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Erasto, Espírito orientador da Codificação Espírita

fevereiro 23, 2021

Em Lucas, 10:1 a 16 consta o registro de que, após a transfiguração no Tabor e a cura de um epilético obsidiado, Jesus “[…] chamou setenta discípulos [ou setenta e dois, segundo alguns códices, entre eles a Bíblia de Jerusalém], e mandou-os adiante de si dois a dois, a todas as cidades e lugares aonde Ele estava para ir, a fim de anunciar o Evangelho” [v. 1 e 2]. (1) Jesus não utilizou um número aleatório para organizar o colégio apostolar e o grupo dos 70 ou 72 discípulos. Ao contrário, os 12 apóstolos indicam as 12 tribos de Israel, enquanto o grupo de 70 ou 72 indicava o número tradicional das nações pagãs. (2) Pois bem, acredita-se que entre os 70 ou 72 discípulos consta um certo Erasto conhecido dos espíritas como Erasto (Erastos, do grego, ou Erastus, do latim = amado) que, no dizer de Allan Kardec é um “[…] Espírito Superior, que se revelou mediante comunicação de ordem elevadíssima […]”, (3) e muito colaborou na edificação do Espiritismo pela transmissão de belas e sábias mensagens encontradas em alguns livros da Codificação e na Revista Espírita.

Ao pesquisar um pouco mais a respeito desse valoroso Espírito, sugestão transmitida pelo amigo Nestor Masotti, encontramos surpreendentes informações que, resumidamente, apresentamos em seguida.

Erasto um dos 70 ou 72 discípulos escolhidos por Jesus.

A convocação do Cristo não se limitou à organização de um grupo de discípulos que caminharam à sua frente nas cidades e vilarejos, atuando como seus emissários, arautos ou embaixadores. Transmitiu-lhes instruções muito específicas, cujo resumo extraímos do texto de Lucas:

Deveriam andar […] dois a dois, à sua frente, a toda cidade e lugar aonde Ele próprio devia ir (Lc 10:1). Asseverou que os enviava […] como cordeiros ao meio de lobos. (Lc 10:3) Recomendou-lhes: Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias e a ninguém saudeis pelo caminho (Lc 10:4). Instruiu-os como proceder ao chegar em uma residência ou localidade: Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: “Paz a esta casa!”. E, se lá houver um filho de paz, a vossa paz repousará sobre ele; senão, voltará a vós. Permanecei nessa casa, comei e bebei do que tiverem, pois o operário é digno do seu salário. Não passeis de casa em casa. Em qualquer cidade em que entrardes e fordes recebidos, comei o que vos servirem (Lc 10:5 a 7). Mas, em qualquer cidade em que entrardes e não fordes recebidos, saí para as praças e dizei: “até a poeira da vossa cidade que se grudou aos nossos pés, nós a sacudimos para deixá-la para vós. Sabei, no entanto, que o Reino de Deus está próximo” […] (Lc 10:10 e 11).

Orientou-lhes: curai os enfermos que nela houver e dizei ao povo: o Reino de Deus está próximo de vós (Lc 10:9). Asseverou-lhes: “Quem vos ouve a mim ouve; quem vos despreza a mim despreza, e quem me despreza, despreza Aquele que me enviou”(Lc10:16).(4)

Amélia Rodrigues informa que, além das instruções, Jesus garantiu aos discípulos:

[…] Nunca temais, seja o que for, porquanto estais investidos do mandato superior e conseguireis avançar imunes às agressões, às picadas dos escorpiões e das serpentes, que ficarão esmagados sob vossos pés, enquanto as vossas vozes calarão a agressão dos Espíritos perversos, zombeteiros e causadores de pânico nas multidões desavisadas.(5)

E complementa suas informações:

Eles partiram, emocionados, e ao retornarem, narram os sucessos, como os Espíritos infelizes se lhes submeteram; como Os problemas eram solucionados. […] O terreno estava, pois, preparado e por isso estuavam de felicidade. (6)

A partir desse momento Erasto prossegue em sua jornada evolutiva, assinalada por declarado compromisso e amor ao Cristo nas reencarnações subsequentes, nas quais ele sempre se revelou como fiel discípulo do Senhor.

