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Para um grande homem, a presença de uma grande mulher

abril 16, 2021

Em 6 de fevereiro de 1832, em Paris, era firmado o contrato de casamento entre Hippolite Leon Denizard Rivail e Amélie Gabrielle Boudet – o casal Kardec ou o casal da Codificação. Pouco se fala dessa nobre dama na história do Espiritismo, mas ela certamente merece ocupar papel de grande destaque, uma vez que foi a principal companheira do professor no cumprimento de sua nobre missão.

Professora primária, de letras e de Belas Artes, Amélie nasceu em 23 de novembro de 1795. Foi poetisa, desenhista e chegou a publicar três livros (um de contos e dois na área artística). Morando em Paris e frequentando o meio acadêmico, conheceu o professor Rivail, seu grande amor e companheiro.

O casal compartilhava o mesmo amor e preocupação com a Educação. Trocavam ideias sobre o tema e juntos fundaram instituições ligadas à essa área de atuação; elaboraram materiais pedagógicos e ministraram aulas gratuitas ao menos favorecidos em sua própria residência. Tudo porque ambos acreditavam que todos deveriam ter acesso ao conhecimento, independente de condição social ou sexo. Juntos também enfrentaram a adversidade financeira, sempre de forma serena e firme.

A Codificação Espírita

A partir de 1854, quando ele inicia suas pesquisas que resultaram nas obras da Codificação Espírita, é em Gaby (forma carinhosa como Kardec chamava a esposa), então com 60 anos, que ele encontra, uma vez mais, a companheira amorosa e a auxiliar que o secundava nos novos e árduos trabalhos e, ainda, o incentivava a concluir sua missão.

Logo após lançar O Livro dos Espíritos, em 1º de janeiro de 1858, tão somente com o apoio da companheira, Kardec lança a primeira edição da Revista Espírita. A residência do casal era, então, local de sessões concorridas, exigindo da Madame Rivail cuidados cansativos, mas sempre amorosos. E, quando por falta de espaço, o esposo decidiu fundar a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE), uma vez mais sua fiel parceira estava ao lado, com abnegação e sacrifícios.

Amélie demonstrou todo seu devotamento ajudando a ler, selecionar e discutir o conteúdo das inúmeras correspondências provenientes de todos os lugares do planeta. E, mesmo cansada, sempre que suas forças permitiam, ela acompanhava o marido nas viagens que visavam conhecer o movimento espírita da época.

Por conta de sua posição de “líder dos espíritas”, Kardec foi alvo de calúnia, inveja, traições, insultos e outras dificuldades e, nesses momentos, com toda certeza, o colo aconchegante da esposa querida foi uma das fontes onde o professor sorveu forças necessárias para prosseguir.

Após o desencarne de Kardec, Amélie continua a atuar pelo Espiritismo

E quando o querido marido desencarnou, em 1869, Amélia Boudet deu continuidade à sua obra, tomando providências essenciais para continuidade da divulgação espírita entre elas, a fundação de uma sociedade que garantia a publicação da Revista Espírita e das obras básicas e participação nas reuniões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, sempre que sua saúde permitia.

Já octogenária, Gaby viu-se envolvida no célebre episódio do Processo dos Espíritas, em 1875, quando pioneiros do Espiritismo tiveram que comparecer à presença de um juiz para se defenderem da acusação de fraude na produção de fotos de desencarnados. Intimada como testemunha, Amélie foi desrespeitada pelo juiz, que humilhou a memória de Allan Kardec, provocando viva reação da viúva que exigiu respeito à memória de seu esposo. Em nenhum instante desse lamentável episódio ela recuou, defendendo a Doutrina Espírita com a autoridade que a situação exigia.

A grande dama do Espiritismo se despede da carne

Lúcida e atuante, Gabi desencarnou aos 87 anos e seus restos mortais seguiram para o mesmo local onde estavam os do amado esposo, sendo gravados, na coluna que sustenta o busto do Codificador, os dizeres: “Amelie Gabrielle Boudet – Viúva de Allan Kardec”.

Sem dúvida, os espíritas muito devem a essa mulher corajosa, forte e inteligente, cuja presença foi essencial para que Kardec cumprisse sua missão. Cúmplices, em todos os sentidos e formas, evoluíram e superaram os obstáculos provenientes da caminhada que empreenderam.

Eram companheiros que se amavam, admiravam e respeitavam. Apoiando-se mutuamente, trabalharam e evoluíram juntos e, ainda, deixaram-nos um precioso legado traduzido na mensagem espírita. Entenderam como poucos que, como afirmou um dia o escritor Saint Exupéry, “a vida nos ensinou que o amor não consiste em olhar um para o outro, mas sim olhar juntos na mesma direção”.

Martha Rios

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://kardec.blog.br/acervo-de-imagens-de-amelie-gabrielle-boudet/>. Acesso em: 16ABR21.

Martha Rios Guimarães
Martha Rios Guimarães

Jornalista e escritora, integrante do Centro Espírita Gabriel Ferreira, participa da USE Distrital Vila Maria desde 2000. É criadora e coordenadora do projeto: “Comece pelo Comecinho” e autora do livro “Comece pelo Comecinho – Educação Espírita Infantojuvenil: uma proposta de trabalho”, pela editora O Clarim, integrante da equipe Café com Kardec.

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