Abdicação da personalidade

Rogério Coelho
03/02/2021
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Jesus não cessa de apresentar a humildade como condição essencial da felicidade

“A Lei de Amor substitui a personalidade pela
fusão dos seres e extingue as misérias sociais.” Lázaro (1)

O Inolvidável Apóstolo dos Gentios afirmou (2): “já estou crucificado com o Cristo; e vivo não mais eu, mas o Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim.”

Encontramos João Batista na mesma faixa de sintonia, quando assevera (3): “É necessário que Ele (Jesus) cresça e que eu diminua.”

Emerge dessas assertivas um gesto espontâneo de rendimento incondicional e submissão Àquele que segundo os Espíritos Superiores (4) é o nosso Modelo e Guia mais perfeito, o paradigma da renúncia…

Jesus não nos iludiu acerca das tribulações pelas quais devemos passar para encontrar a porta estreita. Isto fica muito claro quando afirma (5): “no mundo tereis aflições.”

Esclarece o Espírito de Verdade (6):

“Deus consola os humildes e dá força aos aflitos que lha pedem. Seu poder cobre a Terra e, por toda a parte, junto de cada lágrima colocou Ele um bálsamo que consola. A abnegação e o devotamento são uma prece continua e encerram um ensinamento profundo. A sabedoria humana reside nessas duas palavras. Possam todos os Espíritos sofredores compreender essa verdade, em vez de clamarem contra suas dores, contra os sofrimentos morais que neste mundo vos cabem em partilha.”

Certa feita, perguntaram a Jesus (7): “quem é o maior no Reino dos Céus?”

O Mestre, chamando a Si uma criança, colocou-a no meio deles e respondeu:

“digo-vos, em verdade, que se não vos tornardes quais crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Aquele portanto, que se humilhar e se tornar pequeno como esta criança, será o maior no Reino dos Céus; e aquele que recebe em meu nome a uma criança, tal como acabo de dizer, é a mim que recebe.”

Explica com muita clareza o ínclito Mestre Lionês (8): “estas máximas decorrem do princípio de humildade que Jesus não cessa de apresentar como condição essencial da felicidade prometida aos eleitos do Senhor e que Ele formulou assim: “bem-aventurados os pobres de espírito, pois que o reino dos céus lhes pertence.” Ele toma uma criança como tipo da simplicidade de coração e diz: “Será o maior no reino dos céus aquele que se humilhar e se fizer pequeno como uma criança, isto é, que nenhuma pretensão alimentar à superioridade ou à infalibilidade”.

A mesma ideia fundamental se nos depara nesta outra máxima: seja vosso servidor aquele que quiser tornar-se o maior, e nesta outra: aquele que se humilhar será exalçado e aquele que se elevar será rebaixado.

O Espiritismo sanciona pelo exemplo a teoria, mostrando-nos na posição de grandes no mundo dos Espíritos os que eram pequenos na Terra; e bem pequenos, muitas vezes, os que na Terra eram os maiores e os mais poderosos. É que os primeiros, ao morrerem, levaram consigo aquilo que faz a verdadeira grandeza no Céu e que não se perde nunca: as virtudes, ao passo que os outros tiveram de deixar aqui o que lhes constituía a grandeza terrena e que se não leva para a outra vida: a riqueza, os títulos, a glória, a nobreza do nascimento… Nada mais possuindo senão isso chegam ao outro mundo, privados de tudo, como náufragos que tudo perderam, até as próprias roupas. Conservaram apenas o orgulho que mais humilhante lhes torna a nova posição, porquanto vêem colocados acima de si e resplandecentes de glória os que eles na Terra espezinharam.

O Espiritismo aponta-nos outra aplicação do mesmo princípio nas encarnações sucessivas, mediante as quais os que, numa existência, ocuparam as mais elevadas posições, descem em existência seguinte, às mais ínfimas condições, desde que os tenham dominado o orgulho e a ambição. Não procureis, pois, na Terra, os primeiros lugares, nem vos colocar acima dos outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. Buscai, ao contrário, o lugar mais humilde e mais modesto, porquanto Deus saberá dar-vos um mais elevado no Céu, se o merecerdes.”

Continua explicando Kardec (9): “os Espíritos deixam cada indivíduo na sua esfera. Do homem apenas apto para lavrar a terra não fazem depositários dos segredos de Deus, mas sabem arrancar da obscuridade aquele que se mostra capaz de secundar-lhes os desígnios. Não vos deixeis, por conseguinte, dominar pela ambição e pela curiosidade, em terreno alheio ao do Espiritismo, que tais fitos não têm, pois com eles só conseguireis as mais ridículas mistificações.”

Para maiores esclarecimentos do assunto, é bom dar uma verificada no Maior Tratado de Paranormalidade do Mundo (10).

Ao discursar na Sociedade Espírita de Paris, no dia 1º de abril de 1864, Kardec desenhou com muita nitidez o “modus-operandi” que seus seguidores devem adotar. Pincemos algumas frases de seu discurso (11): “(…) a força do Espiritismo não reside na opinião de um homem ou de um Espírito; está na universalidade do ensino dado pelos Espíritos. O controle universal, como o sufrágio universal, resolverá no futuro todas as questões litigiosas. Fundará a unidade da Doutrina muito melhor que um concílio de homens. Ficai certos, senhores, esse princípio fará o seu caminho, como aquele outro princípio: “fora da Caridade não há salvação”, porque baseado na lógica mais rigorosa, e na abdicação da personalidade. Não contrariará senão os adversários do Espiritismo e aqueles que só têm fé em suas luzes pessoais.”

Confrange-nos o coração observar os polichinelos hodiernos, mormente no movimento espírita, tão ciosos de poder temporal e gloríolas terrenas, encastelados num personalismo exacerbado, buscando os “primeiros lugares” com frenesi, tão divorciados do papel do verdadeiro espírita, esquecidos de que “os Espíritos sabem arrancar da obscuridade aqueles que se mostram capazes de executar os desígnios de Deus.”

Rogério Coelho

Referências Bibliográficas:
(1) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. XI, item 8;
(2) Paulo. Gálatas, 2:20;
(3) João, 3:30;
(4) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 625;
(5) Jesus. Jo., 16:33;
(6) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. VI, item 8;
(7) Mateus, 18:10;
(8) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed. Rio: FEB, 2009, cap. VII, item 6;
(9) KARDEC, Allan. O Céu e o inferno. 51.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 1ª parte, cap. X, item 10;
(10) KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª parte – cap. XXVI;
(11) Kardec, A. “Revue Spirite – maio de 1864”. Araras: IDE, 1993.

 

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