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Entender a solidão

maio 20, 2020

“O que é preciso é entender a solidão! (…)
O que é preciso é que a alma vá e venha;
e ouça a notícia do tempo,
e entre os assombros da vida e da morte,
estenda suas diáfanas asas,
isenta por igual
de desejo e de desespero.” (1)

Obedecendo a lei da vida, ante as perdas e as dores da alma, a autora nas asas da poesia retrata sua solidão e a aceitação de tudo o que é indescritível quando os sentimentos se submetem à imposição do que é real, mas permanece livre não se detendo ante o tempo que escoa célere, sustentada pela esperança.

Sofrendo a dor da perda, quando a morte arrebata nossos amores e não os podemos mais alcançar em nossa dimensão de vida, busquemos nas asas da prece o enlevo e a resignação para que nossa alma possa altear nos cimos da esperança isenta de quaisquer sentimentos de revolta e desespero.

Em momentos de solidão, evocando os sonhos e a felicidade de tempos passados nos quedamos silenciosos e tristes, o que é natural em nosso estágio evolutivo, entretanto, teremos que deixar este estado melancólico e buscar no entendimento das leis que regem todo o universo, a motivação maior de nossa existência, o porquê do sofrimento e deste insulamento.

Somente nos refolhos de nossa alma, na contemplação de nosso eu mais íntimo é que encontraremos o refúgio seguro para entender o sentido existencial que nos anima e através da prece, a energia benfazeja que reerga nosso ser, ajudando-nos a prosseguir sem esmorecimento.

Entender a vida para que possamos entender a morte, afastando de nós a dor, o desencanto e assim, podermos alçar nossa mente à compreensão maior de nossos compromissos e deveres. Como nos fala a poesia, o que é preciso é entender a solidão e estando a sós, frente a frente com nossos anseios e conflitos, buscar o melhor entendimento e soluções para compreender o que se passa neste mundo quase irreal que criamos em momentos de reflexões mais profundas, não totalmente explorado nem conhecido por nós mesmos.

“Solidão é reajustamento das engrenagens do sentimento; lubrificante fino sobre as peças da emoção que o abuso enferrujou… O tempo e a constância do esforço resolvem a questão, perde o valor deprimente de que se reveste no começo, para facultar júbilo e paz interior pelos logros conseguidos.” (2)

Nestes instantes em que nos quedamos a sós, sem nos deixar levar pela descrença e a autopiedade , entendendo que o tesouro do tempo nos é confiado para servir, amealhar recursos para nosso crescimento espiritual e assim podermos nos reabastecer de energias para prosseguir no embate, no aprimoramento moral a que estamos destinados.
Os que estão destinados a servir na sementeira do bem, se nutrem nestes momentos de silêncio interior para buscar o suporte necessário, na recomposição das forças, mas não se deixam ficar no vale da contemplação, como nos recomenda o benfeitor espiritual, Emmanuel:

“Procuremos as águas vivas da prece para lenir o coração, mas não nos esqueçamos de acionar nossos sentimentos, raciocínios e braços, no progresso e aperfeiçoamento de nós mesmos, de todos e de tudo, compreendendo que Jesus reclama obreiros diligentes para a edificação de seu Reino em toda a Terra.” (3)

São inúmeras as advertências dos amigos espirituais em torno da necessidade do autoconhecimento, de nos refugiarmos dentro de nós mesmos sempre que a vida nos impuser as dores da alma, para o amplo entendimento diante da incompreensão, dos infortúnios e dissabores porque somente aí, neste refúgio de nosso ser, poderemos haurir forças e entender melhor os desígnios de Deus.

Allan Kardec, indaga aos Espíritos Superiores, na questão 924, de O Livro dos Espíritos:

“Há males que independem da maneira de proceder do homem e que atingem mesmo os mais justos. Nenhum meio o terá de os evitar?

R- Deve resignar-se e sofrer sem murmurar, se quer progredir. Sempre, porém, lhe é dado haurir consolação na própria consciência, que lhe proporciona a esperança de melhor futuro, se fizer o que é preciso para obtê-lo.” (4)

Não seria esta advertência dos benfeitores espirituais, concitando-nos a buscar o entendimento maior na própria consciência, através da autoanálise, do ajustamento e do equilíbrio de nossos sentimentos em momentos de contemplação e prece?
O que é preciso, então, é entender com maior profundidade o motivo de estarmos aqui, neste momento, mesmo que a solidão ronde nossos passos tentando nos desencorajar ante os deveres de cada dia. E se conseguirmos, como diz a poesia, entender a solidão, sairemos vitoriosos nestes momentos de reflexão e amadurecimento, porque teremos a esperança de um futuro melhor, se fizermos o que é preciso para obtê-lo e principalmente merecê-lo.

Lucy Dias Ramos

Referências Bibliográficas:
(1) MEIRELES, Cecília. Dispersos, Poesia Completa. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro – RJ. 2002. P. 1729;
(2) FRANCO, Divaldo P. Manoel P. de Miranda. Loucura e Obsessão. 2a. ed. FEB. Rio de Janeiro, 1990, RJ. P. 294;
(3) XAVIER, Francisco C. – Emmanuel. Fonte Viva. FEB. Rio de Janeiro – RJ. 24a. ed. 2000. P 162; e
(4) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB. Rio de Janeiro 84a. ed. 2003. q.429.

Nota do autor:
Artigo publicado inicialmente no Portal do Espiritismo.

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://pixabay.com/pt/photos/sozinho-triste-depress%C3%A3o-solid%C3%A3o-2666433/>. Acesso em: 20MAI2020.

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