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Carta Aberta de uma Criança para seus Pais e Evangelizadores

outubro 12, 2020

    Só haverá educação de nossos filhos, se ajudarmos a criança a caminhar na estrada da disciplina

 “(…) A melhor escola ainda é o lar, onde a criatura
deve receber as bases do sentimento e do caráter”.
Emmanuel

Toda criança que surge no proscênio terrestre clama (e devia merecer) proteção, orientação e encaminhamento na direção do Bem, a fim de que possa cumprir o seu projeto de vida adredemente planejado na Espiritualidade, com vistas ao seu progresso espiritual.

Numa cidade interiorana, até então pacata e morigerada, a população não alcançara ainda a faixa dos 100 mil habitantes e os índices de assassinatos de jovens abaixo dos 18 anos estavam crescendo de forma estarrecedora.   Como nem os pais e tampouco os professores estavam conseguindo impor os devidos limites aos jovens, a autoridade policial precisou intervir decretando toque de recolher a partir das 23:00 h para essa faixa etária.  Polêmica ou não, com essa medida os índices de criminalidade baixaram de imediato.  Tudo isso seria desnecessário se ao nascer a criança trouxesse junto de si uma carta aberta, nos termos da que lemos algures e não nos lembramos se é de autor encarnado ou desencarnado, que dizia – mais ou menos – o seguinte:

“Mamãe, papai e titios: Eu preciso de vocês, de sua companhia, de muita compreensão, de seu amor; ajudem-me a encontrar Deus; ensine-me a orar, eu quero conversar com Ele; orientem-me como viver em sociedade, nos grupos sociais; não quero ferir meu próximo; informe-me sobre as regras do bem viver, quero discernir o que fazer ou não; espero receber orientações para amar o trabalho, ganhar o pão de cada dia com meu próprio esforço; despertem em mim a honestidade, o cumprimento do dever; ajudem-me a compreender o idoso, ter paciência com eles.

Quero construir um mundo melhor, para tanto, preciso que vocês me ensinem como fazer diante dos perigos, do mal que o mundo oferece.  Não me chamem a atenção diante dos outros; quando erro é porque não conheço o certo.  Valorizem meus trabalhinhos da es­cola, elogiando-me, dando-me forças para fazer cada vez melhor.

Não me encham de brinquedos, um dia pode ser que eu não tenha possibilidades de obter coisas e com isto vou sofrer muito.  Digam-me não, sempre que eu pe­dir o supérfluo.  Não sei distinguir o que é bom para mim.  Não mintam para mim; quero aprender a ser verdadeiro para com todos.  Também não gritem comigo, tenham paciência de repetir as coisas, tantas vezes quantas se fizerem necessárias. Façam-me carinhos de vez em quando; não preciso tanto de roupas de marca e bons calçados; quero deitar no seu colo, brincar com vocês receber muitos beijos e abraços.  Isto é mais importante para mim…  Quando eu solicitar a sua presença, despreze o jornal e a televisão; este momento de diálogo comigo talvez seja o que preciso para ser um homem de bem no futuro.  Parem e me escutem.  Quero aprender a expressar o que sinto; façam isto comigo, digam o que vocês pensam e farei o mesmo.  Digam sempre que vocês me amam; preciso do alimento espiritual todos os dias. Eu amo vocês…  Na verdade eu sei que vocês me amam, mas é muito bom ouvir de seus lábios a expressão verbal desse amor, envolvida com o carinho das vibrações do sentimento.

Papai, mamãe e titios, o mundo me espera.  Deus me criou, não quero ser um peso na sociedade; para tanto, orien­tem-me como me livrar dos vícios e das más companhias. Quero aprender a amar o próximo, deixem-me levar minhas roupinhas e brinquedos para as criancinhas pobres.  E se porventura eu chegar em casa com objetos dos outros não permitam, não se calem diante desse gesto.  Quero ser um homem integral, bom e me formar. Ajudem-me a amar a es­cola, procurem meus professores, vejam como estou procedendo com meus colegas na classe.

Papai e mamãe, não me abandonem à própria sorte.  Não sei andar sozinho, preciso de direção, normas, regras, que­ro ser disciplinado e educado.  Quando o tempo passar e eu me tornar adulto, vocês vão receber o que me ofereceram.  Sou como uma plantinha que cresce na direção do bem. Ajudem­-me, por favor, sou muito frágil, preciso de mãos fortes guiando meus passos.  Ajudem-me hoje para que eu não os decepcione  amanhã!…”

No capítulo 19 do livro “Depoimentos Vivos”(1) da Editora Leal, lemos um “Apelo às Mães” , psicografado por Divaldo Franco, que na verdade é a narrativa da dolorosa experiência de uma maternidade negligenciada que resultou em funestos desdobramentos de dores e desastres morais.  É a saga de uma mãe, já desencarnada, que se dá a conhecer por Marta da Anunciação, que diz ter sido “(…) abençoada por uma filha que lhe iluminava a loucura da mocidade mal vivida, e que requisitada pelo modernismo faccioso, vestiu-a de boneca para a vitrina da ilusão.   Atarefada nas mil mentiras da fantasia, ajudei minha filha a crescer sob os artifícios da imaginação e descobri-a subitamente selvagem e poluída…”

Em seguida vem seu apelo-alerta às mães: 

“(…) Oh! Mães, meditai um pouco, ouvi meu apelo.  Não venho da sepultura para gritar inutilmente!  Não é a voz do remorso que clama, nem o arrependimento que grita.   É o sofrimento que suplica: “Poupai vossas filhas, guardai vossos filhos.  A noite de alegria que reservais para o próprio egoísmo nas reuniões da futilidade, dai-as aos vossos filhos, ficando com eles no lar, pois a planta tenra que não recebe sombra protetora vai queimada pelo sol inclemente ou crestada pelo frio cortante que a açoita, vencida pela chama ardente ou arrancada pelo vento tempestuoso.

