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Intoxicação intelectual: o orgulho é o terrível adversário da humildade

maio 25, 2020

“Bem-aventurados os pobres de Espírito,
pois que deles é o Reino dos Céus.”
– Jesus. (Mt., 5:3.)

Engana-se quem pensa que a obsessão só grassa onde medra a ignorância. Existem Espíritos obsessores que possuem sutilíssimos potenciais de envolvimento de suas vítimas, e, quando essas vítimas são criaturas inteligentes, é através da inteligência e do orgulho que buscam obsidiá-las. Através de artimanhas muito bem engendradas, fazem-nas crer-se em tão alto conceito que, pelos asfixiantes laços da vaidade intelectual, vinculam-nas em processos obsessivos de largo porte…

A vaidade intelectual de Nicodemos fê-lo procurar o Mestre Maior às escondidas; e Jesus o atendeu em suas perplexidades, embora não tivesse o vaidoso doutor descortino mental suficiente para entender, em espírito e verdade, tudo que ouviu; a ponto de Jesus exclamar (1): “és mestre em Israel e não sabes essas coisas?!”

Lacordaire ensina (2): “o orgulho é o terrível adversário da humildade. Se o Cristo prometia o Reino dos Céus aos mais pobres, é porque os grandes da Terra imaginam que os títulos e as riquezas são recompensas deferidas aos seus méritos e se consideram de essência mais pura do que a do pobre”.

Mais adiante, Ferdinando, Espírito Protetor, esclarece (3): “não vos ensoberbais do que sabeis, porquanto esse saber tem limites muito estreitos no mundo em que habitais. Suponhamos sejais sumidades em inteligência neste Planeta: nenhum direito tendes de envaidecer-vos. Se Deus, em Seus desígnios, vos fez nascer num meio onde pudestes desenvolver a vossa inteligência, é que quer a utilizeis para o bem de todos: é uma missão a vós legada, pondo-vos nas mãos o instrumento com que podeis desenvolver, em torno de vós, as inteligências retardatárias e conduzi-las a Ele.

(…) A inteligência é rica de méritos para o futuro, mas, sob a condição de ser bem empregada. Mas o homem abusa da inteligência como de todas as outras faculdades e, no entanto, não lhe faltam ensinamentos que o advirtam de que uma poderosa mão pode retirar o que lhe concedeu”.

Ensina Kardec (4): “(…) dizendo que o Reino dos Céus é dos simples, quis Jesus significar que a ninguém é concedida a entrada nesse Reino, sem a simplicidade de coração e humildade de espírito; que o ignorante possuidor dessas qualidades será preferido ao sábio que mais crê em si do que em Deus. Em todas as circunstâncias, Jesus põe a humildade na categoria das virtudes que aproximam de Deus e o orgulho entre os vícios que d`Ele afastam as criaturas”.

Paulo de Tarso, o eminente Bandeirante da Boa Nova, amargou profunda decepção quando foi levar o Evangelho de Jesus aos luminares da intelectualidade de Atenas. Envolvidos em sufocante quão imensurável vaidade, permaneceram completamente refratários às luzes do Mais Alto. Não compreendendo de imediato o padecimento de secular intoxicação intelectual dos filhos de Atenas, Paulo chorou, copiosamente, por não encontrar ressonância para os Divinos Preceitos entre as marmóreas paredes do Areópago. Por mais ricas e formosas, enfáticas e irrefutáveis fossem as suas prédicas, só recebeu o retorno vinagroso da indiferença na ânfora do coração, condimentados pela ironia, sarcasmo e toda sorte de vexames, deixando-se prostrar sob o camartelo de um bulcão de amarguras e incertezas.

Segundo narrativa de Emmanuel (5): “(…) Paulo saiu de Atenas assaz abatido. O insucesso, em face da cultura grega, compelia-lhe o Espírito indagador aos mais torturantes raciocínios. Começava a compreender a razão por que o Mestre preferira a Galileia com os seus cooperadores humildes e simples de coração; entendia melhor o motivo da palavra franca do Cristo sobre a salvação, e decifrava a sua predileção natural pelos desamparados da sorte”.

E, assim, há dois mil anos o Apóstolo dos Gentios compreendeu o que nós só agora conseguimos compreender com o Espiritismo, isto é, o real significado das palavras de Jesus, em geral, e, em especial este registro de Mateus (6): “Graças Te dou ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos”.

Rogério Coelho

Referências:

1 – João: 3:10.

2 – KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 125.ed. Rio: FEB, 2006, cap. VII, item 11.

3 – Idem. Ibidem, item 13.

4 – KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. VII, item 2.

5 – XAVIER, F. Cândido. Paulo e Estêvão. 4.ed.especial, 2ª reimpressão, Rio: FEB, 2008, cap. VII.

6 – Mt., 11:25.

Nota do editor: Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <http://vozesedoses.blogspot.com/2018/05/o-encontro-de-jesus-com-nicodemos-joao.html>. Acesso em: MAI2020.

Rogério Coelho
Rogério Coelho

Rogério Coelho nasceu na cidade de Manhuaçu, Zona da Mata do Estado de Minas Gerais onde reside atualmente. Filho de Custódio de Souza Coelho e Angelina Coelho. Formado em Jornalismo pela Faculdade de Minas da cidade de Muriaé – MG, é funcionário aposentado do Banco do Brasil. Converteu-se ao Espiritismo em outubro de 1978, marcando, desde então, sua presença em vários periódicos espíritas. Já realizou seminários e conferências em várias cidades brasileiras. Participou do Congresso Espírita Mundial em Portugal com a tese: “III Milênio, Finalmente a Fronteira”, e no II Congresso Espírita Espanhol em Madrid, com o trabalho: “Materialistas e Incrédulos, como Abordá-los?” Participou da fundação de várias casas Espíritas na Zona da Mata Mineira.

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