as religiões: conversar com o presente. E o Espiritismo, como religião que é, e religião no sentido filosófico, de estabelecer a ligação ou religação entre o Homem e Deus, também deve dialogar com o presente.

Mas o que isto quer dizer? O que quer dizer conversar com o presente? Quer dizer que o Espiritismo deve tratar os problemas da atualidade, do dia a dia do indivíduo do século XXI. Redes sociais, corrupção, aquecimento global, mobilidade urbana, homossexualidade, depressão, enfim, todos os temas que estão na pauta do homem hodierno podem ser analisados com as diretrizes construídas por Kardec e os Espíritos, a fim de dar ao indivíduo um norte a seguir, ou seja, ferramentas para uma tomada de decisão pautada em valores morais.

Observa-se, por exemplo, o momento atual de nosso país: polarização e brigas infindáveis de quem defende A, B ou C, a corrupção absurda, a operação Lava Jato e etc. Todos esses temas podem ser refletidos à luz do Espiritismo, de suas lições sólidas, pois o seu objetivo principal é tornar melhor o ser humano, e isso não se dá – melhora moral do ser humano – sem uma profunda reflexão da realidade presente.

Para foco do estudo, destaquemos o tema corrupção com o intuito de utilizarmos as ferramentas espíritas para análise e, naturalmente, buscar a solução para tão intrincado dilema, que afeta sobremaneira a vida dos cidadãos brasileiros.

Os governantes e o povo

Costuma-se depositar nos ombros dos governantes as responsabilidades pelos desvios do dinheiro público. Claro que pelo acesso a somas vultosas e por serem protagonistas das decisões dos rumos de uma nação, grande é o peso a recair sobre quem se dispõe a ocupar uma cadeira de qualquer um dos três poderes que fazem o caminhar de nosso país.

Contudo, um olhar mais profundo informa que os políticos são membros de uma sociedade e, portanto, com frequência refletem as tendências desta. Se a sociedade está acostumada com práticas menos dignas, muito provável que no poder estejam indivíduos comprometidos apenas com suas contas bancárias. Nada de fantástico ou irracional nisto, pois.

A corrupção entranhada em nosso cotidiano

A corrupção, portanto, não é algo que está atrelada apenas ao político, empresário ou homem influente. Ela – a corrupção – tem seu início no sujeito que fura a fila do passe, no recibo pedido com valor mais alto para apresentar à empresa, na sonegação do imposto ou no suborno ao policial, por exemplo.

Em suma, cobranças destinadas somente aos governantes são hipócritas se não buscamos agir diferente deles.

É claro que não se deve colocar tudo no mesmo balaio. Há diferenças entre furar a fila e desviar milhões dos cofres públicos. Contudo, existe um princípio semelhante que reside em ambas as ações: a busca por levar vantagem.

Esta busca por levar vantagem em tudo é o grande mal. Ela que, não raro, faz o indivíduo que suborna o policial, quando içado ao poder, desviar vultosas quantias do erário.

Pode-se dizer que a sociedade tem altos e baixos de uma doença denominada corrupção que, anda ao lado dessa busca por levar vantagem em tudo. Mas existe remédio. Remédio, aliás, lembrado por tantos “médicos”, Espíritos de alto gabarito, que vieram até a Terra mostrar aos homens como não adoecer e de tantos homens generosos e bondosos, autênticos homens de bem dos quais citarei apenas dois: Mêncio e Kardec.

Mêncio

Mêncio (371 a. C – 289 a. C), grande filósofo chinês, era considerado o segundo sábio (o primeiro foi Confúcio que viveu 200 anos antes).

Embora tenha esposado os postulados confucianos, Mêncio conseguiu respeito por seus próprios méritos.

Suas ideias tiveram grade aceitação na China, principalmente, após o aparecimento do neoconfucismo nos séculos XI e XII.

Passou grande parte de sua vida viajando por toda a China aconselhando, sabiamente, os soberanos daquele país. Sabe-se que foi funcionário do governo de Ch’i, mas não chegou a ocupar cargos permanentes e que envolvessem planejamento governamental. Idealista, otimista, em seus discursos apregoava que a natureza humana é boa e que um governante deve comandar seu povo pelo exemplo moral e não pela força.

Mêncio foi um homem do povo, prova disso é uma de suas frases mais conhecidas: “Os céus vêm o que o povo vê, os céus ouvem o que o povo ouve”. Afirmava em alto e bom som que o governo deve oferecer ao povo a orientação moral e condições básicas para uma vida com dignidade. Cuidar dos recursos naturais, prover os incapazes, auxiliar os idosos e preocupar-se com o cidadão.

Para Mêncio, o verdadeiro líder é aquele que, se preciso for, sacrifica seus desejos individuais em prol do bem coletivo. Quando o individual fala mais alto do que o coletivo é sinal de que a doença egoísmo tem agravamento.

O outro exemplo que devemos deixar registrado para os dias atuais é o do professor Hyppolite Leon Denizard Rivail, Allan Kardec.

Kardec

Como é sabido, Kardec deixou formidável obra que pode, a depender da força de vontade do indivíduo, resultar em evolução moral e intelectual.

Comenta Kardec em O livro dos Espíritos, no capítulo Lei do Trabalho, num de seus muitos momentos brilhantes, que a educação é o que produzirá a revolução moral. Não a educação pelos livros, diz ele, mas a educação moral, que consiste na arte de formar bons hábitos, de fazer com que o homem respeite a si e seu semelhante e, então, possa atravessar os maus dias inevitáveis com mais segurança. Quanta lucidez!

Os maus dias inevitáveis são as crises pelas quais passamos, individual ou coletivamente, e que, com educação moral, poderemos superar esses entraves que surgem no caminho da forma mais serena possível. Basta, portanto, educação moral!

A corrupção em realidade não é a causa dos males sociais. A corrupção é um efeito. Ela é produzida pela falta de educação dos indivíduos, pelo subdesenvolvimento moral. Quando o homem educa-se o mundo melhora e a corrupção, que é o efeito da má educação, dissipa-se com rapidez, como nuvem carregada pela ventania.

Portanto, para os dias atuais, para o momento presente de nosso país só podemos bradar em alto e bom som:
– Espiritismo neles!

Wellington Balbo

Nota do Editor:
Imagem em destaque disponível em <http://yogui.co/wp-content/uploads/2015/03/sociedade-estranha-1080×520.jpg>. Acesso em 24JUN2017.

Wellington Balbo
Wellington Balbo

Professor universitário, Bacharel em Administração de Empresas e licenciado em Matemática, Escritor e Palestrante Espírita com seis livros publicados: Lições da História Humana; Reflexões sobre o mundo contemporâneo; Espiritismo atual e educador; Memórias do Holocausto (participação especial); Arena de Conflitos (em parceria com Orson Peter Carrara); Quem semeia ventos... (em parceria com Arlindo Rodrigues).

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