Pai nosso

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Pai nosso que estás nos Céus

outubro 27, 2024

A conhecida Oração dominical, sugerida por Jesus como modelo para nos dirigirmos a Deus, representou, à época, um avanço significativo ao entendimento que os povos faziam da divindade, sendo hoje utilizada por uma multidão de religiosos.

No passado, muitos criam haver diversos deuses, outros que estes deuses se satisfaziam com sacrifícios e oferendas e quanto mais elaboradas fossem mais benefícios proporcionariam aos ofertantes, ainda havia aqueles que os invocavam para uma possível proteção nos muitos conflitos criados entre as civilizações, acreditava-se também que as calamidades meteorológicas devastando as colheitas ocorriam como punição dos deuses aos muitos pecados dos crentes, ou seja, a humanidade ainda estava em busca de uma justa compreensão sobre Deus e, em função da ignorância, sentimento de orgulho de raças e do egoísmo ainda enraizado nos corações dos devotos, havia necessidade de uma proposta simples, direta, sem elementos outros que não os da adoração e do respeito Àquele que nos criou e mantém a vida.

A concepção de Deus era tão obtusa que durante um conflito bélico, acontecendo a todo momento, cada nação em guerra orava para o seu deus ou deuses e pedia a vitória sobre seus inimigos, o que diante do novo entendimento de Pai, torna-se uma rogativa inaceitável e incompreensível, pois, em última instância, o que se pedia era para ser eficaz em matar o máximo de seus oponentes e, se possível, destruir a cidade sede do povo inimigo, um absurdo.

A substituição, pela figura de um Pai, da imagem guerreira, ciumenta, parcial e para alguns vingativa que se fazia de Deus, foi surpreendente, retirou da divindade os atributos mesquinhos que ainda nos caracterizam e que havíamos imaginado que os deuses precisariam igualmente possuir, sob pena de não haver empatia entre os crentes e o Criador, afinal, com as nossas incontáveis máculas morais, uma divindade perfeita estaria muito distante das expectativas do homem comum, Deus precisava ser imperfeito como nós ainda somos.

Assim, o novo Deus visto agora como Pai de todos, pode ser adorado e louvado por: judeus, gentios e fariseus, ricos e pobres, reis e vassalos, senhores e seus escravos, independe da raça ou etnia, do idioma, condição social…

Esta verdadeira revolução no entendimento propiciou que todos se vissem como irmãos, afinal o agora Pai é comum, e não mais como inimigos e competidores pelos bens e dádivas da Terra, merecedores da atenção exclusiva de seu ou de seus particulares deuses.

É de se notar que o Cristo ainda manteve a ideia dos muitos Céus, conceito amplamente difundido no ambiente hebreu, embora Ele soubesse que mais tarde, quando da vinda do outro Consolador, a noção de Céu se perderia, bem como a do Inferno, ainda bem, pois no espaço não há alto nem baixo, norte ou sul, o Cosmo não é estratificado estabelecendo camadas onde se localizam os diversificados Céus como acreditava o pensamento de então, ainda quase infantil. No lugar de estás nos céus, poderíamos substituir por estás no espaço, no Cosmos, no Universo, ou expressão equivalente.

Dentro de sua singeleza, aponta para a submissão do crente aos poderes infinitos de Deus, quando sugere que Deus está em todos os lugares, os muitos céus, embora, hoje saibamos que eles não existem e nunca existiram.

Fato marcante nesta proposta é que podemos nos relacionar diretamente com a Divindade, prescindindo de intermediários como alguns segmentos religiosos apregoam, mantendo seus fiéis atrelados a ideia de que para falar com Deus, é preciso alguém especial, preparado para tanto.

Enxergando a divindade como um Pai, os filhos devem se acalmar diante das incertezas da vida, pois Ele está acompanhando toda a sua criação e não seria razoável que nos julgássemos desprezados ou mesmo esquecidos, acreditando que ele não nos observa e, como Pai tudo de bom deseja aos seus filhos.

É possível que, quando orarmos sozinhos, a substituição de Pai nosso por meu Pai seria plenamente aceitável. A primeira é mais usual para ambientes coletivos, uma oração proferida em um salão ou assembleia, por exemplo.

Espera-se que com esta visão revolucionária a propósito do Criador apresentada por Jesus, esta humanidade encontre em breve tempo o equilíbrio tão necessário para lidar equilibradamente e sem preconceitos com os diversos credos, ainda tão necessários ao atendimento das diferentes formas ainda presentes de se adorar e entender o Pai de todos.

Rogério Miguez

Rogério Miguez
Rogério Miguez

Trabalhador da Doutrina Espírita desde a Mocidade, tendo atuado no estado de Rio de Janeiro em algumas Casas e, atualmente, em São José dos Campos/SP nos Centros Amor e Caridade, Jacob e Divino Mestre. Colabora em Cursos, Exposições, Atendimento Fraterno e Passes, sendo articulista dos periódicos Reformador e Revista Internacional de Espiritismo.

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