Erasto, discípulo de Paulo de Tarso e tesoureiro de Corinto

Cumprida a missão com os demais 70 ou 72 discípulos, localizamos Erasto, naquela mesma reencarnação, atuando como seguidor próximo a Paulo de Tarso. No final da epístola aos Romanos, que fora redigida por Tércio, outro discípulo, como consta em Romanos, 16:22: “Eu, Tércio, que escrevi essa carta, saúdo-vos no Senhor”, Paulo insere dois pós-escritos: o primeiro é um alerta contra os provocadores de dissensões e escândalos. Orienta-os assim: “Evitai-os. Porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, mas ao próprio ventre, e com palavras melífluas e lisonjeiras seduzem os corações simples […] Mas desejo que sejais sábios para o bem e sem malícia para o mal” (Romanos, 16:17 a 19). No segundo pós-escrito, o apóstolo da gentilidade dirige saudações a queridos e leais

amigos: “Saúdo-vos Timóteo, meu colaborador, e também Lúcio, Jasão e Sosípatro, meus parentes […] Saúdo-vos Gaio, que hospeda a mim e a toda a igreja. Saúda-vos Erasto, administrador da cidade, e o irmão Quarto” (Romanos, 16:21, 23 e 24). O versículo 23 anota a saudação de Erasto que deveria estar por perto no momento da redação da epístola: “Erasto tinha um posto de influência como importante oficial municipal. O seu nome foi encontrado em uma calçada que ele doou à cidade de Corinto […]”. (7)

Importa destacar que foi, “[…] provavelmente, durante o inverno de 56–57 d.C. que, numa casa em Corinto, o apóstolo Paulo escreveu a carta aos Romanos. A sua terceira viagem missionária estava terminando, e durante três meses ele foi hóspede de Gaio (cf. At. 20:3)”. (8) Nessa terceira e penúltima viagem, ocorrida entre 53 e 58 d.C., Paulo percorreu várias localidades situadas ao longo do mar

Mediterrâneo, em companhia de Timóteo da igreja da Licaônia e de Erasto e por outros discípulos

(Sópratos, Aristarco, Segundo, Gaio, Tíquico, Trófimo): saindo de Antioquia, passam por Éfeso, Filipos, Tessalônica, e retornam a Jerusalém no ano de 58, percorrendo Acaia, Tiro, Mileto e Cesareia (Atos dos Apóstolos, 19: 21 a 40; 20:1 a 6).

Erasto, contudo, não os acompanha de volta a Jerusalém. Permanece em Corinto, visto ser ele o tesoureiro da cidade, (9) como mais tarde Paulo informa, antes de iniciar a sua quarta e última viagem missionária, com destino a Roma, onde o apóstolo iria ser preso e morto. Paulo escreve uma segunda epístola a Timóteo, como consta em 2 Timóteo, 4:19 e 20: “Saúda Prisca e Áquila, e a família de Onesíforo. Erasto ficou em Corinto. Deixei Trófimo doente em Mileto”.

Erasto, Espirito protetor, um dos mensageiros da Doutrina Espirita

Erasto é considerado um dos mais importantes mensageiros do Espiritismo que, sob a coordenação do Espírito da Verdade, transmitiu mensagens que revelam sabedoria e elevação moral.

Em O livro dos médiuns (10) encontramos algumas mensagens que revelam a superioridade moral e intelectual de Erasto. Destacamos as seguintes:

• Capítulo 5, item 98: Dissertação sobre o fenômeno de transporte. Allan Kardec faz o seguinte comentário: “A teoria do fenômeno de transporte e das manifestações físicas em geral se acha resumida, de maneira notável, na seguinte dissertação feita por um Espírito, cujas comunicações trazem o cunho incontestável de profundeza e lógica. Muitas delas aparecerão no curso desta obra. Ele se dá a conhecer pelo nome de Erasto, discípulo de Paulo, e como protetor do médium que lhe serviu de intérprete”.

• Capítulo 5, item 99: Fenômeno de transporte. Erasto responde a 20 perguntas que lhe são submetidas por Kardec. Há respostas que são complementadas por notas explicativas.

• Capítulo 16, itens 196 e 197: Médiuns imperfeitos e Bons médiuns, respectivamente. O Espírito apresenta características dos diferentes tipos de médiuns.

• Capítulo 20, item 230: Dissertação sobre a influência moral do médium. Leitura imprescindível para todos os espíritas, sobretudo os que se dedicam à prática mediúnica. Merece destaque esta afirmativa de Erasto: “[…] É melhor repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea […]”.

• Capítulo 31, item XXVII: Dissertações espíritas. Erasto analisa a questão da obsessão e os rejuízos daí decorrentes.

Em O evangelho segundo o Espiritismo (11) há também belas e eloquentes mensagens de Erasto, Espírito protetor.

• Capítulo 1, item 11: Análise do pensamento de Santo Agostinho sobre o que esperar na vida futura.

• Capítulo 20, item 4: Missão dos espíritas. Essa mensagem mereceria um estudo aprofundado de cada parágrafo. Destacamos as seguintes orientações:

a) o que é necessário para o espírita cumprir a sua missão: “Arme-se vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra! O arado está pronto; a terra espera; é preciso que trabalheis”;

b) Os sinais que indicam que o espírita está no bom caminho:

[…] Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles professarão e ensinarão. Reconhecê-los-eis pelo número de aflitos a que levem consolo; reconhecê-los-eis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo da sua Lei; os que seguem a sua Lei são os seus eleitos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa Lei e fazem dela um degrau para satisfazer à sua vaidade e à sua ambição. – Erasto, anjo da guarda do médium. (Paris, 1863).

