Porta estreita ou Caminho reto e largo?

Francisco Rebouças
20/09/2017
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Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta da perdição e espaçoso o caminho que a ela conduz, e muitos são os que por ela entram. – Quão pequena é a porta da vida! Quão apertado o caminho que a ela conduz! E quão poucos a encontram! [S. MATEUS, cap. VII, vv. 13 e 14.]

Necessário é ter toda atenção nas nossas escolhas presentes, pois são justamente elas que vão influenciar, decisivamente, de forma negativa ou positiva na expiação ou prova a que estaremos submetidos por força da Lei de Causa e Efeito nas reencarnações futuras.

É muito comum depararmos com companheiros que ainda interpretam ao pé da letra algumas dessa passagem bíblicas como esta do Evangelho de Mateus sobre a porta estreita, por entenderem que o homem foi punido em desobediência aos desígnios de Deus, fazendo por merecer esse justo “castigo” da perda do paraíso o que exigirá do indivíduo grandes esforços para suportar os suplícios e martírios pelos quais Deus resolveu castigá-lo.

Alguns desses companheiros trazem, arraigado, em seus psiquismos a velha e viciada visão do Deus cruel, vingador, irascível, que pune os que não cumprem suas determinações, condenando o infeliz por sua desobediência a duros castigos, pensamento esse fruto do ensino religioso ultrapassado e sem coerência, em total desacordo com a filosofia proposta pela Doutrina Espírita que nos vem provar que Deus é acima de tudo um Pai amoroso, bom e justo.

Fácil entender que se nós como pais de um planeta de provas e expiações, com a nossa acanhada visão espiritual, não aceitamos condenar um filho nosso que tenha caído em erro, pois lhe concedemos sempre nova oportunidade de recuperar-se do erro cometido, e até mesmo assumimos muitos desses erros, quitando o débito com o outro a quem nosso filho contraiu a dívida a fim de não assistirmos sua desventura, quanto mais esse Pai, criador de tudo e de todos, detentor de todas as virtudes em grau absoluto.

O Evangelho de Jesus reporta à porta estreita como sendo a porta que dá acesso à salvação, porque a grandes esforços sobre si mesmo, é obrigado o homem que a queira transpor, para vencer suas más tendências, coisa a que poucos se dispõem a fazer, e que é larga a porta da perdição, porque são numerosas as paixões más que nos induzem ao erro sem qualquer exigência de reforma íntima.

Sabemos que somos portadores de incontáveis vícios que trazemos, arraigado em nosso espírito milenar e, por isso mesmo o maior número de criaturas enveredam pelo caminho do mal na hora que é chamado a optar pelo caminho a trilhar usando o livre arbítrio, e assumindo, portanto, as consequências de nossas escolhas.

A transformação da Terra de mundo de prova e expiação para uma situação melhor, com a consequente perda do predomínio do vício e da maldade, exige o esforço e a participação de cada um de nós, pois o crescimento do bem e o desaparecimento paulatino do mal exigem trabalho, persistência paciência, conforme contido em O Livro dos Espíritos. Vejamos:

932. Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons?
Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos.
Quando estes o quiserem, preponderarão.” [1]

No Capítulo VI, de O Evangelho Segundo o Espiritismo – O Cristo Consolador, João XIV, vv.15 a 17 e 26, o Espírito de Verdade, vem trazer-nos os esclarecimentos que nos faltavam a cerca do assunto afirmando-nos:

“Mas, ingratos, os homens afastaram-se do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e enveredaram pelas ásperas sendas da impiedade”. [2]

Somos em verdade os construtores do nosso próprio destino e como vimos acima, o caminho que conduz ao Pai é reto e largo e nós é que decidimos por afastarmo-nos dele e seguir as facilidades e tentações das vielas, e dos atalhos, e estamos colhendo, justamente, os frutos da nossa atitude, submetidos às Leis divinas que estabelecem que “a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória” e ainda “a cada um segundo as suas obras”.

Entendemos, dessa forma, que as palavras “entrai pela porta estreita, porque larga é a porta da perdição e espaçoso o caminho que a ela conduz”, devem, pois, serem entendidas em sentido relativo e não em sentido absoluto. Se houvesse de ser esse o estado normal da Humanidade, teria Deus condenado à perdição a imensa maioria das suas criaturas, suposição inadmissível desde que se reconheça que Deus é todo “justiça” e “bondade”.

“Assim, se recebeste a espada simbólica que o Mestre nos trouxe à vida, lembra-te de que a batalha instituída pela lição do Senhor permanece viva e rija, dentro de nós, a fim de que, ensarilhando sobre o pretérito a espada de nossa antiga insensatez, venhamos a convertê-la na cruz redentora em que combateremos os inimigos de nossa paz, ocultos em nosso próprio “eu”, em forma de orgulho e intemperança, egoísmo e animalidade, consumindo-se ao preço de nossa própria consagração à felicidade dos outros, única estrada suscetível de conduzir-nos ao império definitivo da Grande Luz”. [3]

Urge empenharmo-nos na nossa melhoria individual, arando o campo de nossos corações e plantando as sementes de uma safra farta e proveitosa para o nosso crescimento espiritual, contribuindo assim para a melhoria da comunidade em que fomos situados pela misericórdia divina, fazendo o que nos compete fazer, como contribuição para a implantação e crescimento do bem em nosso planeta.

Francisco Rebouças

Referências Bibliográficas:
(1) KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos. FEB 76ª edição;
(2) KARDEC, ALLAN. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB 112ª edição – Capítulo VI;
(3) XAVIER, FRANCISCO CÂNDIDO. Espírito Emmanuel. Ceifa de Luz, Cap. 5.

Nota do Editor:
Imagem em destaque disponível em <http://mp3red.me/cover/4633466-460×460/porta-estreita.jpg>. Acesso em 20SET2017.

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