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Em favor da felicidade

julho 28, 2017

Os felizes são mais queridos pelos outros e tendem a ser mais tolerantes e criativos.

Esta observação é do psicólogo americano Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia. Pesquisando sobre o assunto há décadas, concluiu que a felicidade é o somatório de três coisas diferentes: prazer, engajamento e significado.

Suas conclusões aproximam-se das ideias espíritas. Oportuno, portanto, nos determos nesses três pilares que ele propõe.

Prazer. É aquela sensação agradável que experimentamos quando ouvimos uma boa música, uma anedota engraçada, lemos um livro envolvente, assistimos a uma comédia no cinema, teatro ou televisão; quando temos uma boa conversa com um amigo, quando namoramos ou comemos chocolate, este manjar dos deuses.

Seligman considera que o grande erro da sociedade contemporânea é concentrar a busca de felicidade apenas nesse pilar. Tem razão. As pessoas acabam confundindo prazer com felicidade, resvalando para vícios e excessos que apenas complicam a existência, como o cigarro, o álcool, as drogas, a glutonaria, a promiscuidade sexual, que proporcionam muitos prazeres em princípio, problemas e dores depois. Vale lembrar o poema do poeta alemão Friedrich Rückert (1788-1866):

O coração tem dois quartos:

Moram ali, sem se ver,

Num a Dor, noutro o Prazer.

 

Quando o Prazer no seu quarto

Acorda, cheio de ardor,

No outro quarto adormece a Dor…

 

Cuidado, Prazer! Cautela,

Canta e ri mais devagar…

Não vá a Dor acordar…

        

Interessante seria considerar a observação de Camilo Castelo Branco, o grande escritor português:  O prazer de uma boa ação é o único prazer sem mistura de dor.

A propósito, diz Silas, no livro Ação e Reação, de André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier:

Pela energia criadora do amor que assegura a estabilidade de todo o Universo, a alma, em se aperfeiçoando, busca sempre os prazeres mais nobres. Temos, assim, o prazer de ajudar, de descobrir, de purificar, de redimir, de iluminar, de estudar, de aprender, de elevar, de construir e toda uma infinidade de prazeres, condizentes com os mais santificantes estágios do Espírito.

Engajamento. Trata-se do envolvimento com uma atividade, procurando fazer bem feito o que é de nossa responsabilidade, seja na profissão ou fora dela.

Podemos dizer que a diferença entre um emprego enjoado ou estimulante está na nossa própria postura, não nas atividades que ali exercitamos. Nunca é demais lembrar a velha história de dois operários assentando tijolos. Perguntamos ao primeiro:

– O que está fazendo?

E ele, enfadado:

– Estou levantando uma parede.

Perguntamos ao segundo:

– O que está fazendo?

E ele, entusiasmado:

– Estou erguendo uma catedral!

E não é só o emprego. Há outras formas de engajamento. Aprender a tocar um instrumento musical, especializar-se em culinária, praticar ioga, fazer exercícios físicos, integrar-se numa ONG, frequentar um curso…

Resumindo: é preciso que estejamos sempre ativos, trabalhando e aprendendo, deixando a postura de Januária, da música de Chico Buarque. Indiferente, na janela, ela vê a vida passar. Observe, a propósito, leitor amigo, a questão 943, de O Livro dos Espíritos:

Pergunta: Donde nasce o desgosto da vida, que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos?

Resposta: Efeito da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade. Para aquele que usa de suas faculdades com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto obra com o fito da felicidade mais sólida e mais durável que o espera.

Significado. Dar significação à vida é também exercitar atos de altruísmo ou bondade, colaborando num serviço em favor do próximo, aproveitando, se possível, nossas próprias habilidades.

Hoje há um programa extremamente importante nas escolas públicas, chamado Voluntário na Escola. Aos sábados e domingos, pessoas de boa vontade exercitam suas habilidades em favor da criançada. Ensinam informática, trabalhos manuais, esportes e muito mais, de conformidade com suas especialidades. É um sucesso. Ajuda as crianças. Ajuda principalmente os próprios voluntários, oferecendo-lhes altos níveis de satisfação.

O Espiritismo situa-se numa vanguarda nesse tipo de engajamento, esclarecendo ser necessário nos dedicarmos ao esforço do Bem para que sejamos felizes.

Por isso há tantas instituições espíritas voltadas à filantropia, atendendo a recomendação básica contida na máxima de Kardec: Fora da caridade não há salvação.

Seligman mediu em laboratório os efeitos do prazer, do engajamento e do significado na felicidade das pessoas. E descobriu que os maiores níveis estavam relacionados com o significado.

Um gesto de bondade, ajudar alguém, cuidar de uma criança, atender o necessitado, contribuir em favor de uma causa justa, trabalhar por ela, pode, ressalta ele, aumentar o nível de felicidade por dois meses.

Experimente caro leitor, e ficará tão feliz com pequenos gestos de bondade que se empolgará pelo desejo de ser bom o tempo todo. Jesus deixava isso bem claro ao proclamar que o maior no Reino de Deus (o estado íntimo de paz e felicidade) é o que mais serve. Quanto mais servirmos, mais amplas a paz e a felicidade em nós.

Richard Simonetti

Nota do Editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em
<http://postsfromthepath.com/sustainable-happiness/happy-for-no-reason.html>. 
Acesso em: 27JUL2017.

 

Richard Simonetti IN MEMORIAM
Richard Simonetti IN MEMORIAM

Richard Simonetti é de Bauru, Estado de São Paulo. Nasceu em 10 de outubro de 1935 e Desencarnou em 03 de Outubro de 2018. De família espírita, participou do movimento desde os verdes anos, integrado no Centro Espírita Amor e Caridade, onde desenvolveu largo trabalho no campo doutrinário e filantrópico. Orador e Escritor espírita, teve mais de cinquenta obras publicadas.

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