generosidade

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Lucubrações sobre a generosidade

setembro 6, 2024

 

“Nunca tivemos, como agora, tanta abastança e penúria, tanta inteligência e discórdia! Tanto contraste doloroso, tão só por olvidarmos que ninguém é feliz sem a felicidade dos outros… Desprezamos a sinceridade e caímos na ilusão, estamos ricos de ciência e pobres de amor. É por isso Mestre, que, em te lembrando a humildade, nós te rogamos para que nos perdoes e ames ainda… Se algo te podemos suplicar além disso, desculpa o nada que te ofertamos, em troca do tudo que nos dás e faze-nos mais simples!…
(Emmanuel/Chico Xavier, in Antologia Mediúnica do Natal.)

Nestes tempos de tantas e inauditas provações, as palavras de Emmanuel revestem-se de indiscutível importância para o ser humano, estimulando-nos à compreensão e à vivência da generosidade, atributo que resume as mais sublimes ações que podemos devotar ao próximo.

A generosidade, segundo conceituam os dicionários, é a qualidade dos que se dispõem a sacrificar seus próprios interesses em favor de outrem, por espírito de renúncia e abnegação, sem esperar ser recompensado. Simone de Beauvoir (1908-1986), filósofa, intelectual, escritora e uma das mais admiradas pensadoras do século passado, definia a generosidade de modo bastante contundente, sem meias palavras, sobretudo quando se dispunha a falar sobre o que considerava a “generosidade verdadeira”. Reproduzindo suas palavras, “esse sentimento leva as pessoas a darem tudo de si e, ainda assim, ficar com a sensação de que não lhes custou nada”. Já René Descartes (1596-1650), filósofo, físico e matemático francês, um dos personagens mais importantes da história do pensamento ocidental, a entendia como “a chave de todas as outras virtudes e um remédio geral para lidar com os desregramentos das paixões”. Sintetizando esse pensamento, a Victor Hugo (1802-1885), célebre romantista autor, entre diversas outras obras clássicas de fama e renome mundial, de Os miseráveis e O corcunda de Notre-Dame, é atribuída a seguinte frase: “A mente se enriquece com aquilo que recebe, o coração, porém, com aquilo que dá”.

Independente de qualquer outro entendimento, no entanto, o que é consensual é que a generosidade não se limita ao provimento de bens materiais, estendendo-se também ao emocional. É claro que chamam a atenção, pela sua imprescindibilidade social, os grandes gestos de filantropia, individuais ou coletivos, alcançando pessoas e comunidades inteiras. Mas, em essência, ser generoso é acrescentar algo ao próximo, doar-se antes de doar.

Práticas cotidianas simples atestando este fato ocorrem numa infinidade de situações. Gestos como o do morador de um condomínio que cede a vaga da garagem, a que tem direito, em favor de outro com dificuldade para manobrar seu veículo; o das pessoas dadas à prática de atitudes altruístas, como a doação de sangue; o daqueles que respeitam as limitações físicas, emocionais ou comportamentais do semelhante, quiçá incentivando-o a superar suas dificuldades; ou, ainda, o da viúva e sua singela doação diante do gazofilácio, gesto louvado por Jesus (Luc 21: 3-4): “Afirmo-lhes que esta pobre viúva ofertou mais do que todos os outros, pois deram do que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver”.

Finalizando, não custa lembrar que antropólogos e psicólogos evolucionistas dão como certa a existência de traços de generosidade já entre nossos primeiros ancestrais, de quem a espécie humana teria herdado (assim como a inclinação para a guerra e a violência) impulsos para a sua prática. Aliás, o que teria sido “crucial para suas chances de sobrevivência, o que os incentivava a agir, mesmo que instintivamente, de forma coletiva e em benefício uns dos outros”. (Em tempo: surpreendentemente, esse comportamento retroagiria aos nossos ancestrais não humanos! Para os mais céticos talvez fosse o caso de lembrar ainda os incríveis “impulsos de generosidade” observáveis na natureza, disseminados entre animais domésticos e animais silvestres…) Viva Kardec! Viva a Doutrina Espírita.

Eurípides Alves da Silva

Eurípides Alves da Silva
Eurípides Alves da Silva

Professor universitário (aposentado pelo Depto. de Matemática do Ibilce/Unesp, de S. J. Rio Preto - SP). Nascido em berço espírita (no ano de 1946, no município de Macaubal - SP), começou a frequentar mais assiduamente e a assumir atividades doutrinárias numa instituição espírita só no ano de 1968 (no então Instituto Espírita Nosso Lar - Ielar, de Rio Preto). Logo depois, com um grupo de colaboradores, passou a frequentar o Centro Espírita Rodrigo Lobato (ainda na rua Rubião Junior). Em 1975, com a transferência de sua sede para a rua D. Pedro I, assumiu a direção da Casa, entre outras atividades doutrinárias e gerenciais. Desde o final da década de 1960 tem colaborado com instituições espíritas da cidade e da região, como palestrante e como redator de artigos junto a periódicos espíritas. Atualmente, ainda ligado ao Lobato, tem procurado limitar suas contribuições a Centros Espíritas da cidade.

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