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Divulgação espírita na atualidade

setembro 11, 2016

rogerio-miguez-menorDesde tempos remotos, a Espiritualidade superior tem se mostrado muito preocupada com a questão dos falsos profetas. Tudo indica que Espíritos ainda em evolução, como nós, tendemos a acreditar e seguir mensageiros de teorias espantosas e maravilhosas. Parece também que, por força de atavismos seculares, ainda aceitamos ideias absurdas. Podemos mesmo dizer que as procuramos, tão logo surjam aqui ou ali. Vários textos nos livros do Novo testamento são uma prova inequívoca desta preocupação, tanto de Jesus quanto dos apóstolos.

Estranhamente, passados períodos de tanta incerteza, onde buscávamos líderes religiosos, profetas, magos, bruxos, gurus e toda sorte de personagens de destaque dentro da comunidade, para nos orientar como devíamos nos relacionar com Deus, aportamos no século XXI, aparentemente com as mesmas inclinações.

Após a missão de Allan Kardec, de alta responsabilidade, com o objetivo de trazer a Terceira Revelação para a humanidade, ainda vemos os que se deixam levar pelo tão conhecido canto da sereia, abdicando da sua capacidade de pensar e discernir, esquecendo-se de ler para saber e conhecer, pesquisar, estudar obras realmente espíritas, de preferência, as de Allan Kardec.

Depois da vinda de inúmeros mensageiros escolhidos especialmente para nos ajudar a melhor entender as leis de Deus, em consonância com Allan Kardec, tais como: Zilda Gama, Yvonne Pereira, Chico Xavier e Divaldo Franco, entre tantos outros, surgem médiuns a veicular doutrinas e opiniões personalíssimas da lavra de pretensos sábios Espíritos. Passamos, então, a citar, estudar e divulgar os verdadeiros falsos Cristos, exatamente aqueles que, no passado, tanto nos recomendaram não seguir.

Alguns diriam que o aparecimento de tanta literatura falsa, de uma hora para outra, seria o último ataque dos Espíritos perturbadores, nesta importante fase que o planeta atravessa. Mas, a responsabilidade pela implantação desta realidade caberia exclusivamente a esses Espíritos embusteiros e seus fascinados médiuns que, em um verdadeiro conluio, trazem as suas propostas estranhas? Não nos caberia também uma parcela na formação desta realidade?

Existe um princípio econômico estabelecendo que a oferta seja proporcional à procura, visto que, se não há procura, não deve haver oferta. Talvez, seja este um dos mecanismos dominantes no fato aqui em exame. Procuram-se avidamente as luzes bruxuleantes das falsas doutrinas, para “autoiluminação” e ”autoajuda”, tais quais mariposas desavisadas, em busca da luz artificial. Será que as bases doutrinárias, que representam a luz verdadeira, por força da mudança de condição do planeta, precisariam se adequar a novos padrões, a novas teorias? – A razão não o confirma, impondo-se, portanto, a necessidade de se voltar urgentemente ao estudo metódico dos livros da Codificação de Allan Kardec.

Esta Doutrina, que é dos Espíritos, ficará conosco por muito tempo, pois a natureza não dá saltos, e nos encontramos até agora em processo de entendimento da Doutrina, preparando-nos para bem aplicá-la.

O estudo de O Livro dos Médiuns tem sido frequentemente preterido por literaturas quase infantis em suas propostas, que não resistem à mais leve análise doutrinária. Contudo, estas literaturas têm feito seguidores e divulgadores ferrenhos que, ao deixarem de estudar o guia sobre mediunidade, escrito por Allan Kardec, ficam expostos a toda sorte de ataques. O resultado não pode ser promissor, visto que, na primeira novidade de um mistificador, devido ao despreparo e desconhecimento da Doutrina Espírita, aceitam-na e passam a difundi-la como se fosse a mais pura verdade.

Alguns chegam mesmo a defender a venda de livros sabidamente pseudoespíritas, considerando fatores econômicos. Será que os fins justificariam os meios? Certamente, Allan Kardec, o bom senso encarnado, não aprovaria tal procedimento. Por outro lado, livros com propostas conhecidamente contrárias ao Espiritismo devem ser lidos e entendidos, pois nos permitem solidificar a crença que detemos.

Contudo, como distinguir a verdadeira da falsa doutrina? Certamente, não seria observando os índices para Catálogo Sistemático, que constam na contracapa dos livros, visto que o autor e seu editor, quando não são os mesmos, ali colocam o que desejam, e se o autor é um falso profeta, que tenciona adulterar a Doutrina, obviamente informará que o livro trata de Espiritismo. Não, não pode ser este o critério, o bom senso e a razão assim o dizem.

