cairbar schutel

26 visualizações

Cairbar Schutel e a Divulgação do Espiritismo

setembro 2, 2024

Pelos dados históricos que temos acesso, o primeiro veículo de divulgação pública do Espiritismo que se tem conhecimento de maior alcance foi o periódico lançado em 21 de janeiro de 1883 com o nome de Reformador, que passou a ser o veículo oficial de todo o movimento espírita da época. Era impresso como um jornal, com quatro páginas de texto, formato que conservou até dezembro de 1902, quando foi editado em formato de revista pela FEB. O jornal, então com pequena tiragem, vinha a público quinzenalmente.

O serviço de divulgação da doutrina espírita era muito acanhado e restrito aos grandes centros urbanos, até porque, boa parte da população era analfabeta. Com a Proclamação da República, foi incentivada a tradução e publicação para o português de todas as obras em língua estrangeira, acontecimento que facilitou a divulgação do Espiritismo, estimulando o acesso à Codificação Espírita em português, pois a maioria das obras eram em francês.

No ano de 1889 na cidade de São Paulo não havia banca de jornal nos lugares públicos. A entrega se fazia de casa em casa, de porta em porta.

Antônio Gonçalves da Silva, distribuidor do “Correio Paulistano”, muito ativo, correndo daqui para acolá, foi apelidado “o batuíra”, nome que o povo dava à narceja, ave pernalta muito ligeira, típica dos rios e brejos. Acabou se tornando o agente exclusivo de distribuição do “Reformador” até 1900.

Em 13 de agosto de 1896 chegou no povoado de Senhor Bom Jesus das Palmeiras do Matão um jovem prático de farmácia que ficou conhecido como “Bandeirante do Espiritismo”, devido ao empenho com que se dedicou à divulgação do Espiritismo ao longo de sua vida, se estendendo pelas regiões vizinhas, era Cairbar de Souza Schutel.

Cairbar Schutel ficou conhecido por propagar a Doutrina Espírita por meio de textos e artigos em jornal, revistas, livros e até no rádio. Contribuiu na elevação do povoado de Matão para emancipação política do município.

O trabalho no setor doutrinário e assistencial, assim como a divulgação da Doutrina Espírita foram grandes alavancas para tornar o Espiritismo mais conhecido naquela região, no interior do país, conhecido como Sertão, para muitos viajantes.

Muitos anos antes do nascimento de Chico Xavier, Cairbar recebeu o título de “O Pai dos Pobres da cidade de Matão”, pois dava remédio de graça aos carentes e utilizava sua própria casa para acolher doentes.

A 15 de julho de 1905 fundou o atual Centro Espírita “O Clarim”, o primeiro centro espírita em toda região daquela zona paulista. No mês seguinte, fundou o jornal espírita “O Clarim” em 15 de agosto, em formato de tabloide reduzido e mais tarde se ampliando. Sem sombra de dúvida depois do Reformador, foi o jornal espírita de maior projeção e divulgação da época, pois o Reformador já havia deixado de ser editado como tabloide, passando a circular como revista nesse mesmo período.

Com o passar dos anos ao longo da sua história, o Clarim ganhou uma projeção nacional. Atualmente em formato de papel e digital, permite seu acesso por meio de várias plataformas. Nesse mês de agosto/2024 está completando 119 anos de circulação, muitos são os assinantes que acompanham o editorial e as colunas!

Após vinte anos do lançamento do Clarim, em 15 de fevereiro de 1925, Cairbar Schutel fundou com o auxílio moral e recursos materiais de um amigo a Revista Internacional de Espiritismo (RIE), publicação mensal dedicada aos estudos dos fenômenos anímicos e espíritas, assim como estudos doutrinários de relevância para o meio espírita. Da mesma forma que o jornal, a revista circula em formato de papel e digital, facilitando a leitura e o estudo para o meio espírita tanto dos já conhecedores do assunto como dos iniciantes, alcançando projeção até fora do país.

Tentando contemplar todos os meios de comunicação da época no processo de divulgação doutrinária, ocorre de forma arrojada e inovadora no período de 19 de agosto de 1936 a 02 de maio de 1937, sempre aos domingos, as palestras radiofônicas, conhecidas como as quinze “Conferências Radiofônicas”, através da Rádio Cultura PRD-4, de Araraquara, publicadas em livro no mês de setembro de 1937. Não podemos nos esquecer que o rádio nasceu no Brasil oficialmente, quinze anos antes, nas comemorações do centenário da Independência, com a transmissão, à distância e sem fios, da fala do presidente Epitácio Pessoa na inauguração da radiotelefonia brasileira.

Na época muitos acharam que não teria visibilidade ou audiência, pois o rádio era um artigo de luxo e poucas eram as pessoas que possuíam luz elétrica em casa, tanto no interior do país, como até na capital.

Um acontecimento épico e visionário para a época. Na primeira metade da década de 1930, Chico Xavier começou a se tornar conhecido no meio espírita, quando Manuel Quintão vai até Pedro Leopoldo conhecer o jovem médium, abrindo as portas da FEB para editar seus primeiros livros.

Não é difícil de perceber em um estudo histórico o quanto Cairbar Schutel foi precursor e propagador do Espiritismo no interior do país, numa época que seu trabalho foi considerado como desbravador em um país onde os meios de comunicação eram precários, abrindo canais facilitadores para que outros tivessem mais facilidade na divulgação doutrinária.

Na lápide onde seu corpo foi sepultado na cidade de Matão, está gravada a célebre frase:

“Vivi, vivo e viverei, porque sou imortal”.

Ele é conhecido nos meios espíritas como o “Apóstolo de Matão” ou “Bandeirante do Espiritismo”. Um verdadeiro sertanista em nome do Espiritismo daquela zona paulista e de regiões circunvizinhas.

Eder Andrade

Referências:
(1) Sestini, Gerson; O Sertão os esperava (Um tributo a Cairbar Schutel); Ed. Celd.;
(2) Zuculoto, Valci Regina Mousquer; A História do Rádio Público no Brasil; Intercom; e
(2) Wikipédia (Enciclopédia livre).

Eder Andrade
Eder Andrade

Professor de História e Sociologia, frequentador do Centro Espírita Consolador, no Rio de Janeiro, RJ.

Deixe aqui seu comentário:

Divulgue o cartaz do seu evento espírita.

Clique aqui