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Paciência: a ciência da paz

maio 15, 2022

A paz é tesouro que não pode ser afetado em circunstância alguma
“Pela vossa paciência possuireis a vossa Alma”.
(Lc., 21:19.)

Cento e trinta e oito anos separam as épocas em que duas páginas escritas por Joanna de Ângelis vêm nos falar da paciência: a primeira escrita em 1862, no Havre, sob o pseudônimo de “Um Espírito Amigo”, incluída por Allan Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no capítulo IX, item 7; a segunda inserida no livro: “Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda” editado no ano 2000, da lavra psicográfica de Divaldo Pereira Franco.

Em ambas, a autora espiritual nos mostra que a paciência e a Caridade são os dois trilhos paralelos, sobre os quais deve deslizar, com desassombro e segurança, o veículo de nossa evolução na direção do Infinito, em busca de nossa integração com o Pai Celestial, ou seja, na conquista do fanal assinado por Deus para todos os Seus filhos: a felicidade imarcescível e a perfeição relativa.

Nas duas páginas podemos avaliar a importância da paciência no processo evolutivo.  Sem ela não passaríamos de aves feridas impossibilitados de alçar voo aos acumes da Espiritualidade.

Paciência e paz são elementos da equação evolutiva que nos permitirão lograr a ainda grande incógnita que é a perfeição e a felicidade sem mescla do zênite espiritual.

Com razão afirma Joanna de Ângelis, na segunda obra acima mencionada: “(…) Jesus era um homem dotado de extrema paciência, por conhecer o passado das Almas e prever o seu futuro, como resultado da conduta e do empenho a que se entreguem.

A paciência também pode ser considerada como a ciência da paz, e por isso são bem-aventurados os pacíficos, aqueles que trabalham com método e confiança tranquila em favor da renovação do mundo e das suas criaturas, conseguindo ser chamados filhos de Deus que representam toda a paz que deve constituir a meta do ser pensante que luta em contínuas tentativas de adquirir a plenitude.

A paz é tesouro que não pode ser afetado em circunstância alguma, que a leve a desaparecer, sendo a paciência a sua exteriorização, porque é o mecanismo não violento de que se utiliza, a fim de alcançar os objetivos a que se propõe.

A paciência conquista individual através do esforço pela autoiluminação, pelo autoconhecimento e descoberta dos objetivos da existência, transforma-se em Caridade de essencial significado quando direcionada aos que sofrem, ajudando-os com benignidade, trabalhando a resignação que dela também se deriva.

Há sofrimentos ocultos e desvelados muito variados e complexos que são desafiadores da sociedade.  Aqueles que são mais vistos, às vezes sensibilizam os indivíduos, que se comovem e se oferecem para minimizá-los, embora as multidões de aflitos e sofredores se apresentem em desalinho pelas ruas, vielas e campos do mundo… Todavia, aqueles que são ocultos, que poucos percebem, estiolando os sentimentos mais belos do indivíduo, esses esperam mãos compassivas e corações pacientes para auscultá-los e escutar-lhes os gemidos dilaceradores que as mortificam.   Nem sempre ou quase nunca a tarefa é fácil. Alguns seres se encontram tão doentes moralmente e tão descrentes da Caridade, que se fazem agressivos, difíceis de serem ajudados, exigindo paciência perseverante e desinteressada para alcançá-los. Outros tantos, através das suas reações afetivas encolerizadas, constituem prova áspera que a paciência deverá suplantar com bondade e compaixão.

