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A Capacidade de Autossuperação

outubro 1, 2024

Muitas pessoas acreditam que as condições socioeconômicas e culturais podem influenciar decisivamente num processo de mudança de ponto de vista e de transformações na vida de um indivíduo, porém nem sempre acontece do jeito que imaginamos.

Ao longo da História da Humanidade muitas pessoas mudaram sua posição social de vida para ingressar em uma jornada de profundas transformações de ordem moral, abrindo mão da vida material e dos prazeres que ela proporciona.

Entre os casos mais conhecidos da história religiosa da Cristandade, vamos comentar sobre a vida de Saulo de Tarso, sumo-sacerdote hebreu e Maria de Magdala, uma das poucas mulheres que, de acordo com os quatro evangelhos, viajou e acompanhou Jesus.

Dois personagens que viveram na mesma época e tiveram histórias de vida muito diferente, mas tomaram decisões parecidas por terem sido sensibilizados pela mensagem da Boa Nova propagada pelo Cristo.

Saulo de Tarso era um judeu que cresceu na cidade de Tarso. Era dotado de um intelecto incomum, tinha uma grande facilidade de estudar as escrituras do Velho Testamento. Foi para Jerusalém e passou a estudar com Gamaliel, rabino influente, que como seu preceptor vai ajudá-lo a tornar-se um sacerdote e depois sumo sacerdote em Jerusalém. A fama de Saulo se espalhava. Seu poder de oratória era único, ele conseguia fazer interpretações sobre as Leis Mosaicas como nenhuma outra pessoa conseguia fazer.

Maria de Magdala era proveniente de uma vila na Costa Ocidental do mar da Galileia, uma cidade de pescadores. Embora o evangelho de Marcos, considerado pelos estudiosos como o mais antigo, não menciona Maria de Magdala até a crucificação de Jesus. Foi ela uma das suas seguidoras e testemunha da sua crucificação e ressurreição.

A representação de Maria de Magdala como prostituta começou por volta do séc. VI, quando o Papa na época a identificou como uma mulher pecadora, sem nome, que ungiu os pés de Jesus. Passou então a ser vista como uma prostituta arrependida ou uma mulher promíscua. Fontes de consulta medievais contavam exageradas histórias de riqueza e beleza de Maria de Magdala.

Em 1969, o Papa Paulo VI, removeu a expressão de Maria de Magdala como Mulher Pecadora, na visão histórica como uma ex-prostituta, embora ainda persista na cultura popular. Se realmente foi, não sabemos, mas sua atitude no Vale dos Réprobos no restante da sua vida, de exercício de caridade ao semelhante, é sua melhor lembrança como superação de amor ao próximo.

Buscando encontrar Ananias e prendê-lo como sumo sacerdote, Saulo realiza uma viagem até Damasco, quando ocorreu um fenômeno, onde teria visto o Cristo que se revelou espiritualmente para ele, produzindo-lhe uma transformação impressionante. A partir daquele momento Saulo não seria mais o mesmo. Algo havia tocado o âmago do seu coração.

Da mesma forma que segundo as histórias lendárias nos contam, Maria de Magdala era uma cortesã assediada por muitos homens nas adegas de Jerusalém e perseguida por vários obsessores. O Cristo percebendo seu sofrimento a acolheu, realizando um lento processo de desobsessão, na medida em que ela participava da divulgação da Boa Nova juntamente com os outros apóstolos e seguidores.

Tanto Saulo como Maria de Magdala tinham algo em comum, desejavam estar em paz com sua consciência, conseguindo lidar melhor com o sofrimento interior de acordo com suas histórias de vida. Esse foi o ponto crucial, a busca pela paz interior.

Histórias de vida parecidas que se entrelaçam, quando os personagens passam por uma catarse de emoções reprimidas, proporcionadas pelo magnetismo curador do Cristo. Esse fenômeno permitiu que ambos personagens acessassem antigas lembranças de compromissos que ainda poderiam ser realizados na atual encarnação, como a Reforma Íntima e uma mudança de conduta para consigo e com o próximo.

Muitos se modificaram na presença do Cristo, como as crianças que Jesus acolheu, quando disse:

“Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o reino dos céus é para os que se lhes assemelham. – Digo-vos, em verdade, que aquele que não receber o reino de Deus como uma criança, nele não entrará”.

– E, depois de as abraçar, abençoou-as impondo-lhes as mãos. 

(Marcos – 10:13 a 16.)

O processo de transformação moral é muito lento e individual, o que faz sentido a um, nem sempre faz sentido aos outros. Tanto Saulo de Tarso como Maria de Magdala eram espíritos atormentados por questões pessoais. Ele, pela presunção de ser o Doutor da Lei e com o dever moral de reprimir manifestações contrárias à religião oficial e Maria de Magdala, uma mulher atormentada pela sensualidade e por possíveis processos obsessivos.

Ambos doaram suas vidas pela divulgação da Boa Nova, cada uma dentro das suas possibilidades e limitações. Saulo de Tarso realizou quatro viagens pelo Mediterrâneo Oriental propagando o Cristianismo e fundando igrejas enquanto Maria de Magdala resolveu se dedicar aos réprobos do Vale dos Leprosos, próximos a Jerusalém pelo resto da sua vida, em um local onde poderia ser útil e ninguém a iria julgar pelas suas possíveis atitudes anteriores.

Façamos aquilo que está ao nosso alcance, a cada um de acordo com suas obras, pois o processo e acerto de contas com a nossa consciência é algo muito particular, para cada um de nós.

Éder Andrade

Referências:
(1) Xavier, Francisco Cândido; Paulo e Estevão; FEB;
(2) Paulo, Apóstolo de Cristo (Netflix);
(3) Xavier, Francisco Cândido. Boa Nova; Cap. 20 – Maria de Magdala; Ed. FEB;
(4) The Chosen – Os Escolhidos (Netflix); e
(5) Wikipédia (A Enciclopédia Livre).

Eder Andrade
Eder Andrade

Professor de História e Sociologia, frequentador do Centro Espírita Consolador, no Rio de Janeiro, RJ.

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