As crianças são débeis plantas do jardim do Amor!  Todo sacrifício pelos filhos é pouco.

Nós os nominamos como amores nossos, mas não lhes damos o nosso amor.  Dizemos que são o futuro, mas lhes amarguramos o presente com a quase indiferença.  Chamamo-los promessas e martirizamos-lhes a esperança.  Ganhamos todos os prazeres, brilhando no mundo e deixamos que a inconsequência, filha da negligência dos nossos atos, lhes assinale os passos.

Trocai as fantasias pelo respeito à verdade, ao lado das crianças: nem a austeridade da clausura, nem o descontrole da liberdade; nem a exigência monacal, nem a indiferença do anarquismo; nem a proibição excessiva, nem o descuido da invigilância; nem a corda punitiva, nem o desrespeito total.  Acima de todas as coisas, o amor honrado, constante e firme de uma mãe que faz do lar um santuário onde os filhos são as messes abençoadas da vida”.

Assiste plena razão a Walter Barcelos ao afirmar:  “Dando liberdade sem rumo aos filhos, os pais inconsequentes não atestam amor, mas sim demonstram indiferença moral e fraqueza de autoridade.  Só haverá educação de nossos filhos, se ajudarmos a criança a caminhar na estrada da disciplina”.

Humberto de Campos afirma que os germens dos imensos desastres humanos começam a se desenvolver nas crianças sem disciplina e nos jovens sem orientação sadia.

Ensina o insuperável Mestre Lionês (2):

“Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as suas tendências!  Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração; depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de deferência com que são tratados e da ingratidão deles”.

Dirigindo-se aos pais, no que diz respeito à sua nobre e delicada missão, Emmanuel diz (3):

Assumir compromissos na paternidade e na maternidade constitui engrandecimento do espírito sempre que o homem e a mulher lhes compreendam o caráter divino.  Infelizmente, o Planeta ainda apresenta enorme percentagem de criaturas mal-avisadas relativamente a esses sublimes atributos.   Grande número de homens e mulheres procura prazeres envenenados nesse particular.  Os que se localizam, contudo, na perseguição à fantasia ruinosa, vivem ainda longe das verdadeiras noções de humanidade e devem ser colocados à margem de qualquer apreciação.

Os pais do mundo, admitidos às lavouras de Jesus, precisam compreender a complexidade e grandeza do trabalho que lhes assiste.  É natural que se interessem pelo mundo, pelos acontecimentos vulgares, todavia, é imprescindível não perder de vista que o lar é o mundo essencial, onde se deve atender aos desígnios divinos, no tocante aos serviços mais importantes que lhes foram conferidos.  Os filhos são as obras preciosas que o Senhor lhes confia às mãos, solicitando-lhes cooperação amorosa e eficiente.  Receber encargos desse teor é alcançar nobres títulos de confiança.  Por isso, criar os filhos e aperfeiçoá-los não é serviço tão fácil.

De um modo geral, os  pais humanos vivem desviados, através de vários modos, seja nos excessos de ternura ou na demasia de exigências, mas à luz do Evangelho caminharão todos no rumo da era nova compreendendo que, se para ser pai ou mãe são necessários profundos dotes de amor, à frente dessas qualidades deve brilhar o divino dom do equilíbrio”.

Rogério Coelho

Referências:
(1) FRANCO, Divaldo. Depoimentos Vivos. [Pelo Espírito: Marta da Anunciação]. 4.ed. Salvador: LEAL, 1995, cap. 19, p.p. 71-73;
(2) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 125.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, cap. V, item 4, § 8º; e
(3) XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de Luz. 19.ed. Rio [de Janeiro]: 2003, cap. 135, p.p. 283-284.

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://www.febnet.org.br/blog/sem-categoria/conheca-o-espiritismo-para-crianlcas/>. Acesso em: 12OUT2020.

Rogério Coelho
Rogério Coelho

Rogério Coelho nasceu na cidade de Manhuaçu, Zona da Mata do Estado de Minas Gerais onde reside atualmente. Filho de Custódio de Souza Coelho e Angelina Coelho. Formado em Jornalismo pela Faculdade de Minas da cidade de Muriaé – MG, é funcionário aposentado do Banco do Brasil. Converteu-se ao Espiritismo em outubro de 1978, marcando, desde então, sua presença em vários periódicos espíritas. Já realizou seminários e conferências em várias cidades brasileiras. Participou do Congresso Espírita Mundial em Portugal com a tese: “III Milênio, Finalmente a Fronteira”, e no II Congresso Espírita Espanhol em Madrid, com o trabalho: “Materialistas e Incrédulos, como Abordá-los?” Participou da fundação de várias casas Espíritas na Zona da Mata Mineira.

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