• Capítulo 21, item 9: Características do verdadeiro profeta. Erasto relaciona de forma muito oportuna a que distingue os bons dos falsos profetas.

• Capítulo 21, item 10: Os falsos profetas da erraticidade. Aqui, o Espírito benfeitor analisa a ação dos obsessores e dos médiuns obsidiados.

Na Revista Espírita de 1861, mês de julho, localizamos uma mensagem muito esclarecedora, denominada O papel dos médiuns nas comunicações, (12) assinada por Erasto e Timóteo. Essa mesma mensagem encontra-se reproduzida em O livro dos médiuns, capítulo 19, item 225. Percebemos, então, que os dois amigos e devotados discípulos de Paulo prosseguem juntos na sublime e árdua tarefa de levar o Evangelho de Jesus a todos os povos, como embaixadores do Cristo, independentemente do plano de vida em que se encontrem!

Assinalamos também que nessa mesma Revista Espírita de 1861, porém na edição do mês de outubro, por ocasião da visita de Allan Kardec aos espíritas lioneses, durante um banquete que lhe fora oferecido pelos conterrâneos, e após o discurso pronunciado pelo Codificador, é lida uma tocante mensagem de Erasto, 17 de setembro de 1861, denominada: Epístola de Erasto aos espíritas lioneses. Essa carta contém esclarecedoras informações históricas e não-históricas a respeito dos mártires de Lyon, que tanto sofreram em nome do Cristo. Destacamos um pequeno trecho dessa luminosa missiva de Erasto, como fechamento deste modesto estudo, a respeito de um valoroso vulto do Cristianismo e do Espiritismo, um exemplo para todos nós.

Resta-me ainda vos dar alguns conselhos – embora os vossos guias muitas vezes já vos tenham dado – mas que minha posição pessoal e a atual circunstância me aconselham a vos lembrar novamente. Meus amigos, aqui me dirijo a todos os espíritas, a todos os grupos, a fim de que nenhuma cisão, nenhuma dissidência, nenhum cisma venha surgir entre vós, mas, ao contrário, que uma crença solidária vos anime e vos reúna a todos, pois isto é necessário ao desenvolvimento de nossa doutrina benfazeja. Sinto uma espécie de vontade que me constrange a vos pregar a concórdia e a união, pois nisto, como em tudo, a união faz a força e tendes necessidade de ser fortaleza e união, a fim de que possais enfrentar as tempestades que se aproximam. E não só tendes necessidade de união entre vós, mas ainda com os vossos irmãos de todos os países […]. (13)

Marta Antunes

Referências:
(1) FRANCO, Divaldo P. Trigo de Deus. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. 6. ed. Salvador: LEAL, 2014. cap. 21, p. 134;

(2) ______. ______;

(3) KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 6. imp. Brasília: FEB, 2020. 2a pt., cap. 19, it. 225;

(4) BÍBLIA DE JERUSALÉM. Coord. da edição em língua portuguesa: Gilberto da Silva Gorgulho; et al. Diversos tradutores. Nova Ed., ver. e ampl. São Paulo: Paulus, 2019. Evangelho segundo Lucas, 10:1 a 16. Nota de rodapé “c”, p. 1.807;

(5) FRANCO, Divaldo P. Vivendo com Jesus. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. 1. ed. Salvador: LEAL, 2012. cap. 28, p. 185;

(6) ______. Trigo de Deus. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. 6. ed. Salvador: LEAL, 2014. cap. 21, p. 135;

(7) BRUCE, F. F. Comentário bíblico NVI: antigo e novo testamentos. Trad. Valdemar Kroker. 2. ed. São Paulo: Editora Vida, 2012. it. Romanos, p. 1.280;

(8) ______. ______. p. 1.252;

(9) DAVIS, John. Novo dicionário da bíblia. Ampliado e atualizado. Trad. J. R. Carvalho Braga. São Paulo: Hagnos, 2005. it. Erasto, p. 413;

(10) KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 6. imp. Brasília: FEB, 2020;

(11) ______. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 10. imp. Brasília: FEB, 2020;

(12) ______. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. ano 4, n. 7, jul. 1861. Dissertações e ensinos espíritas; Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2019; e

(13) ______. ______. ano 4, n. 10, out. 1861.

Marta Antunes de Moura
Marta Antunes de Moura

Coordenadora Nacional da Área de Unificação da Federação Espírita Brasileira (FEB) e Vice-presidente da FEB.

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