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Peticionários iníquos

janeiro 9, 2024

Ambas as palavras usadas no título, formando uma expressão, são pouco usadas. Não é de uso comum no cotidiano dos diálogos ou em exposições verbais e mesmo escritas.

Peticionário é palavra de uso mais comum no meio jurídico e refere-se àquele que formula ou faz uma petição ou um requerimento. Já iníquo é um adjetivo contrário à equidade, ao que é justo, significando também mau, perverso, malévolo. Vale ainda ampliar essas significações, trazendo também o conceito de equidade, já citada: virtude de quem ou do que (atitude, comportamento, fato etc.) manifesta senso de justiça, imparcialidade, respeito à igualdade de direitos. Ou, em síntese, julgamento justo. 

Portanto, a expressão que usamos como título traduz diretamente que:  A iniquidade é a falta de equidade, e a justiça revoltante. O iníquo é o homem perverso, criminoso, seja ele juiz, doutor, nobre, rico, pobre, rei. (primeiro parágrafo do texto original que motivou a presente abordagem e que identificamos mais abaixo).

Um parágrafo, todavia, quase no final do mesmo texto chamou minha atenção. Diz o autor:

Antigamente havia juízes iníquos; hoje, pode-se dizer que nem só os juízes, mas até os peticionários são iníquos!

Impressionante como ainda nos falta um exato senso de justiça. Natural, todavia, considerando nosso estágio de aprendizado individual e coletivo. Muitas demandas e disputas judiciais poderiam ser evitadas não fosse a prevalência do interesse pessoal – em muitas circunstâncias movidas pelo egoísmo e pelas paixões, sem a consciência do coletivo. Isso não significa, em absoluto, que não haja demandas justas e, muitas vezes, necessárias. 

Muitas petições apresentam caráter de vinganças, de perseguições, de interesses outros que nem temos condições de dimensionar, tal a perversidade ainda reinante em muitas consciências. Critica-se decisões judiciais – onde podem ocorrer equívocos e graves erros de interpretações ou mesmo interesses, mas a figura do peticionário corroído pela maldade nem sempre é lembrada. 

É tema, pois, de grande atualidade, considerando a grande demanda judicial que se acumula nos fóruns e cartórios, apesar da facilidade virtual que hoje utilizamos largamente.

O fato, porém, é que esses raciocínios são oriundos da Parábola do Juiz Iníquo, anotada por Lucas (XVIII, 1-8.), que Cairbar Schutel incluiu em seu importante livro Parábolas e Ensinos de Jesus

A parábola refere-se a um juiz que não fazia justiça, que não respeitava ninguém, e para livrar-se de uma viúva que o buscava com insistência para resolver uma pendência, resolveu atendê-la. Mas apenas para livrar-se dela, como já destacado.

E Cairbar com sua perspicácia de raciocínio, estudando a parábola, destaca:

“(…) De modo que a demora do despacho na petição da viúva foi causada pela iniquidade do juiz. Se este fosse equitativo, justo, reto, de bom caráter, cumpridor de seus deveres, a viúva teria recebido deferimento de seu pedido com muito maior antecedência.
Seja como for, o despacho foi dado, embora a custo, após reiteradas solicitações, importunações cotidianas, e o juiz, apesar de iníquo, para não ser “amolado”, resolveu a questão. (…)”

E continua:

“(…) Se a justiça, embora demorada, se faz na Terra até contra a vontade dos juízes, como não há de ser ela feita pelo supremo e justo juiz do Céu?
A deficiência não é, pois, de Deus, mas sim dos homens, mormente na época que atravessamos, em que o Filho do Homem bate a todas as portas, inquire todos os corações e os encontra vazios de fé, vazios de crença, vazios de amor a Deus, vazios de caridade! (…)”

E quase concluindo o curto capítulo:

“(…) A iniqüidade lavra como um incêndio devorador, aniquilando as consciências e maculando os corações: homens iníquos, lares iníquos, sociedade iníquas, governos iníquos, leigos iníquos, sábios iníquos;(…)”

O que faz surgir, claro, os peticionários iníquos, igualmente. 

Somente com a sabedoria do Cristo, destrói-se a iniquidade, fazendo desaparecer os iníquos.

A Doutrina de Jesus é toda de amor. Completa na orientação humana, é capaz de extinguir as petições indevidas, movidas por vinganças ou paixões, melhorando o ambiente dos relacionamentos humanos, para extinguir a chaga de iniquidade.

Sugiro ao leitor ler e meditar sobre a esquecida parábola.

Ela também tem muito a nos ensinar. 

Orson Peter Carrara

Orson Peter Carrara
Orson Peter Carrara

Expositor espírita, tem percorrido muitas cidades do Estado de São Paulo e já esteve na maioria dos estados do país, por várias vezes, para tarefas de divulgação espírita. Articulista da imprensa espírita, tem colaborado com diversos órgãos da imprensa espírita, entre revistas, sites e jornais do país, além de boletins regionais, no país e no exterior. Autor de treze livros, seus textos caracterizam-se pela objetividade e linguagem acessível a qualquer leitor, estando disponibilizados em vários sites de divulgação espírita.

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