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O duelo nos tempos atuais

outubro 20, 2021

Temos visto e vivido momentos de intensa polarização política, com passeatas e protestos defendendo este ou aquele posicionamento, ideologia ou mesmo governante momentâneo, num antagonismo exageradamente exacerbado.

Os ânimos se encontram tão acirrados que as pessoas acabam por perder o senso crítico e a racionalidade, deixando de refletir de maneira serena, clara, objetiva e imparcial acerca da realidade, mesmo que sob os nobres lemas de defesa da coisa pública, de combate à corrupção e ao suposto retrocesso, além de tantas outras bandeiras.

Desse modo de agir e pensar, beirando a radicalização e até a agressão, fatos que deixam totalmente à parte as melhores vibrações de fraternidade e união entre as criaturas, surgem situações inteiramente opostas ao que o cristianismo nos ensina desde os seus primórdios.

Este texto não tem por pretensão indicar um caminho, adotar uma posição, defender uma opinião política, ou mesmo criticar o que quer que seja. Não, isso jamais caberia aqui. O objetivo é chamar a atenção para algo que, travestido de “consciência política”, está nos afastando, ao invés de nos unir. A modesta intenção é chamar a atenção das criaturas acerca do que o espiritismo – o cristianismo redivivo – alerta sobre a suposta incompatibilidade de pensamentos, sobre a prática abjeta do duelo.

Em O Livro dos Espíritos, no capítulo que trata da lei de destruição – um dos preceitos morais outorgados pelo Senhor da Vida para a regência do universo e para a nossa evolução espiritual –, a plêiade do Espírito de Verdade traz importantes assertivas quanto ao duelo, afirmações um tanto válidas atualmente, podendo ser extraído especificamente da resposta à questão 759 que o “ponto de honra” em matéria de duelo é “o orgulho e a vaidade: duas chagas da Humanidade.”.

No capítulo XII de O Evangelho segundo o Espiritismo, intitulado Amai vossos Inimigos, os benfeitores espirituais dedicam longas linhas ao estudo do assunto, localizadas na parte das Instruções dos Espíritos, a partir do item 11.

Embora existissem resquícios dessa prática abominável à época em que os citados livros da codificação espírita vieram a lume, razão pela qual os espíritos superiores trataram do assunto e classificaram o ato como suicídio e homicídio, felizmente esse proceder está em denotado desuso, sendo praticamente extinto no atual momento evolutivo e civilizatório da humanidade, pelo menos no mundo ocidental.

Claro que estamos a falar do duelo que atenta contra a vida, oriundo de condutas e temperamentos descontrolados, violentos, coléricos e até sanguíneos das criaturas, à época em que tais comportamentos e atitudes eram comuns ou tolerados. Contudo, não nos enganemos: no momento atual, em pleno século XXI, temos sim vivido o exercício do duelo. Só que de modo disfarçado.

Ainda que atualmente não seja prática comum aquela feita com armas, temos o duelo das palavras violentas, o do posicionamento radical, o da ideologia ou imposição políticas, o da dialeticidade tóxica, escrita e falada, tudo contrário à fraternidade, à caridade, à tolerância, à união entre as criaturas.

Dessa forma, e infelizmente, o duelo oriundo da ignorância humana quanto aos preceitos de Jesus ainda está efetivamente presente entre nós, mesmo que de uma forma velada.

Como essa atitude é absolutamente contrária a todos os códigos trazidos pelo Mestre Divino, precisamos combater com vigor os maus instintos e comportamentos que denotam esse ato, os quais ainda perseveram em nós, como dito. E precisamos fazer isso através dos ensinos e lições proporcionados pelos espíritos elevados, trazidos na doutrina que nos foi apresentada de maneira tão amorosa e caridosa.

No capítulo 25 (Tolerância) do livro Pensamento e Vida, Emmanuel nos alerta para o fato de que “pedir que os outros pensem com a nossa cabeça seria exigir que o mundo se adaptasse aos nossos caprichos, quando é nossa obrigação adaptar-nos, com dignidade, ao mundo, dentro da firme disposição de ajudá-lo.”.

Na reposta à pergunta 348 de O Consolador, é novamente o orientador de Francisco Cândido Xavier quem nos esclarece, informando que “as criaturas, de um modo geral, ainda têm muito da tribo, encontrando-se encarceradas nos instintos propriamente humanos, na luta das posições e das aquisições, dentro de um egoísmo quase feroz, como se guardassem consigo, indefinidamente, as heranças da vida animal.”.

Como fica perceptível, ainda temos muito o que nos desenvolver, muito o que avançar rumo às esferas mais elevadas da espiritualidade. Substituir as atitudes quase que bárbaras do duelo, apenas mudando o modo como são praticadas – de contenda armada para altercação de palavras escritas ou faladas –, bem como o resultado efetivado – de suicídio/homicídio para total desrespeito para com o ponto de vista do outro, fazendo valer o nosso na base da força, do falar mais alto –, mostra que alcançamos uma pequena evolução, mesmo que mais por receio da lei penal humana do que por termos aprendido os ensinos trazidos por Jesus, todos reforçados pelos espíritos de escol que revelaram a doutrina espírita.

Porém, ainda há muitíssimo o que ascender, pois falta respeitar o pensamento das demais criaturas, qualquer que seja esse pensamento, mesmo que terminantemente contrário ao nosso. Precisamos aceitar o posicionamento do outro, ainda que não concordemos com ele. E isso por absoluto respeito aos demais indivíduos, por total submissão à regra de igualdade entre os seres humanos, que é um dos princípios dos quais o Mestre nos falou. Ele, que é o nosso exemplo, modelo e guia.

Mais uma vez é preciso enfatizar que aqui não se está a advogar de maneira favorável a essa ou àquela opinião ou forma de pensar, de refletir sobre o momento pelo qual passamos. Do mesmo modo, não se pretende dizer que devemos nos abster de externar o nosso ponto de vista ou até de instruir as criaturas que se mostram menos informadas sobre determinados assuntos ou fatos, dos quais temos pleno ou melhor domínio intelectual.

O que se pretende dizer é que, por uma questão de absoluta tolerância, fraternidade e cristandade, precisamos respeitar os pensamentos dos outros, os posicionamentos alheios, na medida em que devemos lutar energicamente pelo direito que eles têm de ajuizar, refletir e raciocinar diferente de nós.

Como sábia e elevadamente alertado por Emmanuel no já citado capítulo 25 do seu Pensamento e Vida, “opor ódio ao ódio é operar a destruição.”.

Renato Confolonieri

Nota do editor:

Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://radioboanova.com.br/amar-ao-proximo-como-a-nos-mesmos-evangelho/>. Acesso em: 19OUT2021.

Renato Confolonieri
Renato Confolonieri

Atuante no Espiritismo há 20 anos, participou por três anos e meio da entrega de sopa no Grupo Fraterno de Assistência Nossa Casa em São Paulo, articulista no periódico Ação Espírita e Membro de Reuniões Mediúnicas no Grupo Espírita Jesus de Nazaré, ambos de Marília, interior de SP.

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