A indulgência e os nossos julgamentos

Renato Confolonieri
21/06/2023
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O Evangelho segundo o Espiritismo – no seu Capítulo X-Bem-aventurados os que são misericordiosos – traz importantes lições e alertas acerca do modo como devemos nos comportar diante das atitudes e modos das pessoas, os nossos e os alheios.

Dentre os ensinamentos apresentados estão o esquecimento e o perdão das ofensas, a reconciliação com os possíveis adversários enquanto estamos a caminho com eles, o exame dos nossos defeitos antes de apontar os dos demais, o agir com indulgência para com o próximo.

É exatamente quanto a esse último alerta que se pretende trazer algumas singelas considerações.

Na passagem da mulher supostamente adúltera (João, capítulo VIII, versículos 3 a 11) temos uma das frases mais marcantes do Mestre Jesus, qual seja, “aquele dentre vós que não tiver pecado, atire-lhe a primeira pedra”, ensinando-nos que a indulgência é um dever dentre as criaturas, que não devemos julgar os outros mais severamente do que julgaríamos a nós mesmos, nem condenar no outro o que desculparíamos em nós.

Comentando esse princípio no item 13 do citado Capítulo X de O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec diz que “a censura que se faz à conduta do outro pode ter dois motivos: ou reprimir o mal, ou desacreditar a pessoa cujos atos se critica. Este último ato jamais tem desculpa, pois é fruto de maledicência e maldade. O primeiro pode ser louvável, e mesmo tornar-se, em certos casos, um dever, pois deve resultar um bem, e sem isso o mal nunca seria reprimido na sociedade. E, além disso, não deve o homem ajudar o progresso de seu semelhante? Assim, não seria preciso tomar no sentido absoluto este princípio: ‘Não julgues, se não queres ser julgado’, pois a letra mata, e o espírito vivifica”.

E o codificador vai além, dizendo que “Jesus não podia impedir que se censurasse o que é mal, pois ele mesmo nos deu o exemplo disso, e o fez em termos enérgicos; porém, queria dizer que a autoridade da censura está na razão da autoridade moral daquele que a pronúncia. Tornar-se culpado daquilo que se condena no outro é abdicar dessa autoridade; mais que isso, é tirar de si mesmo o direito de repressão…”.

Na parte Instruções dos Espíritos, constante dos itens 19 a 21 do examinado Capítulo X de OESE, o Espírito São Luís faz importantes apontamentos, na forma de respostas a perguntas. No que se refere ao item 20, ao responder à questão “é repreensível observar as imperfeições dos outros, quando não se pode tirar nenhum proveito disso, mesmo não as divulgando?”, esclarece que “tudo depende da intenção. Certamente não é proibido ver o mal, quando o mal existe; seria até inconveniente não ver por toda a parte se não o bem: essa ilusão prejudicaria o progresso. O erro está em fazer que essa observação seja em detrimento do próximo, desacreditando-o desnecessariamente junto à opinião pública. Também seria repreensível fazê-lo apenas para comprazer-se consigo mesmo, num sentimento ao mesmo tempo de malevolência e alegria com o fato de apanhar outros em erro. É bem diferente quando, lançando um véu sobre o mal no que diz respeito ao público, limitamo-nos a observá-lo para dele extrair um proveito pessoal, isto é, para estudar como evitar o que se censura nos outros…”.

Aqui se chega a um questionamento interessante: julgar as atitudes alheias, as pessoas até, seria um ato de pouca indulgência, seria agir contrariamente à Lei Divina?

Ouve-se muito que o verdadeiro espírita não faz juízo sobre as outras pessoas, pois, agindo assim, não andaria em conformidade com o que o Mestre inesquecível pregava. Ora, não podemos nos esquecer de que Jesus julgava sim as atitudes das criaturas – ou se há de negar que Ele em algum momento chamou os membros do Sinédrio de hipócritas (Mateus, capítulo XXII, versículos 15 a 22; Marcos, capítulo XII, versículos 13 a 17), e os discípulos de homens de pouca fé (Mateus, capítulo VIII, versículos 25 a 27)? Também não podemos desconsiderar o que transcrito há pouco, quando Allan Kardec explicou que “Jesus não podia impedir que se censurasse o que é mal, pois ele mesmo nos deu o exemplo disso, e o fez em termos enérgicos…” (OESE, item 13 do Capítulo X).

O que não se pode deixar de perceber é que o governador planetário sempre agiu de modo a demonstrar indulgência para com todas as criaturas, sempre operou com um fim útil ao progresso da humanidade, nunca perdendo uma oportunidade de nos ensinar as elevadas lições da Vida Maior, através dos seus exemplos, palavras e vivência entre os encarnados da sua época (que é a atual, e assim será pela infinitude dos tempos) – até porque não seria Jesus, o nosso exemplo maior, caso atuasse de outra forma.

Em nenhum momento o Mestre lançou alguma censura a alguém, às imperfeições de alguém, “em detrimento do próximo, desacreditando-o desnecessariamente junto à opinião pública”, como reproduzido antes, ou mesmo com a intenção de se comprazer com o apontamento do mal proceder do próximo, agindo com pouca caridade ou mesmo por maledicência ou malevolência.

Diante disso, tenhamos sempre em mente que devemos sim fazer julgamentos sobre o que seria bom ou mal acerca das atitudes alheias, sobre o que nos é dito pelos outros, até para que tenhamos um senso crítico quanto ao que é correto ou não, com relação ao que está de acordo com a moral elevada proclamada pela doutrina espírita.

O que não podemos fazer é agir com maledicência ou maldade gratuitas, atuar em detrimento do próximo, desacreditando-o desnecessariamente junto aos demais, fazendo-o sem escrúpulos ou com a intenção rasteira de denegrir a criatura. Esse sim seria um comportamento contrário à caridade e à moral cristã.

Renato Confolonieri

 

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