650 visualizações

Batalhas

junho 20, 2022

Neste instante, batalhas se desenvolvem no mundo espiritual numa luta do bem contra o mal. É bem provável que você, que lê esse texto agora, já tenha ouvido essa frase, pois trata-se de pensamento comum no meio espírita. A mim, pessoalmente, soa estranho se comparar com o que venho aprendendo e é esse exercício que proponho aqui. 

Primeiramente, refuto o termo batalha ou guerra, me parece apenas reflexo da nossa condição de evolução espiritual atual. Ideia clara de espíritos ainda muito pouco evoluídos, todos nós, de que somente confrontos trazem soluções às diferenças. Pensamento ainda pior se considerarmos que em uma guerra ou batalha, como queira, exista vencedor, já que até quem ganha, na minha opinião, já perdeu, apenas por ter aceitado o combate, sem mencionar os inúmeros crimes cometidos durante o embate.

A segunda parte, quando se afirma é que a luta é do bem contra o mal, me parece ainda pior por mais de um motivo. O primeiro é o simples rótulo do “bem” e do “mal” como se só existissem dois tipos de espíritos nesse enorme quintal de Deus. Quem pode, em sã consciência, afirmar que alguém é somente bom e que o outro é somente mal? Lendo qualquer espírito, dos mais evoluídos que já colocaram seus pés entre os encarnados, todos encontravam defeitos em si mesmo, nenhum afirmava ser uma boa pessoa. E falo de nomes como Francisco e Clara de Assis, Gandhi, entre outros. De que lado, então, estariam eles? Do lado do bem ou do mal, na suposta batalha? 

Talvez a resposta simples para essa questão seja que estão do lado do bem os cristãos ou aqueles que, mesmo pertencendo a outras filosofias, militem seus mesmos ideais. Admitindo essa hipótese me grita à mente o exemplo dos cruzados. Cristãos lutando, em nome de Deus, contra o mal e, em nome deste mesmo Deus, cometeram brutais atrocidades e, para ser justo, sofreram as mesmas, causadas pelo lado oposto. E por que isso teria acontecido?

Minha teoria é que ninguém estava certo. Não havia lado bom nem lado mal. Ambos, pelo simples fato de se atacarem, mutuamente, já demonstravam seus inúmeros defeitos. Pode ser duro mas quando ouço a afirmação que me motivou o texto é, precisamente, nas cruzadas que eu penso. Me perdoem o tom jocoso mas só pode ser resquício de espírito que lutou naquela época.

Afinal quem de nós é bom ou mal? Somos todos detentores de defeitos e virtudes, somos todos luz e escuridão e, entre nosso lado bom e o mal, existe uma infinidade de matizes, de atenuantes e agravantes.

Por fim, para quem acredita nessa afirmação, questiono que tipo de espírito bom entra numa batalha “contra” alguém. Supondo que seja real a tal batalha me pergunto se a afirmação “o Amor cobrirá a multidão de pecados” é verdadeira. Será que Jesus e Pedro estavam errados em pronunciá-la? Pode-se “lutar” em nome desse Amor? E se o lado do bem lutar contra o lado do mau estará exercendo esse Amor?

Quando exponho minha opinião assim é claro que estou disposto a ouvir argumentos em contrário e aceitá-las mas, por hora, vou ficar mesmo com as minhas batalhas internas, buscando diminuir minha ignorância e minha teimosia em cometer os mesmos erros, constantemente, diminuir meus maus pendores e aumentar minhas virtudes porque, caso não seja bem sucedido, em uma batalha como a relatada inicialmente eu, jamais, poderia me colocar ao lado dos bons, porque, ao julgar o meu irmão como mau eu me igualaria a ele.

André Tarifa

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://www.izioncc.com/blog-do-pastor/2018/8/1/-nas-batalhas-solitrias-que-voc-cresce>. Acesso em 19JUN2022.

André Luis R. Tarifa
André Luis R. Tarifa

Trabalhador espírita desde os 12 anos de idade, eterno aprendiz, tenho um canal no Youtube onde compartilho meu aprendizado e as belezas da poesia. Atualmente desenvolvo os meus trabalhos no Centro Espírita Mansão da Esperança em São Paulo, SP.

Deixe aqui seu comentário:

Divulgue o cartaz do seu evento espírita.

Clique aqui
Abrir bate-papo
Precisa de ajuda?
Olá! Como podemos ajudá-lo(a)?