
Embaraços
A humanidade está embaraçada na rede tecida com os fios do egoísmo e do orgulho
“Expulsai da Terra o egoísmo, para que
ela possa subir na escala dos mundos.”
Emmanuel (1)
Dois milênios são passados desde que o Mestre Maior, descendo dos Páramos Celestes, legou-nos o luminoso roteiro da emancipação espiritual: o Evangelho!…
Examinando-se o quadro afligente em que se localiza o limitado homem de hoje, tão equivocado, “aflito e afadigado com muitas coisas”, cujo foco de interesse o agrilhoa ao imediatismo materialista, resta-nos indagar: o que tem ele feito da Boa Nova trazida pelo Cristo?
Jesus disse que o Seu Reino não era daqui. Entretanto, o homem vive alheio e indiferente à sua destinação superior, “aproveitando a vida” que julga encerrar-se no túmulo.
Há pouco, uma cantora muito famosa, “raciocinando” dentro dessa estreita visão, chegou mesmo a afirmar: “penso muito na morte, talvez porque eu nada saiba a respeito da vida após a morte. Assim, esforço-me ao máximo para extrair cada gota da vida”. Ora, ela não pensaria assim se atentasse no fato de que Jesus, o vexilário da sepultura vazia, deu-nos a certeza da Vida Futura.
A que se deve atribuir, portanto, o fato de não haver ainda o Cristianismo desempenhado por completo a sua missão?
No capítulo onze, itens onze e doze de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Emmanuel e Blaise Pascal examinam esse tema e dão o diagnóstico: “a humanidade está embaraçada na rede tecida com os fios do egoísmo e do orgulho”.
Analisemos a exposição desses dois Luminares da Codificação: “o egoísmo, chaga da humanidade, tem que desaparecer da Terra, a cujo progresso moral obsta. Ao Espiritismo está reservada a tarefa de fazê-la ascender na hierarquia dos mundos.
O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem apontar suas armas, dirigir suas forças, sua coragem. Digo: coragem, porque dela muito mais necessita cada um para vencer-se a si mesmo, do que para vencer os outros. Que cada um, portanto, empregue todos os esforços a combatê-lo em si, certo de que esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho é o causador de todas as misérias do mundo terreno. É a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à felicidade dos homens.
Jesus vos deu o exemplo da caridade e Pôncio Pilatos o do egoísmo, pois, quando o primeiro, o Justo, vai percorrer as estações do Seu martírio, o outro lava as mãos, dizendo: “que me importa!” Animou-se a dizer aos judeus: “este homem é justo, por que o quereis crucificar?” E, entretanto, deixa que O conduzam ao suplício.
É a esse antagonismo entre a caridade e o egoísmo, à invasão do coração humano por essa lepra que se deve atribuir o fato de não haver ainda o Cristianismo desempenhado por completo a sua missão. Cabem-vos a vós, novos apóstolos da fé, que os Espíritos superiores esclarecem, o encargo e o dever de extirpar esse mal, a fim de dar ao Cristianismo toda a sua força e desobstruir o caminho dos pedrouços que lhe embaraçam a marcha. Expulsai da Terra o egoísmo para que ela possa subir na escala dos mundos, porquanto já é tempo de a humanidade envergar sua veste viril, para o que cumpre que primeiramente o expilais dos vossos corações.
Se os homens se amassem com mútuo amor, mais bem praticada seria a caridade; mas, para isso, necessário fora vos esforçásseis por largar essa couraça que vos cobre os corações, a fim de se tornarem eles mais sensíveis aos sofrimentos alheios. A rigidez mata os bons sentimentos; o Cristo jamais se escusava; não repelia aquele que O buscava, fosse quem fosse: socorria assim a mulher adúltera, como o criminoso; nunca temeu que a Sua reputação sofresse por isso. Quando O tomareis por modelo de todas as vossas ações? Se na Terra a caridade reinasse, o mau não imperaria nela; fugiria envergonhado; ocultar-se-ia, visto que em toda parte se acharia deslocado. O mal então desapareceria, ficai bem certos.
O egoísmo é a negação da caridade. Ora, sem a caridade não haverá descanso para a sociedade humana. Digo mais: não haverá segurança. Com o egoísmo e o orgulho, que andam de mãos dadas, a vida será sempre uma carreira em que vencerá o mais esperto, uma luta de interesses, em que se calcarão aos pés as mais santas afeições, em que nem sequer os sagrados laços da família merecerão respeito”.
É inútil que o homem, ávido dos gozos mundanos procure iludir-se sobre o seu destino nesse mundo, pretendendo ser-lhe lícito ocupar-se unicamente com a sua felicidade. Sem dúvida, Deus nos criou para sermos felizes na Eternidade; entretanto, a vida terrestre tem que servir exclusivamente ao aperfeiçoamento moral, que mais facilmente se adquire com o auxílio dos órgãos físicos e do mundo material.
Hoje em dia para dizer-nos cristão não necessitamos descer aos circos para que as feras famélicas nos devorem; faz-se necessário, porém, que sacrifiquemos o egoísmo, o orgulho e a vaidade e sustentemos nossa fé na ara sagrada da caridade.
O Cristianismo desembaraçado das interpolações e influenciações humanas e desenvolvido pelo Espiritismo poderá finalmente completar a sua missão: elevar o homem em sua hierarquia espiritual, emancipando-o e fazendo-o gravitar para sua superior destinação, plenamente cônscio de sua identificação cósmica…
Isabel de França afirmou: “estão próximos os tempos em que neste planeta reinará a grande fraternidade, em que os homens obedecerão à Lei do Cristo, lei que será freio e esperança e conduzirá as almas às moradas ditosas!”
Rogério Coelho
Referências:
(1) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 125.ed. Rio: FEB, 2006, cap. XI, item 11, § 3.
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