Autotransformação

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Autotransformação e Espiritismo

setembro 2, 2020

Durante os primeiros seis meses do ano, tive a oportunidade de realizar um curso de Filosofia, no Centro Espírita Casa do Caminho em São Paulo. As aulas foram ministradas por Antonio Carlos Tarquínio, espírita, Mestre e Doutor em Filosofia pela PUC -SP e comunicador da Rádio Boa Nova e TV Mundo Maior, emissoras da Fundação Espírita André Luiz.O conteúdo  das aulas trouxe aos alunos uma perspectiva bastante profunda sobre autotransformação. Para compreender um pouco mais sobre este tema tão importante, leia abaixo a entrevista realizada com Antonio Carlos Tarquínio.

Agenda: Os Espíritos da terceira revelação acreditam no poder de autotransformação da criatura humana? Acreditam em mudança promovida pela própria criatura? O espírito possuiria em si força suficiente para promover a própria transformação interior?

Tarquínio: No livro dos Espíritos há uma sequência de questões que respondem cabalmente essas indagações.

Na pergunta 602: Os animais progridem como o homem, por sua própria vontade, ou pela força das coisas? Ainda que a resposta não seja menos significativa, “pela força das coisas; e é por isso que, para eles, não há expiação” na própria pergunta há uma afirmação não contraditada pelos Espíritos: o homem progride por sua própria vontade”.

Semelhante resposta deita raízes profundas na história da philosophia onde o tema foi muito discutido, mormente no âmbito da philosophia estoica, mas não só. Pode-se afirmar que o assunto é recorrente na philosophia antiga desde Sócrates, e percorrerá uma longa história até ser incorporado ao Cristianismo primitivo, precipuamente no monasticismo cristão.

Na pergunta 115 lemos: uns Espíritos foram criados bons e outros maus? E a resposta, “Deus criou todos os espíritos simples e ignorantes…” o que indica total discordância com a ideia que veio a se instaurar no seio do Cristianismo de anjos criados anjos e homens criados homens, de anjos decaídos voltados ao mal essencialmente. A Revelação terceira não endossa a visão comumente compartilhada por todos aqueles que descreem no poder de mudança do homem através do esforço próprio.

Na questão 114 observamos: os Espíritos são bons ou maus por natureza, ou são eles mesmos que procuram melhorar-se? E com todas as letras é apresentado o seguinte conceito – “os Espíritos mesmos se melhoram, melhorando-se, passam de uma ordem inferior a uma ordem superior.”

Agenda: Os Espíritos nos aconselharam algum método de autotransformação que pudéssemos aplicar em nossas vidas a fim de vencermos a nós mesmos?

Tarquínio: Sim, aconselharam. Mas, infelizmente a maioria dos espíritas parece desconhecê-lo.

Na questão 919, e nas seguintes, é apresentado o método para se levar a efeito a transformação de si nos seguintes moldes: Qual o meio prático mais eficiente para se melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento do mal? “Um sábio da antiguidade já vos disse ‘conhece-te a ti mesmo. ’” Penso que essa indicação dos Espíritos aponta para Sócrates – filósofo ateniense que incorporou e transmitiu, como ninguém, o adágio, tanto na palavra como na própria vida.

E como Kardec persistiu indagando para apurar uma melhor resposta face a dificuldade que todos experimentamos em nos conhecer, a réplica recomendou como estratégia de autoconhecimento o exame de consciência, prática comum e amplamente conhecida da antiga philosophia – que depois da revelação cristã -, tornou-se muito utilizada no monasticismo dos padres do deserto, conhecida como uma das modalidades da atenção (prosoché).

Agenda: Por que nas casas espíritas e no movimento espírita em geral o assunto quase, ou nunca aparece?

Tarquínio: Penso que em grande parte seja por um hábito que se instaurou em torno a nós da sacralização dos ensinamentos espíritas em geral. Sem falar no fato de que o assunto do cuidado de si haver ficado por conta da tal “reforma íntima”.

O espírita na prática faz prece, doutrina espíritos, presta muita ajuda ao próximo, e fala muito sobre isso e aquilo, inclusive em “reforma íntima” – para dizer que é difícil, coisa e tal, tal e coisa. E não percebe que a discussão e o entendimento da mudança têm de ser encontrado pela via da autonomia, o que requer outros olhos para a prática religiosa que nos habituou ao heterônomo.

A sacralização de ensinamentos poderosos rouba-lhes a eficácia para empoderar e transformar as pessoas.

A catalogação da discussão ampla e profunda da autotransformação encarcerada na categoria “reforma íntima” tem de ser urgentemente repensada.

Elen de Souza
Elen de Souza

Jornalista, possui MBA em Marketing e Gestão e atualmente faz pós graduação em Projeto Social. Trabalha para a TV Mundo Maior e Rádio Boa Nova, emissoras da Fundação Espírita André Luiz, onde atua na área de Coordenação de Mídias Sociais e também apresenta o programa Boletim Espírita. Frequentadora do Centro Espírita Casa do Caminho, onde realiza os cursos de Estudo Mediúnico e Filosofia. É Fundadora do Grupo Irmãos em Cristo, organização sem fins lucrativos que realiza ações sociais voltadas para pessoas da terceira idade.

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