
Silêncio salutar
O silêncio faz grande falta na civilização contemporânea
“Disse-Lhe Pilatos: “que é a Verdade? Donde
es tu? Mas Jesus não lhe deu resposta.”
– João, 18:38 e 19:9.
Como poderia Pilatos alcançar a dimensão da Verdade apregoada por Jesus?! Suas elucubrações filosóficas – se é que existiam -, (e se existiam) arrastavam-se no lodaçal dos mais comezinhos interesses materiais, vinculadas ao poder temporal, sem a menor condição de se elevarem às transcendentes plagas do Espírito! Daí o silêncio de Jesus frente ao questionamento direto. A verdade de Pilatos era bem outra, extremamente pobre e fungível, enquanto que a de Jesus é essencialmente rica, imperecível, eterna…
Em muitas ocasiões Jesus Se calou. Seus silêncios revestiam-se de profundos significados. Eram silêncios sábios que atestavam a forma expressiva de Seu mais entranhado amor à humanidade. Não humilhava a ignorância de ninguém com a Sua fulgurante inteligência. Limitava-Se a esparzir as suaves tintas das luzes do Mais Alto sobre as trevas da ignorância humana somente quanto observava que os resultados poderiam surgir produtivos e eficazes. Nesse passo, há que se estabelecer a diferença entre a mudez caprichosa, vingadora e fria e a discreta atitude de quietação e respeito que exornava o caráter do Meigo Rabi. Seus silêncios eram preciosos, ricos e necessários.
A exemplo d`Ele, usemos o silêncio necessário: pensemos na ética cristã quando formos solicitados a falar insensatamente aos acordes da maledicência, e procuremos, então, imitar o nosso “Guia e Modelo”.
Esclarece Um Espírito Amigo (1): “não opines mal a respeito de ninguém, mesmo que o outro mereça. Tampouco te deixes emaranhar pelos que falam mal do próximo. Eles terminarão por submeter-se à opinião que lhes apraz, armando-te contra aqueles com quem não simpatizam.
Falar bem ou mal é um hábito. Quando as referências são acusadoras, levam a alma da vítima à morte, porém, suicida-se também, aquele que sempre aponta o erro.
(…) Faze silêncio diante de observações pejorativas, de assuntos prejudiciais, matando, no nascedouro, a informação malsã. Quando te tragam opiniões infelizes, reclamações, queixas que põem mal diante de ti o ausente, seja ele quem for, não te deixes contaminar pelo morbo da palavra insensata.
Há pessoas que se autonomeiam fiscais do próximo e se detêm a examinar a conduta deste modo reprochável. Raramente falam bem, referem-se ao lado menos bom e negativo das pessoas e acontecimentos.
Porque não era visível a face oculta da lua, isto dava margem às mais variadas conjecturas, sempre exageradas, fantasistas… A observação sob alta dose de má vontade, apenas vê o que quer e fala o de que gosta.
(…) O silêncio faz grande falta na civilização contemporânea. Fala-se em demasia, e, por conseguinte, fala-se do que se não deve, se não sabe, não convém, apenas pelo hábito de falar. Na falta de assunto edificante, ou com indiferença para ele, utilizam-se de temas negativos, prejudiciais ou sórdidos, envilecendo a própria Alma, enxovalhando o próximo e consumindo-se energias valiosas.
Há um excesso de preocupação em falar, opinar, mesmo quando se desconhece a questão. Parece de bom-tom a postura de referir-se a tudo, de se estar a par de tudo… Assim, aumenta-se a maledicência, confundem-se as opiniões e entorpecem-se os conteúdos morais das palavras.
Se cada pessoa falasse apenas o necessário e no momento oportuno, haveria um salutar silêncio na Terra”.
“Mas Jesus não lhe deu a resposta”, porque também é da lei que “não devemos dar aos cães o que é santo, nem lançar aos porcos as nossas pérolas, para não acontecer que as calquem aos pés e, voltando-se, nos despedacem.” (Mt., 6:7). ■
Rogério Coelho
Referência:
(1) FRANCO, Divaldo. Momentos de coragem. 5.ed. Salvador: LEAL, 2004, cap. 7.
Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=vaBrC5fYM-A >.
Acesso em: 01AGO2019.
Veja também
Ver mais
Divaldo: “Sigamos, erguendo o mundo novo” – Artigo e manifestação

Korvatunturi