A Doutrina Espírita, oferecendo-nos vários benefícios, nos trouxe esclarecimentos dos Espíritos superiores. Se Allan Kardec, ao longo de anos de trabalho, teve o cuidado de nos apresentar os fundamentos, devemos estudá-los sistematicamente, aprofundadamente, antes de nos aventurarmos nas “modernidades”. Para tanto, a formação de grupos de estudo é uma prática muito salutar.

Argumenta-se ser perfeitamente possível distinguir o que é bom do que é ruim dentro da literatura apócrifa, que é possível separar o joio do trigo, por isso, citam-se, estudam-se e divulgam-se livros não espíritas, como se o fossem. Paulo já nos advertiu “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém” (1 Coríntios, 6:12).

Assim, se desejamos estudar a pseudoliteratura espírita, no exercício de nossa liberdade, estudemos, mas não divulguemos nem dela façamos apologia, pois outras pessoas, sob nossa influência, virão a estudá-la também e, sem possuírem a base doutrinária que nelas supomos existir, certamente cairão, desavisadas, nas armadilhas dos lobos travestidos em pele de cordeiro. Aí está a grave responsabilidade que cria para si mesmo quem divulga teorias absurdas.

O capítulo XXI de O Evangelho segundo o Espiritismo trata desta questão. Nele, Erasto, o discípulo de Paulo, Espírito que na época do surgimento do Cristianismo já evidenciava a sua estatura moral e ética, se preocupou sobremaneira em mais uma vez nos alertar sobre o aparecimento dos falsos Cristos:

Desconfiai, pois, dos falsos profetas, máxime numa época de renovação, qual a presente, porque muitos impostores se dirão enviados de Deus. Eles procuram satisfazer na Terra à sua vaidade […]. (1)

E mais:

Os falsos profetas não se encontram unicamente entre os encarnados. Há-os também, e em muito maior número, entre os Espíritos orgulhosos […]. E, para melhor fascinarem aqueles a quem desejam iludir, para darem mais peso às suas teorias, se apropriam sem escrúpulo de nomes que só com muito respeito os homens pronunciam. (2)

Erasto, agora em Revista Espírita, acrescentou:

[…] recorrerão a todos os meios para semear a divisão entre vós […]. Tereis de lutar não só contra os orgulhosos […] mas, ainda e principalmente, contra a turba dos Espíritos enganadores, que encontrando em vosso meio uma rara reunião de médiuns […], logo virão assaltar-vos […] com comunicações abertamente hostis aos ensinos dados pelos verdadeiros missionários dos Espíritos de Verdade. Ah! crede-me, não temais desmascarar os velhacos que, novos Tartufos, se introduziriam entre vós sob a máscara da religião […]. (3)

Revisitemos Allan Kardec:

[…] o Espiritismo sério patrocina com satisfação e zelo toda obra feita em boas condições, […] mas, por outro lado, repudia todas as publicações excêntricas. Todos os espíritas que se empenham para que a Doutrina não seja comprometida devem, pois, esforçar-se para as condenar […]. (4)

Tal foi a preocupação de Erasto, que sintetizou magistralmente esta questão na frase:

Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. (5)

Contudo, nos parece que, atualmente, esta máxima também poderia ser assim escrita: melhor é não divulgar dez verdades do que divulgar uma única falsidade, uma só teoria errônea.

Rogério Miguez

Referências Bibliográficas:
(1) KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro.130 .ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. Cap. 21, it. 9.
(2)  ______.______. it.10.
(3) ______. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Novembro/1861. Primeira Epístola de Erasto aos Espíritas de Bordeaux.
(4) ______. Viagem Espírita em 1862 e outras viagens de Kardec. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Instruções Particulares dadas aos grupos em resposta a algumas das questões propostas – VI.
(5) ______, O Livro dos Médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 62. Ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1996. Cap. XX. It. 230.

Rogério Miguez
Rogério Miguez

Trabalhador da Doutrina Espírita desde a Mocidade, tendo atuado no estado de Rio de Janeiro em algumas Casas e, atualmente, em São José dos Campos/SP nos Centros Amor e Caridade, Jacob e Divino Mestre. Colabora em Cursos, Exposições, Atendimento Fraterno e Passes, sendo articulista dos periódicos Reformador e Revista Internacional de Espiritismo.

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