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Estamos todos sofrendo, mas precisamos

setembro 28, 2017

“Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.”
Mt. 5:4

Quem consegue visualizar com claridade a marcha do progresso, já pode depreender que as lágrimas, de acordo com a vibração que as emolduram, não apenas lavam o coração. Descem pelo rosto, limpando as marcas que os desfiguram, sugerindo ao espírito sofrido abrir-se para o sol e para as oportunidades de um novo dia.

Lavando os olhos, instrumentos abençoados de nossa interação com os seres e as coisas, proporcionam-nos uma ótica mais nítida da existência. (1)

Quando as lágrimas surgem do arrependimento, elas são abençoadas, pois expressam a dor do peso na consciência. Antes das lágrimas estávamos cegos, sem enxergar o que causávamos ao nosso próximo, tão centrados em nós mesmos que estávamos.

Quem começa a estudar o Evangelho de Jesus e tenta colocá-lo em prática começa a sofrer muito quando se dá conta de suas falhas. Por isso que o Espiritismo não é abraçado por todos, porque temos de ter muita coragem para admitir que somos muito imperfeitos e mais coragem ainda para mudar, como disse Raul Teixeira em uma de suas palestras.

A pessoa se disciplina, começa a fazer o Evangelho no lar e ao abrir uma página ao acaso, muito frequentemente, acontece das lições se repetirem. “Que coisa, sempre me vem esta mesma lição!” dizemos. Nós todos sabemos o porquê. E se não entendemos a lição, os problemas vêm, a dor vem. Acontece semelhante situação com todos nós, porque, na média, somos parecidíssimos em termos de evolução espiritual, um parece mais orgulhoso, mas menos egoísta; o outro é mais egoísta, mas menos orgulhoso; um mais pacífico e o outro mais solidário… Estamos todos num planeta que nos identifica como necessitados de provas e expiações e num processo de tentativa de regeneração. Então, nos resta aceitar as dores e trabalhar muito para mudar.

Uma vez um criminoso foi entrevistado na televisão e corriam lágrimas de seus olhos enquanto ele expressava o quanto se arrependeu de seus crimes. Ele deu uma prova de progresso, pois teve a coragem de admitir sua falha em frete a milhares de expectadores, além de ter dado o seu primeiro passo de cura: o arrependimento. Se for perseverante no esforço da melhora, será um futuro regenerado ainda nesta encarnação. O arrependimento é o primeiro passo para a melhoria; mas só ele não basta, é preciso, ainda, a expiação, a reparação. (2)

O choro causado por corações partidos, ou por perdas de pessoas queridas, ou até por contrariedades da vida, sinalizam as crises de amadurecimento, necessárias para sairmos do mundo das ilusões, nos forçando a agir de modo a achar soluções positivas. Se olharmos para trás e pensarmos em todos os sofrimentos que tivemos, veremos que os acontecimentos que os sucederam mudaram a nossa rota para uma direção melhor. Só agora podemos ver.

Quando a crise se instala é o ego quem sofre, pois ela decorre, geralmente, como resultante das frustrações de seus desejos. Bem-aventurados, portanto, é o ego que chora por ter seus desejos ilusórios destruídos. Nesse momento poderá tornar-se apto a perceber os reais desejos de sua alma, alcançando o consolo de estar vivendo a serviço do self. (3)

Quando crianças, choramos por motivos que até nos fazem rir hoje. Mas foram muito necessárias aquelas lágrimas, pois nossos pais, ao nos contrariar, nos educaram não nos deixando ser iludidos pelos desejos de nossos egos. Foi-nos negado ir para cama tarde, agir desrespeitosamente, ir a festas em lugares ou horários inadequados, assistir televisão em excesso, sacrificar o horário de estudo para brincar, mas crescemos com isso. Quando lidamos com aquelas frustações, estávamos treinando para lidar com as de hoje.

Quantas pessoas que se salvam de graves enfermidades saem transformadas, tornando-se mais humanas, solidárias e muitas perdem o medo de morrer. Fica fácil entender o que Jesus quer nos dizer com ser consolado. O grande consolo que teremos quando vencermos a dor do ego é a nossa aproximação ao reino dos céus, pois estaremos fortalecidos e confiantes. As lágrimas lavaram com o detergente da dor e o nosso perispírito recupera-se.

Que tal seguir o conselho de Leon Denis, em O Problema do Ser do Destino e da Dor: Aprende a sofrer. Não te direi procura a dor. Mas quando ela se erguer inevitável em teu caminho, acolhe-a como uma amiga. Aprende a conhecê-la, a apreciar-lhe a beleza austera, a entender-lhe os secretos ensinamentos. Estuda-lhe a obra oculta. Em vez de te revoltares contra ela ou, então, de ficares acabrunhado, inerte e fraco debaixo de sua ação, associa tua vontade, teu pensamento ao alvo a que ela visa, procura tirar dela, em sua passagem por tua vida, todo o proveito que ela pode oferecer ao espírito e ao coração. (4)

Maria Lúcia Garbini Gonçalves

Referências:
(1) ABREU, Honório Onofre (coordenador). Luz imperecível. Ed. União Espírito Mineira. 10ª edição. Pág.47
(2) KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Ide Editora.1991. cap 7 Código Penal das vidas futuras, nº 16.
(3) NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz. Psicologia do Evangelho. Editora Fundação Lar Harmonia. Cap.5: Cura Interior.
(4) DENIS, Leon. O Problema do Ser do Destino e da Dor. Editora Feb. Cap. 27. Pag.555 e 556.

Nota do Editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://viverdeeco.wordpress.com/2011/08/17/passaros-tomando-seu-banho-de-chuva/>. Acesso em: 28SET2017.

Maria Lúcia Garbini Gonçalves
Maria Lúcia Garbini Gonçalves

Tradutora, mora em Porto Alegre/RS, estudante da Doutrina Espírita, trabalha no Grupo Espírita Francisco Xavier como médium.

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