Quanto mais doente, mais atendimento paciente necessita a ave humana ferida no seu voo de crescimento interior… Nem sempre é fácil entender o desespero de outrem, quando não se experimentou algo semelhante.   São muitos os fatores de aflição, desde pequeninas dificuldades até às exaustivas e quase insuportáveis expiações, todas exigindo paciência a fim de serem atendidas e solucionadas. A paciência encoraja o ser, porque o ajuda a enfrentar quaisquer situações, tomado pela ciência da paz.   Jesus deu mostras significativas dessa conduta, quando deixou de fazer muita coisa que parecia indispensável e solucionadora. Não Se apressou em iniciar o ministério, senão quando os tempos haviam chegado e as circunstâncias se faziam auspiciosas: aguardou que João, o Batista, O anunciasse e, quando aquele estava quase terminando o ministério, Ele deu início ao Seu conforme o anúncio das velhas profecias. Submeteu-Se a todas as injunções impostas pelas revelações antigas que caracterizariam o Messias. Pacientemente aceitou a observação do Batista que O testificou após o fenômeno da Voz espiritual que se fez ouvida, informando ser este o Filho dileto, em quem Me agrado (1) confirmando a independência entre o Pai e o Descendente.

Jesus viveu a Sua humanidade com singular elevação, suportando fome, dor, abandono e morte sem impacientar-Se, submisso e confiante, ultrapassando todas as barreiras então conhecidas a respeito das resistências humanas, assim tornando-Se um Paradigma (2) a ser seguido, destroçando o que era comum, corriqueiro, banal, fixo em torno dos indivíduos: o limite das suas forças…”

O processo evolutivo não é um parto indolor e tampouco incruento… E porque a dor invariavelmente nos marca a ascese espiritual, faz-se necessária a paciência para suportá-la, buscando, ao mesmo tempo, o entendimento de sua finalidade emancipadora. Daí a oportunidade do texto de Joanna de Ângelis no qual a bondosa e lúcida Mentora nos ensina: “(…) a dor é uma bênção que Deus envia a Seus eleitos… Não vos aflijais, pois, quando sofrerdes; antes, bendizei de Deus onipotente que, pela dor, neste mundo, vos marcou para a glória no Céu.

Sedes pacientes.  A paciência também é uma caridade e deveis praticar a lei de caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste na esmola dada aos pobres é a mais fácil de todas. Outra há, porém, muito mais penosa e, conseguintemente, muito mais meritória: a de perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos do nosso sofrer e para nos porem a paciência à prova.

A vida é difícil, bem o sei; compõe-se de mil nadas, que são outras tantas picadas de alfinetes, mas que acabam por ferir.   Se, porém, atentarmos nos deveres que nos são impostos, nas consolações e compensações que, por outro lado, recebemos, havemos de reconhecer que são as bênçãos muito mais numerosas do que as dores.  O fardo parece menos pesado, quando se olha para o alto, do que quando se curva a fronte para a terra.

Coragem, amigos! Tendes no Cristo o vosso modelo. Ele sofreu muito mais do que qualquer de vós e nada tinha de que Se penitenciar, ao passo que vós tendes de expiar o vosso passado e de vos fortalecer para o futuro.

Sede, pois, pacientes, sede cristãos. Essa palavra resume tudo”.

Rogério Coelho

Referências:
(1) Lucas, 3:17; e
(2) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 625.

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://www.floresefolhagens.com.br/mini-rosas/>. Acesso em 15MAI2022.

Rogério Coelho
Rogério Coelho

Rogério Coelho nasceu na cidade de Manhuaçu, Zona da Mata do Estado de Minas Gerais onde reside atualmente. Filho de Custódio de Souza Coelho e Angelina Coelho. Formado em Jornalismo pela Faculdade de Minas da cidade de Muriaé – MG, é funcionário aposentado do Banco do Brasil. Converteu-se ao Espiritismo em outubro de 1978, marcando, desde então, sua presença em vários periódicos espíritas. Já realizou seminários e conferências em várias cidades brasileiras. Participou do Congresso Espírita Mundial em Portugal com a tese: “III Milênio, Finalmente a Fronteira”, e no II Congresso Espírita Espanhol em Madrid, com o trabalho: “Materialistas e Incrédulos, como Abordá-los?” Participou da fundação de várias casas Espíritas na Zona da Mata Mineira.

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