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Sete noites por Semana

novembro 29, 2017

— Pai Amâncio, vim pedir-lhe ajuda para meu filho. Tem uma lesão no olho esquerdo. Os médicos afirmam que poderá perder a visão. Estou muito aflita! Rick mal chegou aos vinte anos!

Justificava-se a preocupação de Adelina. O mal era grave. O outro olho também corria risco.

— Acalme-se, minha filha. Vamos tratar dele, espiritualmente, a par do tratamento médico. Receberá passes magnéticos, uma vez por semana. Mas o menino deverá assumir um compromisso.

— O que o senhor mandar, pai. Nenhum sacrifício será demais para lhe salvar a visão.

— Quero que compareça a todas as reuniões de nosso Centro, o que equivale dizer que ele virá sete noites por semana, com disposição para ouvir, atentamente, os expositores.

Adelina regressou exultante ao lar. Conhecia a força daquele bondoso Espírito. Já considerava o filho curado. Não atentou, porém, à dificuldade que se evidenciou ao lhe transmitir a recomendação.

— Diariamente? Até aos domingos?!

— Sim, meu querido.

— Mas, mamãe, a senhora sabe que nunca frequentei o Centro, embora goste de ler sobre Espiritismo. Assistir às reuniões sete noites por semana é impensável!

— Concordo que não é uma ideia atraente para você. No entanto, é essa a orientação de Pai Amâncio.

— Nem parece “pai”… Isto é coisa de “padrasto”!

— Tudo bem, filho. O olho é seu.

Embora a ideia não o agradasse, Rick não tardou em concordar. Em favor de nossa iniciação espiritual, os problemas físicos são mais eloquentes que mil discursos.

Com a fidelidade do náufrago que se agarra a uma tábua de salvação, compareceu durante meses às sessões públicas, religiosamente, sete noites por semana.

Em princípio, ia contrariado. Mas logo começou a se interessar pelas preleções. Gostou. Retirou livros na biblioteca. Aprofundou-se no estudo da Doutrina Espírita. E logo pediu serviço.

Adelina exultava. Na primeira oportunidade conversou com o guia:

— Pai Amâncio, quero agradecer-lhe. Sua orientação foi preciosa.

— O menino sarou do olho?

— Está bem melhor, mas isso é secundário. O importante é que ele abraçou o serviço no Centro com muito amor!

— Eu sei, minha filha. Tenho acompanhado seus progressos. Saiba que ele tem compromisso com esta casa, assumido no plano espiritual, antes do renascimento.

— Entendo agora sua exigência que, em princípio, causou-me estranheza. Nunca o vira proceder assim.

— É que se tratava de um caso especial. Nosso Rick estava maduro para a tarefa. Faltava apenas um estímulo. Eu sabia que daria certo.

— E o senhor acredita que permanecerá firme?

— Esperamos que sim, em seu próprio benefício. O Espiritismo está em seu sangue. Não se sentirá feliz de outra forma.

* * *

Todos assumimos determinados deveres ao reencarnar.

As próprias circunstâncias da vida terrestre nos induzem ao cumprimento daqueles relacionados com família, profissão, vida social.

Os mais difíceis dizem respeito aos ideais de espiritualidade, nos domínios da religião, porquanto estes dependem, essencialmente, de nossa disposição em cogitar deles. Por isso, não raro, somente despertamos para esse esforço com as clarinadas do sofrimento.

Richard Simonetti

Richard Simonetti IN MEMORIAM
Richard Simonetti IN MEMORIAM

Richard Simonetti é de Bauru, Estado de São Paulo. Nasceu em 10 de outubro de 1935 e Desencarnou em 03 de Outubro de 2018. De família espírita, participou do movimento desde os verdes anos, integrado no Centro Espírita Amor e Caridade, onde desenvolveu largo trabalho no campo doutrinário e filantrópico. Orador e Escritor espírita, teve mais de cinquenta obras publicadas.

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